Por que a Rússia desenvolveu um minitanque que jamais entrou em serviço?

Ciência e Tecnologia
IGOR ROZIN
No início da década de 1960, a União Soviética projetou um dos menores tanques do mundo e o equipou com os primeiros mísseis. No entanto, projeto não seguiu adiante.

O tanque, denominado Objeto 775, foi resultado de um experimento no qual foram integrados dois sistemas de mísseis de defesa aérea – Rubin e Astra – em um veículo.

O modelo acabou sendo lançado em 1964, quando exércitos do mundo todo tentavam desenvolver os primeiros monstros fortemente blindados equipados com mísseis. 

Design

O novo veículo se diferenciava dos tanques “clássicos” na medida em que a tripulação, composta por duas pessoas, ficava sentada em uma cabine isolada na torre. Além disso, quando a torre girava, a equipe rodava junto com ela.

Esse design para acomodar a tripulação “esmagou”, porém, a silhueta do minitanque. Os engenheiros conseguiram reduzir sua altura até 170 cm (cerca de 1 metro abaixo dos outros modelos da época), melhorando, assim, a sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Mas a baixa estatura reduzia a visibilidade dos tripulantes e qualquer obstáculo representava um grave incômodo para o tanque de 1,5 m de altura.

Mísseis

A principal vantagem do Objeto 775 estava em seus armamentos. O modelo foi equipado com uma torre de aço fundido e um lançador de 125 mm, que era capaz de disparar mísseis guiados e não guiados.

“Os mísseis guiados eram equipados com ogivas de carga dirigida e orientados por um sistema infravermelho. Eles podiam atingir alvos a 4 km de distância e penetrar 250 mm de armadura de aço”, explica o analista militar da TASS, Viktor Litovkin.

Segundo o especialista, o tanque tinha um sistema de recarga automatizado, e o disparo – ou lançamento de mísseis – era realizado por um painel de controle.

“Além disso, os mísseis não guiados do tanque possuíam ogivas de fragmentação altamente explosivas que, ao chegarem ao alvo, espalhavam fragmentos em um raio de dezenas de metros e eram uma arma efetiva contra os soldados inimigos.”

Esse tipo de projétil podia atingir os adversários a uma distância de 9 quilometros – comparável, portanto, às capacidades dos tanques de hoje.

No total, o Objeto 775 podia transportar 24 mísseis guiados e 48 não guiados.

Falhas

Apesar das características descritas acima, o novo tanque apresentava grandes falhas.

A principal deficiência do Objeto 775, e que evitou qualquer produção posterior do modelo, estava em seu feixe de luz infravermelha.

“Qualquer obstáculo, até mesmo uma cortina de fumaça, cegava completamente os mísseis guiados do tanque. Na verdade, a característica que deveria ser sua principal força tornou-se sua maior fraqueza”, sugere Litovkin.

Além disso, os sistemas de mísseis são muito mais caros do que as munições padrões de tanques, o que fazia com que o custo do veículo fosse substancialmente maior. Somado a esses fatores, a má visibilidade causada pela torre baixa eliminava por completo todos os benefícios possíveis de integrar os sistemas de mísseis no tanque.

O comando das Forças Armadas soviéticas descartou, assim, a continuidade do projeto e vetou a produção em série do tanque. Existe apenas um tanque do Projeto 775 atualmente, que pode ser encontrado em um museu na região de Moscou.

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