É conhecido como "poço do inferno", um buraco misterioso de 12.226 metros de profundidade e 23 centímetros de largura; tão grande que merece o título de "o poço mais profundo do mundo". Estamos falando do Poço Superprofundo de Kola, criado no final dos anos 1970.
Semyon Meisterman / TASS
Este assunto, assim como costuma acontecer com outros fenômenos únicos e raros, está envolto em lendas e mistérios. Diz-se, por exemplo, que quando a broca atingiu os 12 km de profundidade, os pesquisadores identificaram uma cavidade com temperaturas acima de 1.000°C e lá puderam gravar sons semelhantes a “gritos de almas em dor”. A broca, disseram a si mesmos, teria chegado às “entranhas do inferno”.
Mas há muitos detalhes que não combinam com toda essa história: em primeiro lugar, não há microfones capazes de suportar temperaturas de 1.000°C; além disso, quando a broca atingisse 12.261 metros, o termômetro mostraria 200°C a essa profundidade, e não 1.000°C.
Ainda assim, o chefe da operação David Guberman admitiu que, durante as escavações em 1995, aconteceu, sim, uma coisa muito estranha.
As razões para perfurar
Alexey Varfolomeyev / Sputnik
O poço está localizado no norte do país, na região de Murmansk, mais precisamente na península de Kola, de onde recebeu o nome. Foi escavado como parte de um projeto colossal executado pela URSS, que previa a construção de poços profundos.
Ao contrário de outros poços cavados para identificar campos de gás ou petróleo, o de Kola foi construído para fins puramente científicos, para estudar a composição interna da Terra.
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O local foi meticulosamente escolhido e a perfuração transcorreu, com algumas pausas, de 1978 a 1992. A península de Kola está localizada na parte superior do escudo Báltico, uma gigantesca base rochosa composta de granito e minerais, originada há cerca de 3 bilhões de anos. É uma das camadas mais antigas da Terra; por isso a importância de estudá-la.
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Nas entranhas da Terra
Nos primeiros quatro anos de escavações, atingiu-se uma profundidade de 7 km. Em seguida, uma broca adicional foi acionada - mais uma máquina de 200 toneladas. Como esse equipamento precisava circunavegar um leito rochoso mais duro, os especialistas foram obrigados a endireitá-lo várias vezes, razão pela qual o poço era curvo em alguns trechos.
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Em 1983 o furo atingiu a profundidade de 12 km, mas as obras foram interrompidas no ano seguinte devido a problemas no poço principal de perfuração. Os operários foram, contanto, obrigados a reiniciar a perfuração de 7.000 metros.
Romanov Anton
Em 1990 chegou-se a 12.262 metros de profundidade, mas a broca quebrou novamente - e pela última vez. As escavações cessaram, mas o poço de Kola também entrou para a história como o buraco mais profundo do mundo.
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Cinco anos após o término da perfuração, houve uma explosão dentro do poço de causas desconhecidas. Nem mesmo David Guberman conseguiu descobrir o que havia acontecido.
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Os estudos do poço de Kola derrubaram as crenças anteriores sobre a composição da crosta terrestre e contribuíram significativamente para o estudo da "descontinuidade de Mohorovičić", a fronteira entre a crosta e o manto terrestre. Mas fato é que as análises realizadas no poço de Kola, em vez de chegarem a novas respostas, nada mais fizeram do que levantar novas perguntas. A descoberta mais óbvia foi que a 4 quilômetros do solo a temperatura começa a aumentar drasticamente, chegando a 220°C a 12 km de profundidade.
Bigest (CC BY-SA 3.0)
Atualmente, o local do Poço Superprofundo de Kola está em estado de abandono. O buraco foi lacrado com uma tampa de metal de 12 parafusos, e a base científica foi oficialmente fechada em 2008.