O legado de Vassíli Vereschaguin

Criador de vários desenhos gráficos e quadros famosos, Vereschaguin foi um dos primeiros artistas russos a ser amplamente reconhecido no exterior.
Passeio pelo rio, década de 1900.

O famoso artista russo Vassíli Vereschaguin nasceu em 26 de outubro de 1842. Entusiasta e filantropo, era um viajante irreprimível. Viveu em Moscou, São Petersburgo, Paris, Munique, Tashkent e visitou vários países, como o Turquestão, Cáucaso, Palestina, EUA, Filipinas, Japão, Cuba, entre outros.

Pego de surpresa, 1868.

Na arte russa, ele se mantém à parte de todos os movimentos. Não possui mentores nem sucessores. Em suas séries, Vereschaguin retrata a guerra em todo o seu pavoroso esplendor.

Adro da igreja de S. João Batista, o Precursor, em Iaroslavl

Vereschaguin formou-se ao longo dos anos 1860, época em que foi fortemente influenciado pela ideologia do Iluminismo e da filosofia positivista. Foi quando seu Weltanschaung, ou visão de mundo, tomou forma: o materialismo incondicional, o ateísmo, o profundo interesse pela ciência, o desejo do conhecimento positivo, a hostilidade a tudo que fosse referente ao Estado, e a convicção na educação, civilização e progresso.

Comerciante, Mumbai 1874-1876.

Segundo ele, a vida dos povos indígenas, e até mesmo o mundo animal – tudo o que vive fora das leis da razão, guiado pelo instinto – eram um depósito de experiência inexplorado e um “bom senso adquirido ao longo de séculos e transmitido através das gerações”. Por essa razão, Vereschaguin considerava indispensável estudar todas as civilizações humanas espalhadas pela superfície da Terra.

Interior da igreja S. João, o Divino, em Rostov Iaroslavski, 1888.

Vereschaguin apreciava imagens de nitidez fotográfica, as quais considerava um análogo da “evidência” nas ciências naturais e, deliberadamente, esforçou-se para garantir que suas pinturas não sofressem em comparação com a fotografia . Foi assim que ele desenvolveu seu método de pintura – o único do gênero na arte russa da segunda metade do século 19. De alguma forma, suas obras parecem contestar a própria credibilidade e objetividade da natureza com sua fixação mecânica.

O afegão, 1867-1868.

A primeira vez que Vereschaguin alcançou a fama foi em 1873-1874, quando exibiu uma série de pinturas, esboços e desenhos inspirados no Turquestão. Em 1867, ele se alistou no serviço do governador-geral do Turquestão, K.P. Kaufman. No exercício de suas funções, produziu muitos desenhos da natureza, manteve um diário de viagem detalhado, coletou espécimes etnográficas e zoológicas e até mesmo se envolveu em escavações arqueológicas.

Caçador rico do Quirguistão com um falcão, 1871.

Em sua versão final, a série sobre o Turquestão inclui 13 pinturas, 81 esboços e 133 desenhos. Essa foi a coleção exibida na primeira exposição solo de Vereschaguin em Londres, no ano de 1873, e depois em São Petersburgo e Moscou, em 1874.

Quirguistão, Yurts à beira do rio Chu, 1875.

A visão de Vereschaguin do Turquestão não era o Oriente harmonioso e holístico retratado por Delacroix. Ele retrata o deslumbrante sol da Ásia Central, mas também capta um lado sombrio e selvagem da vida oriental, o qual descreve como a “barbárie asiática” num misto de indignação e protesto.

Celebração, 1868.

O ponto culminante da série do Turquestão é o conjunto de pinturas conhecidas como “Os Bárbaros”. É composto por sete quadros (o conceito original incluía nove, mas duas peças não foram concluídas) com um tema comum: a aniquilação trágica de um grupo militar russo cercado e dizimado por tropas de Bukhara.

Taj Mahal, Agra, 1874.

Sem esperar o encerramento da exposição em São Petersburgo, ou a conclusão das negociações sobre a venda da série do Turquestão, o artista partiu da Rússia para a Índia em abril de 1874. Sua viagem pelo território indiano durou dois anos. Vereschaguin viveu em Mumbai, Agra, Déli e Jaipur, antes de iniciar uma jornada de três meses pelo Himalaia oriental no final de 1874.

(Monte) Kazbek, 1897.

O artista prosseguiu viagem, mesmo após ser alertado sobre os meses de inverno rigoroso, e quase pagou com sua vida. Abandonado pelos guias, a uma altitude de 4.267 metros, ele quase morreu congelado. Ainda assim, produziu cerca de 150 desenhos na Índia.

Estátuas dos três principais deuses budistas, Monastério de Chingachelim, Sikkim

Depois das paisagens do Turquestão, marcadas pelo sol implacável, a Índia parecia exoticamente intensa e vivaz.

Os Vencedores

A série sobre os Balcãs, que foi considerado o ponto culminante da criatividade de Vereschaguin, foi criada em Paris nos anos de 1878 e 1879 (algumas pinturas foram produzidas mais tarde), com base em estudos e em uma coleção de artigos originais importados da Bulgária.

Os Perdedores: um réquiem

Duas das telas são “O Vencedor” e “Os Perdedores: um Réquiem”, inspiradas nas batalhas sangrentas em Telish. Quase nenhuma das criações de Vereschaguin retratam cenas reais de batalhas. Ele pinta os momentos que antecediam ou imediatamente após o combate – o “aspecto psicológico” diário da guerra, conforme expresso por Turguénev. Um equivalente literário pode ser encontrado nas obras de Tolstói.

Santuários em Jerusalém, 1870.

Na Palestina, ele produziu cerca de 50 desenhos; em sua maioria, paisagens naturais e de monumentos de histórias bíblicas que Vereschaguin não poetiza nem estiliza, mas procura retratar com precisão absoluta. Desprovido de sentimento religioso, ele pinta a Terra Santa sob um ponto de vista realista e histórico.

Ataque com a baioneta! Viva! Viva!, 1887-1895.

Iniciada em sua volta a Paris, essa série de pinturas sobre a guerra de 1812 tomou o resto dos dias do artista. No entanto, o conceito sofreu mudanças significativas: seu conjunto de pinturas retratando Napoleão e a campanha russa se transformaram em uma epopeia histórica nacional.

Napoleão e o marechal Loriston, 1900.

Na série “napoleônica”, Vereschaguin não só representou as cenas de batalha, mas descobriu em si mesmo um papel completamente novo como historiador e psicólogo. Ele foi mais atencioso do que nunca ao criar uma representação psicológica.

Apoteose da guerra, 1871.

Vereschaguin também escreveu obras literárias: prosa autobiográfica, memórias, ensaios sobre viagens e artigos sobre arte, usando a imprensa como um meio de expressão. Seus artigos pedindo o fim da guerra adquiriram especial ressonância. A autoridade de Vereschaguin como “opositor da guerra” era tal que ele foi candidato ao primeiríssimo prêmio Nobel da Paz, concedido em 1901.

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