O que acontece com os submarinos nucleares aposentados?

Solomon/Sputnik
Durante muitos anos, um local de armazenamento para reatores de submarinos nucleares russos, situado além do Círculo Polar Ártico, foi conhecido como um dos lugares mais perigosos do mundo e aterrorizava toda a Europa. No entanto, graças à assistência alemã, os potenciais riscos foram minimizados significativamente.

Após a queda da União Soviética, a Rússia herdou um grande número de armas nucleares, como bombardeiros estratégicos, mísseis balísticos intercontinentais e submarinos de propulsão nuclear. Na época, para reduzir a ameaça nuclear ao mundo, Moscou e Washington lançaram iniciativas para diminuir seus arsenais nucleares.

De acordo com uma dessas medidas, o programa Nunn-Lugar, também conhecido como o Programa de Redução de Ameaças Cooperativa, os EUA forneceram à Rússia verba, especialistas e equipamentos para garantir a efetiva desmilitarização nuclear.

Ainda assim, desmantelar um submarino com energia nuclear não é uma tarefa fácil. Além do combustível e dos resíduos radioativos, o ‘coração’ do submarino de propulsão nuclear – isto, seu reator nuclear – deve ser cuidadosamente removido.

Coração do submarino

Devido à radiação, o reator não pode ser simplesmente descartado e é geralmente removido juntamente com a seção em que está localizado no submarino – esta seção serve como um container para evitar qualquer atividade radioativa do reator.

Depois de extraída, a seção do reator é transportada a um local especial de armazenamento, onde é mantida por, pelo menos, 70 anos. Somente após esse período que o nível radioativo é baixo o suficiente para permitir a continuidade do processo.

O primeiro espaço de armazenamento na Rússia para seções de reator nuclear estava localizado além do Círculo Polar Ártico, em uma baía perto do vilarejo de Sayda Guba, na região de Murmansk. Em 1990, o local foi transferido para a jurisdição da Frota do Norte, que o usava então para armazenar seções de reator de seus submarinos nucleares “aposentados”. As seções eram cortadas em instalações especiais e depois rebocadas para a baía de Sayda Guba, onde ficavam armazenadas.

Um dos lugares mais perigosos da Terra

O problema é que não havia um lugar específico para manter essas seções de reator perigosas, e elas se acumulavam na baía, flutuando ao redor das docas.

De acordo com o plano inicial, um espaço propício de armazenamento deveria ser construído em uma década. No entanto, até 2003, não havia nenhum projeto definido para construção – e o número de seções de reator na baía já ultrapassava os 50.

As autoridades europeias, preocupadas com as condições precárias e inadequadas do armazenamento das seções de reator em Sayda Guba – que não só podiam prejudicar o ecossistema ártico, mas também levar a um desastre nuclear –, decidiram agir. 

Das palavras às ações

No início dos anos 2000, europeus e russos iniciaram uma cooperação para reduzir a potencial ameaça em Sayda Guba. Em 2003, o Ministério de Energia Atômica da Rússia e o Ministério da Economia e Tecnologia alemão assinaram um acordo para a construção de um armazém costeiro para seções de reatores de submarinos nucleares.

Ao longo de 15 anos, a Alemanha investiu mais de US$ 700 milhões no projeto, além de fornecer tecnologias e especialistas à Rússia. 

Até 2017, o armazém terrestre para 155 seções de reator foi, enfim, construído. Paralelamente, foi também estabelecida uma oficina de limpeza e pintura para renovar a superfície anticorrosiva das seções dos reatores – procedimento importante que deve ser realizado uma vez por década ao longo do período de 70 anos.

O vilarejo de Sayda Guba ganhou ainda um sistema ferroviário, novas docas e as infraestruturas necessárias para os trabalhadores do complexo.

Segundo a governadora da região de Murmansk, Marina Kovtun, o projeto russo-alemão em Sayda Guba foi “um exemplo único” de cooperação internacional para o desmantelamento nuclear. “Sem a assistência da Alemanha, tais obras de grande escala em Sayda Guba teriam demorado muito”, declarou Kovtun.

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