7 motivos para largar tudo agora mesmo e ir correndo ler Tchékhov

O nome deste grande escritor russo está associado sobretudo ao teatro. Mas ele não era apenas um dramaturgo incrível, como também um gênio dos contos. Infelizmente, porém, sua obra foi, por vezes, ofuscada pela de Tolstói e de Dostoiévski.
Antôn Tchékhov (1860-1904).

1. Ele conhecia muito bem o ser humano

Antón Tchékhov nasceu em 1860 na cidade de Taganrog (quase mil quilômetros a sul de Moscou). A casa onde ele viveu por lá é hoje um museu.

Aos 19 anos de idade, Tchékhov partiu rumo à capital e se matriculou na faculdade de medicina da Universidade Estatal de Moscou. Ainda durante seus estudos, Tchékhov começou a trabalhar como médico, e praticou a medicina por toda sua vida.

Por lidar com todo tipo de gente durante o tempo em que trabalhou como médico, seus contos penetram na essência da alma humana, e trazem uma ironia fina da banalidade e vulgaridade da sociedade.

Os 3 melhores contos de Tchékhov, segundo o editor do Russia Beyond:

“Queridinha”: Olga é uma moça gentil e angelical, apelidada pelos amigos de dúchetchka (querida). Ela tem uma necessidade vital de sempre amar alguém, e quando se casa com um diretor de teatro se interessa e se envolve profundamente com a produção teatral.  Após a morte do diretor, ela se casa com o gerente de um armazém de madeira e começa a trabalhar com ele, passando a achar que o negócio madeireiro é o mais importante do mundo. Ela se esquece do teatro rapidamente. Mas então seu marido morre e... bem, você entendeu. E assim vai. Ela se sente feliz sempre cuidando de algum homem e se imiscuindo em seu mundo. Até hoje há mulheres assim, que são chamadas na Rússia de dúchetchka.

“Homem num estojo”: Havia um homem que “era notável por sempre calçar galochas e vestir um casaco quente estofado e carregar um guarda-chuva mesmo no melhor tempo”. Ele tinha estojos especiais para o guarda-chuva, a caneta, a faca e relógios de pulso. Ele trancava a casa com várias fechaduras e, aparentemente, queria se fechar para o mundo externo. Ele fazia tudo corretamente e tinha medo de qualquer coisa fora das regras. Finalmente, quando ele morreu e foi colocado no caixão, seu rosto parecia feliz, como se “ele estivesse feliz de finalmente ser colocado em um estojo que nunca deixaria”.

“A dama do cachorrinho”: este conto relata a história de duas pessoas que não estavam felizes no casamento e, por acaso, se conhecem em um balneário na cidade de Ialta, na Crimeia. Encontrando-se, eles ficam temporariamente inspirados e a vida retorna a seus corações. Mas então eles sofrem ainda mais quando percebem estar deixando de lado suas famílias. No século 19, o divórcio era absolutamente inimaginável e um procedimento muito complicado. Assim, os dois pombinhos continuam se encontrando, gozando de seu amor, até que um dia eles finalmente percebem que não são mais jovens e que sofrem da natureza ilícita de seu romance.

2. Tinha um forte (e inteligente) senso de humor  

O humor inteligente de Tchékhov é o que os russos costumam chamar de “rir da desgraça alheia”, quando a graça está nos pecados e falhas dos outros – mas você acaba percebendo cometer os mesmos erros, assim como quase todo mundo.

Um dos traços mais marcantes de Tchékhov, que o destaca mediante outros escritores russos, é que suas histórias não são moralizantes. O leitor tem permissão para tirar suas próprias conclusões, então o sentido da história pode mudar, dependendo de quem a estiver lendo.

“O camaleão”, por exemplo, conta a história de um homem que maltrata de um cão até perceber que ele é o cachorro do general. De repente, ele começa a tomar conta do cachorro de modo excepcional. Mas o comportamento do homem muda, dependendo de quem as pessoas dizem ser o proprietário do bichinho.

