Este meganavio foi peça-chave do pouso em Vênus e outras missões espaciais

Ciência e Tecnologia
NIKOLAI CHEVTCHENKO
Centro flutuante de controle de missão possuía 71 antenas e quatro parabólicas gigantes, das quais duas pesavam juntas 480 toneladas.

A partir da década de 1950, a URSS não poupou recursos para desenvolver seu programa espacial. Os engenheiros lançaram o primeiro satélite artificial, colocaram com sucesso um homem no espaço e realizaram a primeira caminhada espacial.

Cada missão era mais difícil do que a anterior. Novos objetivos exigiam decisões criativas. Isso era especialmente verdadeiro para o campo do controle de voo espacial.

Cálculos balísticos mostravam que naves contornando o planeta ao longo da órbita da Terra davam seis de suas 16 voltas diárias sobre o Oceano Atlântico. Durante esses períodos, a comunicação com o controle da missão soviética perdia muita qualidade.

Os cientistas então pensaram em uma solução inteligente: por que não criar um controle flutuante de missão, capaz de supervisionar voos espaciais de qualquer ponto da Terra? Em 1971, o navio ‘Kosmonavt Iúri Gagárin’ foi lançado ao mar. 

A aparência não ortodoxa da embarcação era a primeira coisa que se destacava, devido ao grande número de antenas e antenas parabólicas. A nave portava todo um complexo de medição e comando por rádio – o Foton – para monitorar as naves.

O equipamento permitia trabalhar com até duas espaçonaves simultaneamente, passando coordenadas, alterando a trajetória e mantendo contato com os cosmonautas, por meio de telefone e telégrafo. O navio também estava em comunicação constante com o Centro de Controle de Missão em Korolev.

Além do controle de voo, o ‘Kosmonavt Iúri Gagárin’ também era capaz de procurar espaçonaves perdidas e supervisionar o resgate de cosmonautas no oceano.

A embarcação possuía um total de 75 antenas e antenas parabólicas com vários tamanhos e finalidades. Duas delas, instaladas na ponta do passadiço, tinham 12 metros de diâmetro e pesavam 180 toneladas cada. Os outros dois eram ainda maiores e mais poderosos, cada qual com 25 metros de diâmetro e 240 toneladas.

A enorme quantidade e a localização específica das antenas criavam problemas quanto à capacidade de navegação do navio e exigiram soluções únicas e construtivas.

O maior problema era garantir a estabilidade do navio, sua capacidade de resistir a forças externas e a capacidade de retornar a um estado de equilíbrio assim que essas forças fossem reduzidas.

Antenas parabólicas gigantescas, com suas bases e suportes elétricos, não pesavam apenas toneladas – todas tinham que ser posicionadas nos locais menos convenientes para garantir uma navegação segura e estável. Os elementos mais pesados ​​se elevavam sobre o convés, enquanto os equipamentos elétricos e de navegação – mais leves – estavam todos localizados abaixo do convés.

Um problema adicional era a qualidade da navegação, somada ao tamanho das antenas parabólicas, sempre que precisavam ser movimentadas quando a conexão estava sendo estabelecida. Para evitar o risco de quebra – ou de simplesmente virar o navio –, nunca eram realizadas sessões de comunicação durante ventos fortes.

Sempre que o navio estava ocupada se comunicando com a espaçonave, não era possível escolher um curso, e a embarcação tinha que seguir uma trajetória definida. Isso levou à necessidade de melhorar a manobrabilidade do navio, mesmo em condições climáticas favoráveis e em velocidades mais baixas.

Para resolver a questão, dispositivos internos especiais foram instalados na forma de dois motores alados no nariz e na popa. Isso facilitava a navegação em velocidades baixas, ventos e na atracação, compensando a força da maré durante a comunicação.

As tarefas definidas para um centro flutuante de controle de missão espacial pressupunham um alto grau de autonomia, dada a localização quase constante da embarcação no mar, longe de combustível e provisões.

As reservas de combustível afetavam diretamente o alcance da viagem ininterrupta: esse era um fator crucial para tarefas específicas que só podiam ser realizadas em determinados locais, muitas vezes a centenas de quilômetros do porto mais próximo.

O ‘Gagárin’ se gabava de um alcance de 20.000 milhas náuticas (37.040 km) – o alcance do porta-aviões Almirante Kuznetsov é de apenas 8.417 milhas (13.546 km).

Não é à toa que a embarcação foi parte crucial em diversas missões espaciais soviéticas, como ‘Luna 20’, ‘Venera 8’, ‘Soyuz’ e ‘Salut-7’.

Apesar de suas características únicas, o famoso navio teve um triste fim. Após a dissolução da União Soviética, o ‘Gagárin’ – antes registado em Odessa, passou para as mãos da então independente Ucrânia e do seu Ministério da Defesa.

Os novos proprietários do navio não tinham ambições espaciais do tamanho da Rússia nem espaçonaves ou cosmódromo próprios – assim, o ‘Gagárin’ ficou parado. Em 1996, a Ucrânia o vendeu para a empresa austríaca Zuid Merkur por US$ 170.000 a tonelada. Em agosto de 1996, o navio foi enviado para uso em Alang, na Índia.

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