Sistema de navegação por satélite Glonass é uma das tecnologias exploradas por Brics
Press PhotoOs líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) concordaram em aprofundar parcerias na área científica e empregar conjuntamente tecnologias espaciais e de navegação por satélite, incluindo o sistema russo Glonass, durante a última cúpula do Brics, realizada em julho em Ufá, na Rússia central.
“Os parceiros do bloco vão focar em projetos de exploração prática do espaço, que atendam a necessidades econômicas e de defesa”, sugere Ivan Moiseev, diretor científico do Clube Espacial. No entanto, as áreas de trabalho para o desenvolvimento do setor espacial ainda não foram definidas.
“Ocorre que os cinco países apresentam características muito diferentes. Além disso, se no início da era espacial havia um grande avanço a cada ano, hoje as novas descobertas estão cada vez mais difíceis e caras, exigindo muito mais tempo”, explica Moiseev.
Exemplos disso, segundo o cientista, são a sonda “Rosetta”, da agência espacial europeia, e a estação “New Horizons”, da norte-americana Nasa, que já estão em operação há 10 anos. “E olha que a capacidade econômica dos países do Brics é substancialmente menor a dos EUA.”
Somado ao alto custo de operação, as missões espaciais tripuladas, os telescópios espaciais e a exploração planetária não geram benefícios econômicos diretos, e são basicamente guiadas pelo interesse público na exploração do universo.
Promessa brasileira
Para Moiseev, se o bloco quiser se consolidar no setor espacial será necessário conduzir projetos factíveis e significativos. Porém, o cientista considera “impossível” a criação de uma estação espacial internacional conjunta do grupo.
“A construção de uma estação espacial nesse formato é impossível, pois requer enorme investimento financeiro e, por razões geográficas, a estação estaria em uma posição extremamente desfavorável tanto para a Rússia, quanto para a China”, destaca o diretor do Clube Espacial, ao relembrar que Moscou está comprometida com a ISS (da sigla em inglês, Estação Espacial Internacional) até 2025.
Entre as iniciativas promissores do Brics na esfera espacial, Moiseev cita, por exemplo, o interesse russo em substituir a Ucrânia em um projeto com o Brasil para a construção do veículo de lançamento Cyclone 4, com o qual será possível lançar satélites em órbita baixa e média.
No âmbito desse projeto, a Ucrânia era responsável pela construção da plataforma e do foguete de lançamento. O primeiro lançamento estava previsto para 2006, mas o foguete não ficou pronto. Este ano, as autoridades brasileiras se recusaram a dar continuidade ao programa.
No final de julho, o vice-primeiro ministro russo Dmítri Rogôzin declarou que o país já havia apresentado sua proposta de cooperação. “Instalamos diversas estações Glonass no Brasil e temos planos em ajudar o país a desenvolver centros espaciais”, disse à imprensa em Moscou.
Altos e baixos
O programa mais bem-sucedido entre os Brics no setor é o projeto sino-brasileiro de desenvolvimento e lançamento de satélites para o estudo de recursos naturais da Terra. Em meados de julho, mais um satélite criado por institutos de tecnologias espaciais da China e Brasil foi colocado em operação.
Mas nem todos os programas tiveram a mesma sorte. A cooperação russo-indiana para exploração lunar, intitulada Chandrayan-2, foi cancelada em 2013, depois de as autoridades da Índia anunciarem que conduziriam o plano independentemente.
Paralelamente, a cooperação entre Pequim e Moscou tem sido ofuscada pela tentativa mal sucedida de desenvolver de uma pequena sonda chinesa para exploração de Marte. Outro grande empecilho para o avanço da parceria é o fato de os países serem concorrentes na atividade de lançamento de satélites.
“Apesar de os mercados dos países em desenvolvimento ser muito promissor para a Rússia, a China já trabalha ativamente eles”, concluiu Moiseev.
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