4 livros russos que os editores lusófonos PRECISAM descobrir

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Eles ainda não foram vertidos para o português, mas para a traça inveterada estão disponíveis em outras línguas e mostram que a literatura russa não trata apenas sofrimento e tortura. Estes escritores trazem pura alegria e diversão, aquecem o coração e arrebanham novos apaixonados pela literatura russa!

1. “Três maçãs caíram do céu”, de Narine Abgaryan

“S neba upali tri iabloka” (que foi publicada como “Three Apples Fell From the Sky” pela Oneworld Publications) é uma história escrita no estilo do realismo mágico que mostra a vida em uma aldeia montanhosa isolada na Armênia. As paisagens são muito familiares à autora, nativa em russo, mas que tem raízes armênias e nasceu na URSS.

A trama do romance é composta por várias histórias de pessoas comuns, mas ousadas, com tanto amor e humor que não podem deixar de passar um sentimento positivo e elevado.

O livro, que foi originalmente escrito em 2015, recebeu o prêmio literário russo Lev Tolstoi - Iásnaia Poliana. A tradutora que verteu a obra para o inglês, Lisa Hayden, muito ligada à literatura russa contemporânea, afirma que este é, provavelmente, é o livro mais caloroso que já traduziu.

“Narine Abgaryan tece personagens maravilhosos, tragédias pessoais e históricas e muita amizade e amor - além do humor”, diz Lisa. A tradutora afirma ainda que o livro é tão otimista, que é um antídoto perfeito para tanta dor no mundo.

2.“Urbanos e Caipiras”, de Sofia Khvoschinskaia

“Gorodskie i derevenskie” é um romance do século 19 que retrata a sociedade russa na década de 1860 e foi publicado em inglês como “City Folk and Country Folk” pela Columbia University Press.

O livro foi escrito por uma mulher e, para ser publicado e ter uma recepção séria, a autora teve que usar um pseudônimo masculino. Cheia de uma crítica social que lembra Jane Austen, Khvoschinskaia zomba de uma mulher provinciana, não muito inteligente e que está longe de ser progressista ou emancipada como sua filha, que a ajuda em todos os problemas, inclusive financeiros.

Pouco conhecido na Rússia, o livro foi traduzido para o inglês pela primeira vez na série “Russian Library” da editora Columbia University e tornou-se um de seus best-sellers.

"Nos EUA, os leitores pensam que a literatura russa é pesada e séria. Talvez os gênios sejam assim, mas tem muita literatura divertida”, diz Christine Dunbar, editora da série russa.

3.“Contos sentimentais”, de Mikhail Zoschenko

Este livro o transportará para a Rússia pós-revolucionária da década de 1920, com seus textos bem-humorados sobre o “novo normal” de então. O autor zomba dos proletários que não apreciam arte e teatro e não sabem boas maneiras, mas que, após a Revolução, tornaram-se a elite da nova sociedade comunista.

Mikhail Zoshchenko foi um humorista famoso, mas, por motivos óbvios, os censores de Stálin não concordavam com sua sátira sobre a URSS e sua publicação foi proibida.

Para Christine Dunbar, o livro (publicado também pela Columbia University Press como “Sentimental Tales”) é "um volume de contos devastadores, mas, ainda assim, engraçados". Ele mostra ainda os aristocratas liberais desajustados na nova Rússia, em um cenário de apartamentos comunais superlotados, sonhando acordados.

4.“Fandango e outras histórias”, de Aleksandr Grin

As histórias neorromânticas de Aleksandr Grin do início do século 20 são cheias de aventuras, viagens, fantasia e sonhos. O primeiro livro que ele leu foi “As viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift, e, por toda a vida, sonhou em navegar. Ele tentou várias vezes fugir de casa e ir para o mar quando criança.

Quando adulto, procurando a própria identidade, mudou muito de emprego, trabalhou como marinheiro, estivador, mineiro de carvão, garimpeiro e muito mais. Ele costumava viajar muito e, em suas histórias, descreve personagens e paisagens que viu, apesar de situá-los em um país fictício chamado "Grinland".

O romance mais famoso de Grin é “As velas escarlates”, um clássico da literatura russa, publicado em 1923 e, mais tarde, adaptado para o cinema na era soviética. Mas, no final da década de 1920, a censura soviética proibiu a republicação das obras de Grin e só permitiu que ele publicasse um novo livro por ano, já que sua estética e tramas não eram relevantes “progressistas” o suficiente para a realidade soviética. Isso deixou o escritor tão mal que em alguns anos ele morreu. “Fandango” foi publicado também pela Columbia University Press.

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