A turbulenta vida e a morte do ‘poeta encrenqueiro’ Serguêi Iessênin

Serguêi Iessênin na Itália.

Serguêi Iessênin na Itália.

Sputnik
Figura proeminente da Era de Prata da poesia russa, ele nunca ficou de fora de controvérsias.

Serguêi Iessênin nasceu na aldeia de Konstantínovo, na região de Riazan, em 3 de outubro de 1895. Da janela de casa, ele podia avistar uma igreja e a montanhosa margem do rio Oká – que depois relembraria em sua poesia.

Ele começou a escrever poemas ainda criança e, quando deixou a escola, partiu à conquista do mundo literário de Moscou, onde publicou seus primeiros versos.

Em busca de fama, ele logo se mudaria para São Petersburgo, onde participava de salões literários usando roupas tradicionais, sapatos de fibra ou botas de feltro, e carregando as páginas com seus poemas enroladas em um lenço de cabeça campestre.

A proeza de um marketing pessoal engenhoso em uma era bem anterior às agências de publicidade funcionou de maneira brilhante, e o poeta de aldeia autodidata dos cachos dourados ganhou enorme popularidade.

Em 1916, ele chegou até mesmo a se apresentar para a família do imperador Nicolau 2º.

“A infâmia veio a mim
Que sou um abusado e fofoqueiro”

Iessênin com a última mulher, Sófia Andréievna Tolstáia, em 1925. Neta de Lev Tolstói, ela fez enormes esforços para manter as memórias do marido.

Iessênin também ganhou notoriedade como encrenqueiro. Ele estava envolvido de maneira muito próxima com a cena literária e frequentemente provocava outros poetas. Seus duelos literários mais conhecidos foram com outro poeta famoso, Vladímir Maiakóvski.

Com seu amor pelo campo, Iessênin não aceitava os poemas revolucionários e industriais de Maiakóvski.

Durante uma leitura aberta ao público, Iessênin disse que não daria “sua” Rússia a ele: “A Rússia é minha! E você é um americano!”. Maiakóvski, por sua vez, respondeu sarcasticamente: “Então sirva-se! Coma-a com pão!”.

“Muitas mulheres me amararam, e eu mesmo amei mais de uma”

Retrato de Iessênin e sua segunda mulher, Isadora Duncan, com sua filha adotiva, Irma.

O amor é o segundo maior mote da obra de Iessênin. Bem apessoado, o poeta teve quatro filhos de seus numerosos casos amorosos,

Sua primeira mulher, Anna, deu à luz a um filho, Iúri, em 1914. Mas Iessênin deixou a família e partiu para São Petersburgo, e raramente visitava a criança.

Em 1917, ele se casou com a atriz Zinaída Reich, que deu à luz a uma filha, Tatiana, e um filho seu, Konstantín. Mas dois anos depois eles se separaram e Reich logo se casou com o renomado diretor teatral Vsêvolod Meyerhold, vindo a se tornar uma das mais famosas atrizes de Moscou.

A segunda esposa oficial do poeta foi a dançarina Isadora Duncan. Ela era 18 anos mais velha que ele, nenhum dos dois falava a língua do outro. Seu casamento foi cheio de escândalos intermináveis e durou cerca de dois anos. O poeta acompanhou Duncan em turnê pela Europa e pela América, onde se apresentava em eventos literários paralelos.

A terceira mulher de Iessênin, Sófia Tolstáia, era neta de Tolstói. O poeta casou-se com ela poucos meses antes de morrer, também em um relacionamento infeliz.

“Tudo aqui está muito cheio do ‘grande velho’, está me sufocando”, reclamava Iessênin enquanto vivia na casa de Sófia. Foi ela quem fez enormes esforços para preservar seu legado e deixou memórias sobre ele.

“Coração besta, não bata...” 

Iessênin recebeu a Revolução de 1917 com entusiasmo e esperava que a Rússia fosse transformada, mas logo viu a fome, a destruição e o terror em seu país e passou a descrever cenas apocalípticas: “o jardim de caveiras” e “a violenta irradiação dos cadáveres”.

Em seu longo poema “Pugatchov”, sobre o famoso rebelde e impostor que organizou uma revolta das massas contra Catarina, a Grande, Iessênin se volta ao mote da confrontação entre poder e povo. Outro poema longo, “País dos Patifes” dá continuidade ao tema.

Em 1924, um ano antes de sua morte, no poema “Retorno à pátria”, ele descreve uma aldeia devastada com suas pobres casas de madeira e um calendário com o retrato de Lênin pendurado na parede em vez de uma imagem religiosa.

As autoridades, que o viam com um perigo ideológico e cultural, acossavam o poeta, abrindo casos jurídicos arbitrários contra ele.

Em 1925, colapsos nervosos, alcoolismo e pressão das autoridades levaram Iessênin a um hospital psiquiátrico. Um mês depois ele foi encontrado enforcado em um cano no Hotel Angleterre, em Leningrado (atual São Petersburgo).

No dia anterior à morte, Iessênin compôs seu último poema, “Adeus, amigo meu, adeus”, escrito com sangue.

Sua morte foi causada, de acordo com os relatos oficiais, por suicídio. Mas versões alternativas vieram à tona posteriormente. A mais difundida é a de que o poeta teria sido morto a mando das autoridades soviéticas.

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