A guerra segundo o pintor Vassíli Verescháguin

 "Apoteose da guerra", 1871.

"Apoteose da guerra", 1871.

Galeria Tretiakov
No epicentro das campanhas militares na Ásia, artista do final do século 19 viveu todas as adversidades da guerra. Suas memórias fundamentaram a famosa "Série do Turquestão", duramente criticada na Rússia.

As montanhas de caveiras, os inimigos triunfantes, as cabeças decepadas de soldados do exército russo, a guerra e suas consequências foram documentadas nas pinturas e desenhos da "Série do Turquestão", do pintor russo Vassíli Verescháguin (1842-1904; também grafado como “Verechagine”, em português). Tudo isso chocou seus contemporâneos e surpreende até hoje.

De militar a artista (e vice-versa)

Verescháguin, 1890, por Pável Jukov.

Vassíli Verescháguin nasceu em 1842, descendente de uma família nobre russa, e sempre foi o sonho de seus pais que ele seguisse carreira militar. Vassíli tinha uma paixão pelo desenho desde a infância, mas não teve pôde ingressar imediatamente na Academia de Artes: aquilo era “vergonhoso”, segundo sua família, escreveu o artista em suas memórias.

No entanto, depois de estudar no Corpo de Cadetes Navais, o obstinado jovem conseguiu entrou para a Academia de Artes, mesmo sem permissão da família. Três anos depois, ele foi estudar pintura em Paris, onde o famoso orientalista Jean-Léon Gérôme foi seu professor. No final dos estudos, ele recebeu uma oferta inesperada na Rússia.

Convite do governador-geral

“Na muralha da fortaleza. Que entrem”, 1871.

O primeiro governador-geral do Turquestão, Konstantin Petrôvitch von Kaufman, convidou Verescháguin, aos 25 anos, para ser seu "artista da corte”. Mais tarde, Verescháguin escreveu que fora lá para ver a verdadeira face da guerra.

"Eu imaginava [...] que a guerra era uma espécie de desfile, com música e sultões esvoaçantes, com estandartes e rugido de canhões, com cavalos galopando [...] e um perigo insignificante, e que apenas alguns morressem", escreveu. O que o pintor viu no Turquestão mudou para sempre suas ideias sobre a guerra.

Ao chegar ali, o artista estudou a vida e os costumes da população local e pintou paisagens e retratos. Após a captura de Samarcanda pelo exército russo, ele foi para lá como parte de uma pequena guarnição. Quando iniciou-se o cerco da fortaleza pelo inimigo e a revolta dos moradores locais, Verescháguin teve que participar das batalhas.

Ele recebeu uma medalha e continuou a participar de outras campanhas militares na região. Durante três anos de serviço militar e viagens pela Ásia, o artista fez centenas de esboços e desenhos. Todos eles formaram a base da famosa "Série do Turquestão", que Verescháguin finalizou depois de se mudar para Munique em 1871.

“Triunfo”, 1872.

Ele trabalhou nessa série por mais de três anos e retratou a verdadeira face da guerra. Ele descreveu suas obras da seguinte maneia: “Levo muito perto do meu coração o que eu desenho e literalmente choro pela dor de todos os feridos e mortos”. A coragem do mestre foi apreciada na Europa, mas condenada em seu país natal.

Exposições da série

A "Série do Turquestão" tem 13 pinturas, 81 estudos e 133 desenhos. Eles foram apresentados todos juntos pela primeira vez em 1873, em Londres. A recepção do público e dos críticos foi calorosa. No ano seguinte, a exposição partiu para São Petersburgo, onde foi incompreendida por suas ideias antibelicistas.

O público esperava ver em seus quadros um triunfante soldado russo marchando vitoriosamente pelas estepes do Turquestão, mas, em vez disso, recebeu uma terrível verdade, cheia de detalhes chocantes, como, por exemplo, as cabeças de soldados russos empaladas em estacas na pintura “Triunfo”, ou uma montanha de caveiras no quadro “Apoteose da Guerra”.

Uma campanha de perseguição do artista iniciou-se na Rússia e ele foi acusado de "trair da pátria" e ser simpático ao inimigo. O desagrado foi expresso pelo imperador Alexandre 2º, enquanto o acadêmico Tiutriumov chegou até mesmo a acusar Verescháguin de criar apenas esboços iniciais, dizendo que as pinturas tinham sido feitas por uma equipe de artistas em Munique.

Ofendido, Vereshchagin, cortou e queimou três pinturas da série: “Na muralha da fortaleza. Entraram”, “Cercado e perseguido” e “Esquecido”.

Mas Verescháguin também encontrou muitos admiradores. Muitas pessoas de São Petersburgo queriam comprar quadros da série, mas Verescháguin insistia em vendê-la apenas em conjunto — e, no final das contas, conseguiu encontrar um comprador que atendesse a suas exigências.

O colecionador Pável Tretiakov adquiriu toda a série e a expôs ao público moscovita. Graças ao fundador da Galeria Tretiakov, as obras da série estão disponíveis até hoje em seu espaço, em Moscou.

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