Stanislav Kislov é um homem baixo e resistente com uma risada contagiosa e juvenil. Em 2005, ele fundou a empresa Geoenergetika, que, cinco anos depois, foi considerada a melhor empresa de inovação da Rússia. A empresa oferece aos clientes uma tecnologia única, desenvolvida por seu pai e usada para revestir superfícies metálicas, aumentando a duração das peças em cerca de dez vezes.
A vida inteira do pai de Kislov foi dedicada à Fábrica de Turbina de Kaluga (KTP), que é atualmente uma subsidiária da holding Power Machines, a principal produtora russa de turbinas para usinas energéticas civis e navios da Marinha.
Quando a URSS entrou em queda e o país começou a migrar para uma economia de mercado, a KTP deixou de receber encomendais do governo e cambaleou à beira da falência. Até 2000, a produção industrial russa caiu 20% a 25% em relação a 1989.
Embora os funcionários da fábrica não recebessem havia seis meses, nenhum deixou o trabalho, acreditando que, eventualmente, o país voltaria a precisar de turbinas.
Os russos trabalhavam sem remuneração, mas não podiam continuar sem um objetivo claro. Foi por isso que, na década de 1990, os engenheiros da KTP se viram obrigados a trabalhar por si mesmos, e Kislov pai desenvolveu sua exclusiva tecnologia.
A química de um sonho
A ideia de um revestimento líquido produzido com minerais partiu do renomado cientista russo Vladimir Vernadsky. Certa vez durante as pesquisas, Vernadsky percebeu que certos minerais possuíam características que não podiam ser reproduzidas em laboratório. No entanto, presumiu que essas qualidades podiam ser transferidas para o metal. Em teoria, isso parecia fácil: basta pegar uma pedra, triturar em pequenos pedaços e aplica-la a superfícies metálicas.
“Dizem que Mendeleev viu sua tabela [periódica] em um sonho”, diz Kislov. “Mas é preciso ser um gênio da química para ter um sonho desses. Meu pai nasceu
engenheiro, e ele sonhava com essas tecnologias. Um dia veio essa ideia, de como aplicar minerais ao metal”, completou.
O método de seu pai era radicalmente diferente dos anteriores. A tecnologia utilizava a difusão, quando a massa mineral penetra na estrutura do metal; a obtenção das propriedades pelo metal geraram uma revolução na área da metalurgia. A resistência a corrosão, abrasão e qualquer impacto físico aumentou em dez vezes.
Embora tenha desenvolvido essa tecnologia inovadora, Kislov pai não conseguiu aplicá-la comercialmente. A KTP estava perto da falência, e, somente no início dos anos 2000, com a retomada da economia, a tecnologia entrou em demanda. Quando se aposentou em 2004, Kislov ofereceu ao filho continuar os negócios da família.
Formado em engenharia e economia, Kislov filho soube vender a tecnologia desenvolvida pelo pai. Em 2005, lançou sua própria empresa.
Peculiaridades do marketing russo
A Geoenergetika fica situada em uma colina no centro de Kaluga, um cidade medieval a 180 km a sudoeste de Moscou. A colina oferece vista para bosques de bétulas, para as águas do reservatório de Iatchenskoi e para cúpulas douradas de uma igreja ortodoxa. A unidade de produção da empresa de Kislov fica instalada em um predinho de dois andares e painéis azuis claros. Bem ao lado há um pomar de maçã, que esconde uma bânia (sauna russa) construída recentemente.
“Se você leva seu cliente para uma sauna e o relaxa um ramo de carvalho, as negociações acabam sendo mais suaves”, afirma Kislov, que defende uma abordagem humana com os clientes, enquanto explica “as peculiaridades do marketing russo”.
Caixas de madeiras vivem empilhadas nos corredores das duas oficinas, onde trabalham cerca de 30 funcionários. Nelas estão as peças metálicas dos clientes às quais deve Kislov aplicar sua tecnologia.
“Por exemplo, pegue essas duas estruturas usadas na metalurgia”, diz Kislov, apontando para três caixas abertas, onde dentro estão peças metálicas brilhantes. “Cada uma custa 10 mil euros, mas estão inutilizadas há mais de dois anos. Aplicamos nosso revestimento mineral, e a vida útil quintuplica – veja a economia.”
Cada rublo gasto no revestimento mineral traz ao cliente cinco rublos em receita, estima o empresário. A tecnologia é suspeitosamente fácil quando demonstrada. Não altera a geometria da peça nem exige grandes cálculos de equipamentos e logística. Os especialistas da Geoenergetika conseguem fazer tudo no local. “Além disso, a tecnologia pode ser facilmente adaptada às necessidades da produção de concreto e poderia satisfazer praticamente qualquer condição estabelecida pelo cliente.”
“Comparo nossa empresa com um chef que prepara uma sopa mais salgada ou mais apimentada”, continua Kislov.
“Ao variar as qualidades do mineral, alcançamos vários parâmetros técnicos. Depende do que o cliente deseja. Se precisa de resistência à corrosão, fazemos um tipo de revestimento; se precisa de resistência à abrasão, então fazemos outro.”
Módulo portátil mundo afora
A Geoenergetika ganhou reconhecimento no mercado graças aos testes realizados no renomado Instituto Federal de Pesquisa e Teste de Materiais (BAM), em Berlim.
“Isso é o que nossa tecnologia é capaz de fazer”, diz Kislov, apresentando gráficos produzidos por especialistas alemães. “Praticamente, não há desgaste.”
O aumento da resistência ao desgaste das peças reduz drasticamente os custos de produção e possibiliza o aumento da produtividade. “Como resultado, os custos de fabricação são três vezes menores do que a média global”, afirma Kislov.
A tecnologia também tem significado estratégico para a Rússia.
Segundo Kislov, haverá demanda “sempre que e onde quer que haja um ambiente agressivo, ou onde metal tem atrito com metal, formando um par abrasivo”. Os clientes da Geoenergetika são indústrias estratégicas, e o primeiro foi a KTP, que ainda produz turbinas para submarinos nucleares.
Atualmente, a Geoenergetika trabalha com empresas de uma dúzia de setores. Entre os seus clientes estão as três principais fábricas metalúrgicas da Rússia e várias usinas termelétricas e hidrelétricas nacionais; o grupo alemão SMS, líder mundial em equipamentos metalúrgicos, é um dos maiores clientes estrangeiros.
Cada vez mais mais clientes de Kislov pedem que ele desenvolva uma versão móvel do equipamento ou venda a licença de produção. O empresário está convencido de que, dentro de um ano, surgirá o primeiro módulo portátil para aplicar o revestimento.
“Por enquanto, nós mesmos aplicamos o revestimento. Isso é lógico e economicamente justificável em um raio de mil quilômetros. Mas como podemos aplicar esse revestimento no Brasil ou na Índia?”, diz Kislov. “Temos recebido pedidos do mundo todo, e nosso modelo de negócios em breve evoluirá.”