Com 91,6% de eficácia atestada, vacina russa Sputnik V pode entrar na mira de mais países

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Publicação de resultados de análise na “The Lancet” justificam uso emergencial de imunizante russo, segundo Kremlin e especialistas. Anvisa acenou positivamente para o estudo, mas reiterou necessidade de acesso a dados complementares.

Os dados publicados na renomada revista científica “The Lancet” confirmam que o registro acelerado da vacina Sputnik V na Rússia era justificado, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov. “Esta é uma publicação muito importante que demonstrou de forma muito convincente a confiabilidade e eficiência da vacina russa e também confirmou que o registro acelerado da vacina na Rússia era justificado”, disse o porta-voz.

Peskov lembrou que “o número de países que registram essa vacina cresce a cada dia”.

“A Rússia trabalha ativamente para responder às solicitações de vários países que pedem para garantir o embarque da vacina. Claro, a demanda interna russa é a principal prioridade”, acrescentou. “Planejamos estabelecer a produção da vacina no exterior o mais breve possível, permitindo atender à demanda de cada vez mais países por essa vacina”, disse Peskov.

O Instituto de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleia, que desenvolveu a Sputnik V, tem expectativa de que a duração da imunidade seja superior a dois anos, segundo Aleksandr Gintsburg, chefe do instituto, em uma entrevista coletiva na terça-feira (2).

“Temos uma grande esperança, que se confirma pelos resultados já obtidos de ensaios clínicos, de que a vacina seja capaz de dar imunidade não por meses, ou mesmo um ano, mas por pelo menos dois anos ou mais, que é o assunto de nossas pesquisas futuras”, disse.

Mais cedo, a “The Lancet”, uma das revistas científicas mais antigas e respeitadas do mundo, publicou os resultados da terceira fase do Sputnik V atestando a alta eficácia e segurança da vacina russa. Na análise de eficácia intermediária do ensaio clínico randomizado, de duplo-cego e controlado por placebo, o tratamento com duas doses de Sputnik V administrado com 21 dias de intervalo demonstrou eficácia de 91,6% contra covid-19.

“Este é um grande dia na luta contra a pandemia de covid-19. Os dados publicados pela The Lancet comprovam que, além de ser a primeira vacina registrada no mundo, a Sputnik V também é uma das melhores. Ela protege totalmente contra casos graves de covid-19”, disse Kirill Dmitriev, diretor-executivo do RDIF. “A Sputnik V é uma das três vacinas no mundo com eficácia de mais de 90%, mas supera as demais em termos de segurança, facilidade de transporte devido aos requisitos de armazenamento (...) e preço mais acessível. A Sputnik V é uma vacina para toda a humanidade”, acrescentou o gestor.

De acordo com o professor associado de Virologia e Vacinologia da Universidade de Connecticut Paulo Verardi, a vacina russa Sputnik V desempenha um papel importante na luta contra a pandemia em todo o mundo. “Esta é uma ótima notícia [da eficácia publicada na The Lancet] porque, ao contrário de outras vacinas de adenovírus recombinantes de covid-19, a Sputnik V é baseada em uma estratégia de reforço inicial com dois vetores de vacina recombinante diferentes, primeiro o adenovírus 26, seguido pelo adenovírus 5”, explicou Verardi à agência TASS. “Precisamos do maior número possível de vacinas para controlar a covid-19 no mundo todo, e agora que os dados clínicos mostram uma eficácia de 91,6%, espero que a Sputnik V seja uma parte importante neste esforço”, acrescentou.

Além da Rússia, a Sputnik V já foi oficialmente registrada em 16 países, como Argentina, Sérvia, Palestina, Venezuela, Hungria e Emirados Árabes Unidos, entre outros.

Boa notícia, diz Anvisa

Em nota divulgada na noite desta terça (2),  a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) declarou que o laboratório União Química, responsável pela produção da vacina russa Sputnik V no Brasil, irá apresentar para análise emergencial na agência o mesmo padrão de temperatura e conservação (-18°C) do imunizante desenvolvido na Rússia e cujos dados foram publicados na revista científica The Lancet.

Segundo a Anvisa, o estudo clínico publicado é uma boa notícia, mas ainda é necessário que a agência brasileira tenha acesso aos dados completos gerados nos estudos não clínicos e clínicos das fases 1, 2 e 3 para poder concluir sobre a eficácia e segurança da vacina russa.

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