Rússia Imperial. O dramaturgo amador Konstantin Treplev está encenando uma peça que escreveu na propriedade rural de seu tio. Ele convida a filha de um vizinho, Nina (por quem está apaixonado), para fazer o papel principal.
Nina sonha em se tornar atriz, mas seus pais se opõem. Ela diz que é levada ao teatro como uma gaivota ao lago... E um dia Treplev atira em uma gaivota e traz seu cadáver para Nina.
A estreia da peça amadora reúne amigos e vizinhos, e a atuação de Nina é elogiada por admiradores — e homens que a acham atraente. No entanto, todos criticam a decadência da peça, deixando o autor chateado. Como resultado, Nina se apaixona por um homem que a elogia, enquanto Treplev tem certeza de que o fracasso de sua peça a fez se afastar dele. No final das contas, sua vida termina tragicamente.
Em “A Gaivota”, Tchékhov foca no tema que desenvolveria em outras peças: o declínio da nobreza russa do século 19. Trata-se de gente que não trabalha, vive em um mundo fantasioso e, em geral, está falida.
Eles gostam de artes, tentam atuar, escrever e compor, mas não conseguem admitir que não têm realmente nenhum talento. Misturam vida e arte e buscam a fama, ignorando as relações humanas.
“A Gaivota” foi encenado no Teatro de Arte de Moscou por Konstantin Stanislavski e Vladimir Nemirovitch-Danchenko, em 1898, e foi um grande sucesso. Tchékhov não compareceu à estreia em Moscou, já que, dois anos antes, a peça tinha estreado no palco do Teatro Aleksandrinski, de São Petersburgo, e foi um verdadeiro fracasso.
Sem dinheiro suficiente para sustentar seu estilo de vida, o professor Serebriakov tem que ficar na propriedade de sua falecida esposa. Ele mora com a nova mulher e uma filha adulta, Sofia, do primeiro casamento.
Sofia suspeita que a madrasta se casou com o pai por dinheiro. Ivan é o irmão da primeira esposa de Serebriakov e tio de Sofia (ele é o Tio Vânia, já que este é o apelido carinhoso de Ivan em russo).
Tio Vânia cuida da propriedade há muitos anos. Graças a uma ironia do destino, Tio Vânia era adorado por Serebriakov, mas se apaixona por sua jovem esposa. Para a raiva amarga de Vânia, Serebriakov sugere vender a propriedade para ganhar algum dinheiro.
Vânia tenta matar Serebriakov, mas erra os tiros. O professor e sua jovem esposa vão embora, mas Tio Vânia e Sofia ficam. A sobrinha o acalma dizendo que todos os sofrimentos deste mundo terão recompensas na vida após a morte. "Espere, Tio Vânia, espere... Vamos descansar", diz ela.
Tchékhov resumiu a peça como um punhado de "cenas da vida no campo". Ele escreve aqui novamente sobre a vida dos nobres do final da era imperial e sua arrogância, desprezando os trabalhadores comuns.
Tchékhov descreve como o egoísmo distorce a alma e a imagem moral degradada dos aristocratas — o professor Serebriakov só se preocupa com seu próprio conforto, ignorando os sentimentos dos outros.
Assim, apesar de tio Vânia sempre cuidar de todos e ter uma alma generosa, ele continua sendo insignificante para seus parentes e amigos. A peça estreou em vários teatros e, em 1899, foi encenada no Teatro de Arte de Moscou, obtendo enorme sucesso.
“As Três Irmãs” e seu irmão moravam em uma cidade provinciana. O pai dos quatro tinha morrido havia um ano e, então, eles pensavam no que fazer de suas vidas. A irmã mais velha, Olga, trabalhava como professora, a do meio, Macha, era infeliz no casamento, e a irmã mais nova não consegue encontrar seu caminho ou um marido de jeito nenhum. Muitos se apaixonam pela última, mas ela acha todos muito chatos.
Essas irmãs intelectuais, na casa dos 20 anos de idade, vivem vidas vazias e inúteis, apenas sonhando com planos que nunca vão realizar. Ao mesmo tempo, elas se incomodam com o irmão, que se casou com uma mulher simples e desistiu da ciência.
A peça termina com as palavras de Olga: “Acho que daqui a pouco também saberemos por que vivemos, por que sofremos... Ah, se soubéssemos! Se soubéssemos!"
A peça não parece ter um enredo, e Tolstói zombou disso: “Se o curandeiro bêbado está deitado no sofá e chove do lado de fora, de acordo com Tchékhov, isso pode ser uma peça e, de acordo com Stanislávski, pode ser um clima”.
No entanto, “As Três Irmãs” é um eterno favorito nos palcos em muitos países desde que foi escrita. A primeira estreia fora da Rússia ocorreu em 1901, em Berlim — e ela ainda é muito popular na Alemanha.
Em termos de gênero e personagens, a peça foi absolutamente revolucionária para a época, mas os diretores que a encenam ainda conseguem encontrar uma nova visão e uma conexão com a vida moderna.
Liubov Ranevskaia é uma proprietária de terras nobre empobrecida. Ela já morou na França por um tempo e gastou toda a riqueza que herdou. Uma propriedade muito grande com um belo “jardim de cerejeiras” é tudo o que resta.
Mas até isso corre o risco de ser leiloado para pagar suas muitas dívidas. Ela está desesperada porque várias gerações da família possuíram este pomar e ela cresceu ali.
Ao mesmo tempo, um empreendedor, Ermolai Lopakhin, sugere dividir a terra e arrendar pequenas parcelas para ganhar dinheiro e pagar as dívidas. Ele é neto de servos que serviram à família de Ranevskaia, mas agora é um rico comerciante.
Ranevskaia não consegue se imaginar derrubando o inestimável jardim e opta por ignorar sua ideia. Ela continua a viver uma vida ociosa de lazer, mas reclama de sua situação. Finalmente, um dia, Lopakhin aparece para dizer que comprou sua propriedade e seu pomar em um leilão.
Ele está incrivelmente feliz por possuir a terra onde seu avô era escravo. A peça termina com o som de machados cortando cerejeiras.
Esta é a última das “comédias” de Tchékhov, como ele definiu o gênero. E é uma das peças mais encenadas de todas as russas. Ela foi escrita, simbolicamente, justamente às vésperas da primeira Revolução Russa de 1905. Naquela época, o mundo da antiga nobreza imperial teve um rude despertar com o novo mundo moderno e suas convulsões e progressos.
“O Jardim das Cerejeiras” estreou no Teatro de Arte de Moscou, e o diretor Konstantin Stanislavski falou sobre o significado da peça da seguinte maneira: “‘O Jardim das Cerejeiras’ não gera nenhuma renda, guarda em si a poesia da antiga vida aristocrática e na brancura que floresce ali. Esse jardim cresce e floresce para a moda, para os olhos de estetas mimados. É uma pena destruí-lo, mas é necessário, porque o processo de desenvolvimento econômico do país exige que isso seja feito.”
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