O Russia Beyond recomenda: ‘A Dama de Espadas’, de Aleksandr Púchkin

Trama

Um alemão étnico chamado Hermann é oficial do Exército Imperial Russo e tem uma paixão reprimida por jogos de cartas: ele gosta tanto do carteado, que observa o tempo todo os outros oficiais jogando cartas, mas nunca entra nas partidas porque não tem dinheiro disponível.

Além disso, como bom alemão ele demonstra uma ardorosa disciplina financeira: não está disposto a arriscar tudo para ganhar aquilo que não tem no momento. Hermann acredita em prudência, moderação e diligência, mas, no fundo, nutre um desejo reprimido por dinheiro rápido e fácil.

Uma noite, um outro oficial conta ao alemão que a avó, uma condessa já idosa, conseguiu obter um segredo místico do Conde Saint-Germain: o das três cartas vencedoras que seriam capazes de triunfar em qualquer carteado. Impressionado com a história, Hermann fica obcecado em descobrir esse segredo.

Para conseguir acesso à condessa, Hermann começa a ir atrás de sua jovem pupila, Lizaveta Ivanovna, que é convencida a deixá-lo entrar na casa uma noite.

Mas, em vez de ir ao quarto de Lizaveta e professar seu amor por ela, como a moça esperava, Hermann se apresenta diante da velha condessa e exige que ela lhe revele o segredo. Quando a velha se recusa, Hermann a ameaça com uma arma descarregada e ela morre de susto.

Hermann foge de casa com a ajuda de Lizaveta, que está desgostosa de descobrir que as declarações de Hermann eram uma cilada.

Temendo represália, Hermann comparece ao funeral. Ao se aproximar do caixão, fica apavorado com a visão que tem: a velha condessa abre os olhos e lança-lhe um olhar maligno.

Naquela noite, Hermann adormece depois de se embebedar. Durante a noite, ele tem uma visão sobrenatural: o fantasma da velha condessa vem até ele e promete revelar o segredo das três cartas se Hermann prometer jogar apenas uma mão todas as noites e se casar com Lizaveta. Hermann concorda e o fantasma revela as cartas vencedoras: três, sete e ás.

Depois de aprender o segredo das três cartas, Hermann se esquece de tudo, menos do jogo. Ele fica obcecado com a combinação de três, sete e ás e leva todas as suas economias para um salão onde se joga faro com apostas altíssimas.

Na primeira noite, Hermann aposta tudo no três e ganha. Na segunda noite, aposta tudo o que tem mais os últimos ganhos no sete e volta a vencer.

Na terceira noite, Hermann volta ao salão e todos param de jogar para vê-lo apostar. Seguindo as instruções do fantasma da velha condessa, Hermann aposta tudo no ás. No entanto, quando abre a mão, vê a rainha de espadas, em vez do ás.

É um eterno enigma para o leitor se Hermann comete um erro acidental ao escolher a dama de espadas ao invés do ás vencedor — confuso com a assustadora semelhança da figura da carta com a velha condessa —, ou se é uma intervenção sobrenatural que troca a carta vencedora pela dama de espadas perdedora.

De qualquer maneira, Hermann perde tudo e foge aterrorizado do salão. Em um breve epílogo, o autor revela que Hermann enlouquece e é internado em um hospício. Os leitores também ficam sabendo que Lizaveta se casada e vive uma vida feliz com um funcionário estatal.

O que há por trás da história?

Aleksandr Púchkin escreveu esta história em 1833 e a publicou no ano seguinte. Este conto sobre a ganância humana e o sobrenatural ganhou enorme popularidade na Rússia e na Europa, inspirando óperas de compositores franceses e russos — entre eles, Piotr Tchaikovski.

Em “A Dama de Espadas”, Púchkin conta uma história sobre vícios humanos como ganância, indiferença e hipocrisia, bem como o desejo de enriquecer sem muito esforço.

A personagem aparentemente disciplinada de Hermann é vítima dos vícios que espreitam em seu coração muito antes de ele ouvir falar sobre a velha condessa e seu segredo. Tentado pela perspectiva de enriquecimento, Hermann parte o coração da jovem e não se arrepende. Ele causa a morte da velha condessa, mas não sente remorso. No final das contas, ele perde tudo por causa de seu egoísmo e ganância.

A história foi inspirada em pessoas que realmente existiram: uma nobre russa chamada Natália Golitsina e seu neto que, reza a lenda, pediu ajuda à avó depois de perder uma muito dinheiro nas cartas. Dizem que a velha revelou ao neto o segredo das três cartas vencedoras que o Conde de Saint-German lhe ensinou e, assim, o salvou.

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