O que os russos acham de Elon Musk?

Ciência e Tecnologia
OLEG EGOROV
Enquanto alguns adoram o chefão da Tesla e da SpaceX, outros o consideram superestimado e duvidam de sua contribuição para o mundo da tecnologia.

Elon Musk parece estar em toda parte agora. Ele lança seu Falcon Heavy no espaço –com um Tesla Roadster e um manequim dentro, só para fazê-lo girar sem fim em órbita ao som de “Space Oddity”, de David Bowie. Ele abre uma empresa, coloca o nome de The Boring Company, começa a vender lança-chamas – e fatura o equivalente a US$ 10 milhões com esses isqueiros de grandes dimensões em apenas quatro dias. E até mesmo afirma abertamente ser marciano.

O bilionário norte-americano e CEO da SpaceX e da Tesla Inc. polariza pessoas em todo o mundo – algumas ficam surpresas com seu sucesso e experiências ousadas, enquanto outras são céticas e apontam para o fato de muitos dos projetos de Musk não serem rentáveis. Os russos também seguem o inventor, especialmente quando se trata de projetos espaciais. Mas o que pensam dele no maior país do mundo? 

“Inovador e inspirador”

A maioria dos especialistas familiarizados com a indústria espacial concorda que as ações de Musk afetam o setor. Em 2017, o especialista da Academia Russa de Cosmonáutica Aleksandr Jelezniákov, disse: “O que Musk fez [após lançar o foguete Falcon 9 e recuperar o primeiro estágio de lançamento] é um avanço na tecnologia espacial, temos que admitir. Obviamente, é muito mais barato explorar o espaço com a ajuda de tecnologias que possam ser usadas várias vezes. E Musk, ao desenvolver e melhorar esse sistema, será de grande utilidade para os especialistas em espaço”.

Em agosto de 2017, Musk superou sozinho todas as potências espaciais do mundo em termos de números de lançamentos de foguetes – enquanto a SpaceX realizou 12, a Rússia, 11, e a China, 8, enfatizou o site Gazeta.ru em seu editorial dedicado ao lançamento bem-sucedido do Falcon Heavy. “As demonstrações espaciais de Musk tentam, em primeiro lugar, impressionar. Mas esses projetos são importantes como campo de testes para novas tecnologias e capacidades humanas”, prosseguiu o artigo.

Perspectivas e sucesso

Musk certamente sabe como roubar o show – e muitos russos parecem gostar disso, especialmente quando se trata de novos lançamentos.

“O pouso simultâneo dos Falcons é algo que eu jamais esquecerei, meus netos ficarão cansados ​​de eu tanto contar essa história. Estaremos sentados em uma casinha em algum lugar de Marte e eu lhes direi como vi o lançamento do primeiro [Falcon] Heavy ”, escreveu a editora Aleksandra Tskhovrebova, em seu perfil na rede social VK, em fevereiro de 2018, após o lançamento do novo da SpaceX. Outros analistas foram menos eloquentes, mas também elogiaram o feito de Musk. “Acho que isso é superlegal”, descreveu a funcionária municipal Anna Vzorova no Facebook.

Em termos de negócios, Musk também impressiona diversos russos. “A chave para sua popularidade é que ele vem de uma nova geração, uma geração de pessoas empreendedoras e ambiciosas que conseguiram fazer pequenos projetos crescerem e derrubaram os gigantes corporativos da década de 1990”, escreveu o programador Iliá Levin, no site The Question.

O lado obscuro de Musk

Por outro lado, alguns céticos duvidam do sucesso de Musk. Sua empresa Tesla Inc., que produz veículos elétricos, continua não lucrando e apresenta um rombo de US$ 10 bilhões desde que entrou na bolsa de valores em 2010. Analistas do “The Wall Street Journal” dizem que 2018 será crucial para a Tesla: lucro ou falência de risco?

O cientista político Timofei Bordatchev, de Moscou, compara, em tom de ironia, Musk ao líder norte-coreano Kim Jong-un. “Os dois lançam coisas vagas no céu e são legais em colecionar o publicidade. Heróis do nosso tempo”, declarou.

Os profissionais da indústria espacial são menos irônicos, mas também demonstram ceticismo em relação a alguns dos projetos do americano. Especialistas russos desaprovaram, por exemplo, o projeto de Musk de desenvolver BFR (Big Falcon Rockets), que visa a substituir aviões, transportando pessoas de modo super-rápido de um hemisfério ao outro. Segundo eles, a ideia é absolutamente não rentável.

“Há muitas pessoas – os passageiros e a tripulação – no foguete, não há motor suficientemente poderoso para isso”, apontou Ígor Marinin, editor-chefe da revista “Notícias da Cosmonáutica”, ao jornal RBC.

A nova cara do espaço

A maioria dos russos concorda que, para Elon Musk, os negócios sempre vêm em primeiro lugar, o que explica o seu sucesso. “Musk é campeão mundial em arrecadar fundos para seus projetos, é o ‘rei Midas’ das inovações – tudo o que ele diz é abordado quase sem críticas e se transforma em grandes investimentos”, escreveu Aleksêi Ionin, analista no GLONASS NPO, ao jornal “Novaia Gazeta” em 2017.

Paralelamente, Ionin admite que Musk fez uma revolução na indústria espacial – mas não por causa de suas tecnologias. Segundo o analista, o empreendedor mudou a abordagem em relação ao espaço, passando de tecnologias complicadas para aparatos mais simples e baratos. “Ao criar o Falcon 1 [em 2006], ele conseguiu produzir um foguete três a quatro vezes mais barato do que os seus concorrentes, ainda mais barato que os foguetes russos. Foi quando ele fez uma verdadeira revolução”, concluiu.

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