Você acha possível que um colecionador de arte russo tenha enganado uma respeitada galeria de arte europeia? Especialistas em arte da Rússia lançaram dúvidas sobre a autenticidade de uma coleção de pinturas raras adquirida pelo Museu de Belas Artes de Ghent, na Bélgica, em outubro passado.
O museu acrescentou à sua coleção mais de 20 obras de artistas russos avant-garde, atribuídas a nomes como Kazimir Malevich, Wassily Kandinsky, Vladimir Tatlin, El Lissitzky, Natalia Goncharova e Mikhail Larionov. Os quadros teriam sido emprestados a longo prazo pela fundação Dieleghem, de propriedade do colecionador Igor Toporovski.
No dia 15 de janeiro, a publicação “The Art Newspaper Russia”, especializada em arte, publicou uma carta aberta (em russo) sobre as pinturas que “levantou muitas questões”. Assinada por um grupo de especialistas russos e internacionais, a carta dizia que o site do museu não dá informações sobre como obteve os quadros. Além disso, as obras de arte não são mencionadas em nenhuma publicação científica e não possuem histórico de exibição ou venda.
Especialistas dizem que o museu deveria remover as pinturas de seu acervo exposto até que suas origens sejam esclarecidas, para que os visitantes não sejam enganados.
Segundo jornais belgas, a diretora do museu, Catherine de Zegher, irá exibir mais obras da fundação em 2018 “para reescrever a história da avant-garde russa”. Enquanto isso, o grupo de especialistas se preocupa com a falta de experiência de Zegher para se considerar uma especialista em pintura russa de vanguarda.
O site Artnet News contatou Igor Toporovski, que disse ter um arquivo sobre cada obra de seu acervo, com descrições técnicas e históricas, e que pode fornecer todas as informações necessárias a pedido de profissionais. Ele disse ainda que sua mulher, Olga, é parente de Anton Pevzner e Naum Gabo, que supostamente colecionam obras de artistas de vanguarda russos. Mas a filha de Naum Gabo disse ao jornal “The Art Newspaper Russia” que nunca ouviu falar de Olga Toporovski e que seu pai não deixou nenhuma arte de vanguarda na Rússia. Todas as outras fontes de coleções de arte mencionadas por Toporovski permanecem sem confirmação.
Insatisfeito com o governo de Vladimir Putin, Toporovski emigrou da Rússia em 2006, indo para a Bélgica. Ele afirma ter sido consultor de Mikhail Gorbachev, mas um porta-voz do presidente russo negou a alegação.
Acredita-se que Toporovski tenha mais de 300 obras-primas russas, mas o renomado historiador da arte e curador Konstantin Akinshi, um dos autores da carta aberta, disse que nunca encontrou evidências de que Toporovski tenha colecionado trabalhos na Rússia.
Toporovski e sua mulher estariam hoje trabalhando para construir um local para abrigar permanentemente seus quadros em Jette, em Bruxelas. O local deve ser inaugurado em 2020.
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