Primeiras edições de obras de Tchékhov em sua biblioteca.

3. Ele explora a misteriosa alma russa

Já mencionamos o conto curto “Queridinha”, que ajuda a compreender a alma de uma russa com seu forte instinto maternal. Lev Tolstói, aliás, reagiu de maneira contrariada ao fato de que Tchékhov desperta nosso riso quanto à “Queridinha”.  Tolstói se sentiu tocado pela natureza sincera dessa mulher simples e sua habilidade para amar. 

As personagens de Tchékhov são as chamadas “pessoas pequenas”, marcadas por aspectos ridículos. O autor não tenta levantar a questão do sentido da existência humana, ele apenas mostra pessoas comuns com seus problemas diários.

4. Ele arriscou a saúde pela escrita

Já doente, com tuberculoso, Tchékhov fez uma longa viagem pela Sibéria até a Ilha Sacalina. Naquele tempo, ela era conhecido apenas como uma terra distante onde prisioneiros haviam sido exilados, um lugar ainda pior e mais distante que a Sibéria.

Mas Tchékhov corajosamente foi até lá para pesquisar como o povo local vivia. Ele chegou a fazer até mesmo uma espécie de censo da população, e escreveu um trabalho de não ficção descrevendo a vida dos habitantes da ilha, que poucos do mundo exterior conheciam anteriormente.

5. Suas peças inspiraram o sistema de atuação de Stanislávski

“Três irmãs”, “Jardim das cerejeiras”, “Tio Vânia” e “A gaivota”: essas obras dispensam apresentações. Todas estrearam no Novo Teatro de Arte de Moscou, que hoje leva o nome de Tchékhov. Todas os papeis de protagonista feminina foram interpretados por Olga Knipper, jovem atriz com que Tchékhov se casou.

  Tchékhov lê “A gaivota” a um grupo de atores do Teatro de Arte de Moscou. Entre eles estão Konstantín Stanislávski (à esq. de Tchékhov), Olga Knipper (segunda à direita de Tchékhov), Vsevolód Meyerhold (dir.), e Vladímir Nemirovitch Dantchenko (em pé à esq.).

Tchékhov revolucionou o drama, trazendo pausas e longos diálogos, discussões banais do dia-a-dia, e sacrificando a ação, que antes era tão importante ao teatro.

Os diretores teatrais lendários Konstantín Stanislávski e Vladímir Nemirovitch-Dantchenko fizeram parcerias criativas com ele, tornando a arte teatral menos patética, mais próxima às pessoas, e retirando seu status de alta arte.

6. ’A brevidade é a irmã do talento’

Este é um dos aforismas mais conhecidos de Tchékhov. Aliás, Tchékhov criou inúmeras frases espirituosas que entraram como aforismos para a língua russa. Não tem um pensamento sofisticado para postar no Facebook? Há inúmeras aspas de Tchékhov!

A brevidade é também uma das vantagens de Tchékhov, contra a verborragia contemporânea (mandamos um “oi” a Lev aqui!). A maior parte de seus contos são realmente curtos, e levam apenas cinco minutos para ler, mas alimentam a alma até a eternidade.

Peça televisionada baseada em “As três irmãs”, 1985.

7. Porta de entrada da grande literatura

Entre os contos curtos de Tchékhov estão aqueles que as crianças aprendem ainda no primário. Por exemplo, “Kachtánka”, a história de uma cachorrinha perdida que vai parar na casa de um palhaço.

Ele ama a nova amiguinha de quatro patas, e ela parece ser realmente muito esperta. O palhaço começa a se apresentar junto com ela, e durante uma apresentação Kachtánka vê seu dono original e corre para ele, toda contente. 

Também há a história triste de um menininho, Vanka, que trabalha como aprendiz de um sapateiro. Na noite de Natal ele fica com saudade de casa e escreve uma carta, que encaminha “ao vovô na aldeia”. Esta frase também se tornou um aforisma, e significa enviar algo para lugar nenhum.

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