No início de fevereiro de 2012, os especialistas da equipe de perfuração da 57 Expedição Antártica Russa, após décadas de perfurações, penetraram pela primeira vez no lago Vostok, maior lago subglacial da Antártida, oculto sob uma cobertura de gelo antártico de quatro quilômetros de espessura.
Vostok é um lago subglacial gigante, comparável em tamanho ao estado do Catar. Até a década de 1990, ninguém tinha certeza de que ele realmente existia.
O lago Vostok é considerado a última grande descoberta geográfica do planeta que pode ajudar a entender se existe vida no satélite de Júpiter, Europa. Abaixo da espessa camada gelada deste corpo celeste também existe um oceano subglacial que pode abrigar organismos resistentes a condições extremas, semelhantes aos encontrados nas águas do Vostok.
Como o lago foi descoberto?
A área onde está localizado o lago foi explorada pela primeira vez em 1957 por uma expedição soviética. Os cientistas viajaram até o local em um trenó-trator especial capaz de superar as planícies nevadas da geleira.
Foi no centro do continente que os cientistas fundaram a primeira estação de pesquisa “Vostok”, que mais tarde deu nome ao lago. A estação ficava quase totalmente isolada do mundo exterior: a costa mais próxima ficava a 1.260 km, e a estação de pesquisa mais próxima, a 1.410 km. Essa área também se tornou famosa como "o pólo do frio", pois registrou a temperatura mais baixa da Terra: 89,2 graus negativos.
Após a construção da estação, na década de 1960, os exploradores polares começaram a perfurar a geleira. Seus objetivos eram menos ambiciosos do que a busca pelos lagos mais antigos do planeta. Os cientistas queriam obter uma coluna de gelo, retirada das profundezas das geleiras. Partículas de ar e partículas duras dentro desse gelo permitem obter dados sobre a atmosfera e a composição do solo da Terra de milhões de anos atrás. Por isso, a estação "Vostok" é atualmente considerada uma das principais fontes de informação sobre o clima antigo do planeta.
Inicialmente estava prevista a perfuração com conchas térmicas, mas essa tecnologia permitiu atingir apenas 50 metros de profundidade. Um projeto de perfuração nuclear também foi considerado. Usando um reator nuclear, os cientistas queriam derreter todo o gelo até a profundidade necessária, mas o projeto foi abandonado devido aos riscos, que eram muito altos. A perfuração começou efetivamente no final da década de 1960, quando profissionais do Instituto de Mineração de Leningrado chegaram ao continente. Eles conseguiram atingir a profundidade de 560 metros.
A existência de um lago subglacial foi assumida pela primeira vez na década de 1970. Os cientistas britânicos escanearam a geleira ao redor da estação soviética e descobriram um "reflexo plano” que poderia ser, na verdade, a superfície de água.
O verdadeiro avanço no estudo dos reservatórios subterrâneos na Antártida foi realizado apenas em 1996 pelos pesquisadores russos Andrêi Kapitsa e Ígor Zotikov, do Instituto de Geografia da Academia das Ciências da Rússia. Junto com cientistas britânicos, eles coletaram todos os dados de radares e satélites desta área e chegaram à descoberta de que a uma profundidade de cerca de quatro quilômetros há um enorme lago glacial, escondido lá por milhões de anos. Sua área é de 10 mil quilômetros quadrados e a profundidade média é de 125 metros.
Água inacessível
No momento da descoberta, um poço de 3.100 metros de profundidade já havia sido perfurado na estação "Vostok". Restavam apenas 130 metros até o lago.
No entanto, os cientistas tiveram que parar. O problema era a mistura especial de querosene e freon que foi usada para derreter o gelo. Esses elementos não congelam nas temperaturas extremas da Antártida e permitem conter a pressão da camada de gelo em grandes profundidades de perfuração. No entanto, naquela época, o freon foi reconhecido como uma substância perigosa para a atmosfera e foi proibido. Além disso, os pesquisadores temiam que os produtos químicos tóxicos que entrassem na água pudessem não apenas estragar os resultados do estudo do lago subterrâneo Vostok, mas também matar a possível vida que poderia ter vivido ali durante 14 milhões de anos de isolamento.
Assim, os cientistas enfrentaram a tarefa de encontrar um método de perfuração que fosse menos perigoso para o ecossistema. As pesquisas científicas duraram mais oito anos.
Os trabalhos foram retomados apenas em 2006, mas os novos métodos não permitiram que os cientistas alcançassem o lago: ocorreram diversos acidentes técnicos. Os cientistas conseguiram perfurar o gelo até a superfície do lago só em 5 de fevereiro de 2012. Mas os trabalhos foram paralisados quase imediatamente por falta de financiamento.
Сomo se fosse de outro planeta
A segunda amostragem de água ocorreu em 2015 e foi bem-sucedida. Foram encontradas 49 amostras de DNAs de vários organismos. A maioria veio da superfície do planeta e apenas dois organismos despertaram real interesse dos biólogos.
Uma das amostras parecia uma bactéria aquática, que em teoria deveria viver principalmente em solo pantanoso, mas não em águas glaciais sob alta pressão.
A segunda amostra era completamente desconhecida e seu genoma coincidia apenas 86% com o de microrganismos já conhecidos. “Se mostrássemos o DNA desse organismo sem explicar de onde ele veio, nos perguntariam se ele é deste planeta”, diz Serguêi Bulat, chefe dos estudos de amostras de água do Lago Vostok.
No entanto, as pesquisas não chegaram a outros resultados impressionantes. O governo russo parou de alocar dinheiro para os estudos das novas amostras do lago Vostok, escolhendo o Pólo Norte como sua nova prioridade. No entanto, Serguêi Bulat continua a estudar as amostras já obtidas até hoje.
Em 2018, ele descobriu outro habitante do Vostok: a bactéria marini Lactobacillus sp. Os bacilos se alimentam de matéria orgânica, praticamente ausente nas águas do Vostok, o que significa que podem existir áreas ricas em nutrientes em profundidades maiores.
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