“Se você não quer ir para um hospício ou conhecer seus bisavós, obviamente, não deve fazer uma trepanação sem ajuda de alguém. Tive a sorte de evitar essas opções só porque me preparei bem, estava motivado e tinha uma razão para fazer isso", disse ao canal Life Shot Mikhail Ráduga, de 40 anos, dois meses após realizar uma trepanação no próprio crânio.
‘35 técnicas para deixar o corpo’
Mikhail tem pouco mais de 50 mil seguidores em seu canal no YouTube. Mas os vídeos de suas palestras sobre como "sair do corpo" ganharam centenas de milhares de visualizações.
Um dos vídeos se chama "35 técnicas para deixar o corpo". Mas, durante este experimento de instalação de eletrodos no cérebro, realizado sem ajuda médica, Mikhail quase morreu.
“Tenho estudado os ‘sonhos lúcidos’ desde a juventude, publiquei muitos artigos científicos e sou diretor de um laboratório”, disse Mikhail em entrevista. Nossa redação não conseguiu, porém, encontrar informações confiáveis sobre sua formação ou atividade científica.
Na verdade, Mikhail escreveu diversos livros de ciência popular sobre “gerenciamento de sonhos”. A conclusão a que se chega, portanto, é a de que Mikhail é um entusiasta que decidiu realizar uma operação neurocirúrgica sozinho, sem a ajuda de médicos profissionais.
Seu objetivo, segundo ele mesmo, era “testar a possibilidade de enviar sinais diretamente para os sonhos sem acordar a pessoa e descobrir se o córtex cerebral pode ser utilizado para isso”.
Mikhail não chegou a tentar realizar a operação oficialmente devido ao alto risco de morte. Segundo o próprio, ele não queria que um médico fosse processado por sua causa.
‘Não conseguia viver sem este estudo’
“Não queria esperar, sou fanático por este tema e tomei medidas extremas”, declarou Mikhail sobre a solitária operação. Para colocar eletrodos no córtex cerebral por conta própria, Mikhail assistiu a operações neurocirúrgicas com comentários no YouTube por cerca de dois meses e treinou em cabeças de ovelhas mortas. Foram necessárias 5 cabeças para realizar uma trepanação bem sucedida.
“Embora seja perigoso, não conseguia viver sem este estudo, fui obrigado a tentar realizá-lo”, disse Mikhail em 17 de maio de 2023, quando iniciou a operação, em seu apartamento em Novosibirsk. Ele usou um endoscópio, um dispositivo que lhe permitia operar a si mesmo e ver a operação na tela.
“A operação durou quatro horas, tenho o vídeo completo. Lá você pode ver como eu abro a gálea aponeurótica, faço um furo no crânio, realizo a trepanação, instalo eletrodos sob a dura-máter, faço estimulação elétrica e costuro. Perdi cerca de um litro de sangue. Depois disso, trabalhei mais dez horas, como sempre. Porque não dá para dormir depois da operação. Tomei banho e trabalhei em casa”, disse Mikhail em entrevista ao portal Baza.
Na verdade, Mikhail não estava sozinho durante a operação. Ele realizou o experimento com um assistente não identificado. “Eu dormi com um polissonografo, o pesquisador me observava e, assim que percebeu que eu começava a adormecer, com um movimento rápido dos olhos, deu sinais para o córtex cerebral. Ele fez o mesmo durante os ‘sonhos lúcidos’: eu segurava um objeto na mão, o funcionário estimulava o córtex, e o objeto caía da minha mão.”
Experimento bem-sucedido
O assistente de Mikhail não sabia como seria realizada a trepanação. “Tinha medo que ele recusasse”, disse.
Mas, no final das contas, Mikhail considerou seu experimento bem-sucedido: “Confirmamos que [...] é possível estimular o córtex cerebral de uma pessoa adormecida sem acordá-la, e os sinais vão vazar para o espaço dos sonhos. Isso significa que podemos influenciar os sonhos, podemos enviar sinais para uma pessoa adormecida”.
Ele acredita que, no futuro, poderá ajudar pessoas que sofrem com pesadelos e abrir para a humanidade o mundo dos “sonhos lúcidos controlados”, que considera uma excelente forma de resolver problemas psicológicos e mentais.
Pouco depois da trepanação, os eletrodos começaram a ser cobertos com tecido cerebral, e Mikhail procurou ajuda cirúrgica profissional. Segundo a agência Life Shot, “os médicos que retiraram o chip do crânio do pesquisador Mikhail Ráduga disseram que estavam consertando uma intervenção cirúrgica profissional”. Segundo os cirurgiões, Mikhail “fez tudo de maneira muito profissional”.
Agora, Mikhail Ráduga continua seu trabalho e promete “pesquisas ainda mais ambiciosas”. Ele lamenta não poder publicar um artigo sobre seu experimento em revistas especializadas. “Só em periódicos que não exigem uma autorização para os experimentos, já que é impossível conseguir essa autorização".
LEIA TAMBÉM: Como um médico soviético fez a própria cirurgia de apendicite na Antártida
O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br