O Grande Lênin, 1985
Museu de História do GulagQuando essas pinturas foram exibidas pela primeira vez ao público em Moscou, em 1988, os russos fizeram longas filas para conferir a exposição.
As Gralhas Chegaram [em referência à famosa pintura homônima do século 19 de Aleksêi Savrasov]
Museu de História do GulagPiotr Belov, até então desconhecido, imediatamente se tornou o símbolo da perestroika e da glasnost na arte, bem como das mudanças quando conversas e sussurros na cozinha tomaram o espaço público. Antes, falar (e muito menos pintar) sobre o tema das repressões de Stálin era quase impossível. Raramente os livros sobre o Gulag chegavam à publicação.
Ataque cardíaco, 1986
Museu de História do GulagCom o sucesso em Moscou, as pinturas de Belov fizeram uma turnê inteira pela União Soviética. Em 2020, a família do artista doou as pinturas ao Museu de História do Gulag, na capital russa. Na instituição, as obras ganharam sobrevida em novas exposições – permitindo aos russos compreender a emoção sentida por seus compatriotas nos anos 1980.
Dentes-de-leão, 1987
Museu de História do Gulag“As pinturas que impressionaram tanto o público com sua bravura e profundidade foram logo intituladas de ‘ciclo anti-Stálin’”, diz Roman Romanov, diretor do Museu de História do Gulag.
A Vida Inteira, 1987
Museu de História do Gulag“Suas obras expressavam a dor e o medo mais íntimos, compreendidos por muitos contemporâneos. Ele conseguiu exprimir uma forte dissonância que era relacionável às experiências de milhões de compatriotas”, acrescenta Romanov.
Sem título (Ascensão), 1987
Museu de História do GulagA pintura abaixo mostra um maço de cigarros chamado Belomorkanal (ou apenas Belomor, na gíria) em referência ao canal Mar Branco-Báltico. O canal é famoso por ter sido construído por prisioneiros do Gulag em tempo recorde, e as obras de construção em condições difíceis ceifaram milhares de vidas. A metáfora é clara.
Belomorkanal, 1985
Museu de História do GulagA imagem de Pasternak emparedado é bastante realista. Quando seu romance ‘Doutor Jivago’ foi proibido na URSS, ele o levou secretamente para o Ocidente. A obra foi publicada no Ocidente e o autor recebeu o Prêmio Nobel de literatura. Mas as autoridades soviéticas lançaram toda uma campanha de intimidação contra Pasternak, o que levou à sua morte prematura. Na parte inferior da pintura, vê-se um jornal Pravda com um retrato de Nikita Khruschov, que iniciou a campanha.
Pasternak, 1987
Museu de História do GulagEsta pintura se refere ao diretor de teatro Vsevolod Meyerhold, que foi alvo de repressão. Belov imaginou o corpo abatido e espancado na prisão, enquanto a cabeça está coberta com o retrato de um cartão de identificação de um oficial.
Meyerhold, 1986
Museu de História do Gulag“Stálin, nas pinturas de Belov, é uma alegoria da morte”, explica Kirill Svetliakov, curador da exposição. “Em uma das pinturas, ele está olhando para a ampulheta onde crânios humanos ‘medem’ o tempo, em vez de grãos de areia. Em outra pintura, figuras humanas se assemelham a cinzas e caem de seu cachimbo. Na outra, pessoas são flores silvestres sob as botas do ditador.”
O ano de 1941, 1985
Museu de História do GulagA Ampulheta, 1987
Museu de História do Gulag“A análise precisa [da pintura abaixo] revela uma fotografia no fragmento descongelado – no qual é possível reconhecer a testa do pai e a primeira página do manuscrito de ‘O Mestre e Margarita’", lembra Ekaterina Belova, filha do artista. “Também podemos ver uma fotografia virada de cabeça para baixo. Certamente tem a mãe nela – seu penteado e cabelo. E então um grande campo de neve. Papai costumava dizer que se alguém começasse a cavar a neve, poderia mostrar muitos manuscritos escondidos em cada trecho descongelado... Aqui, mal foi cavado e há muitas coisas inexploradas à frente...”
Fragmento descongelado. M. Bulgákov, 1986
Museu de História do GulagA exposição ‘Fila pela Verdade’ de Piotr Belov da época da perestroika está em cartaz no Museu de História do Gulag, em Moscou, até 18 de maio de 2022.
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