Saiga, o raro antílope das estepes

Viagem
ANNA SORÔKINA
Esses animais incomuns têm uma enorme corcova no nariz e vivem em nosso planeta há tanto tempo que até viram mamutes. A parte triste é que sobraram muito poucos deles na natureza – principalmente porque humanos os caçam por seus chifres.

O povo calmuco, de origem mongol, tem uma lenda sobre um Ancião Branco, “o mestre da terra”, que protege todas as coisas com vida. Ele é frequentemente retratado com seu fiel companheiro, um pequeno saiga, animal de aparência inusitada que tem o nariz parecido com uma corcova.

  1. Contemporâneos dos mamutes

Não sobraram muitas espécies animais em nosso planeta que existiram ao mesmo tempo que os mamutes. A maioria delas são animais de grande porte, como bois-almiscarados, bisões e renas. Mas entre eles também está o saiga, um antílope rápido e tímido que pesa menos de 40 quilos e se alimenta das copas das plantas suculentas. Também é chamado de antílope das estepes porque vive apenas nesse tipo de vegetação de planície.

Todas as tentativas de domesticar o saiga falharam – diferentemente do cervo ou do bisão, eles precisam estar ao ar livre e constantemente em movimento.

Cerca de 200 anos atrás, era possível encontrar saigas nas regiões de estepe das montanhas dos Cárpatos, do oeste da Ucrânia à China. Mas, quando as áreas começaram a ser ativamente povoadas, o saiga teve que sair e dar espaço para os humanos.

Hoje, saigas vivem não apenas na Rússia (na Calmúquia e na região de Ástrakhan), mas também no território de ex-repúblicas soviéticas onde existem estepes. A maior população (800.000) pode ser encontrada no Cazaquistão, seguida pela Rússia (14.000), Mongólia (cerca de 10.000) e Ucrânia (oficialmente 5.000, mas acredita-se que o número seja menor).

(Saigas bebendo água perto de um gato da estepe. Para seus ancestrais, em vez de um gato da estepe, poderiam encontrar um tigre-do-cáspio, que viveu por ali até a década de 1950)

  1. Chifres milagrosos

A população de saigas diminuiu em grande parte por causa de caçadores atrás de seus chifres. Na medicina tradicional chinesa, acredita-se que os chifres de saiga podem ajudar a tratar uma grande variedade de doenças, desde dores de cabeça até convulsões. Portanto, não é surpreendente que esses chifres tenham preço alto na China.

Os esforços para combater a caça furtiva de saigas remontam aos tempos soviéticos e continuam até hoje. Na década de 1920, o saiga quase foi extinto, mas, nos anos 1950, os cientistas soviéticos restauraram a população de saiga, que era superior a um milhão na época. Pouco depois, porém, a caça ao antílope da estepe começou novamente, e os países onde a espécie estava presente os colocaram sob proteção do Estado.

Como resultado da medida, dos apenas 20.000 saigas que habitavam o Cazaquistão em 2003, sua população cresceu para 800.000 em 2021.

Para preservar esta espécie na Rússia, foi estabelecida em 1990 a Reserva Natural da Terra Negra, na Calmúquia. Atualmente, é o principal habitat da espécie do país.

“Estamos combatendo caçadores furtivos junto com as agências de aplicação da lei”, explica Tatiana Kotorova, vice-diretora da reserva. 

“O saiga está listado no Livro Vermelho, então os caçadores furtivos podem ser, de fato, presos – de dois a oito anos, além de multa de cerca de 27.000 dólares”, acrescenta.

Nos últimos anos, o número de saigas na reserva cresceu significativamente, para cerca de 14.000 animais. Os funcionários contam que agora existem tantas saigas na reserva que eles começaram a se espalhar de forma independente para o norte da região.

Mas também surgiu um novo problema. Muitos fazendeiros locais usam cercas elétricas para evitar que as ovelhas deixem seus pastos. Os saigas são muito rápidos e podem atingir velocidades de até 80 quilômetros por hora; se houver uma cerca elétrica no caminho, nem sempre conseguem perceber a tempo, levando a tristes consequências.

“Estamos negociando com os agricultores para que não coloquem cercas elétricas. Esta é a natureza selvagem e os saigas devem poder correr para onde quiserem”, diz Tatiana.

  1. Nariz para berrar

As características naturais dos saigas os tornam aptos a viver nas vastas extensões das estepes. Quando correm em rebanho, levantam muita poeira, porém seus narizes bulbosos permitem que respirem livremente mesmo quando o ar está cheio de resíduos. O segredo é que seus narizes são forrados de pelos por dentro, que filtram o ar.

Além disso, saigas usam o nariz para produzir sons altos quase como as trombas de elefantes. Isso é especialmente perceptível quando acasalam, e um saiga macho pode esticar o nariz para diminuir o som que produz. A regra geral na natureza é que quanto mais baixo o som, maior o animal, e o saiga quer mostrar aos rivais que é maior e mais assustador. Saigas são muito tímidos na maioria das vezes, mas, por outro lado, eles precisam aprender a se defender e garantir sua parceira. E olha que eles devem enfrentar esses problemas diversas vezes, já que os saigas do sexo masculinos possuem haréns.

(Assim é uma batalha entre saigas durante o período de acasalamento)

  1. Sacrificam-se pelas gerações futuras

Saigas se reproduzem em novembro e dezembro. Embora existam mais saigas do sexo feminino, os machos ainda lutam entre si por elas. Se a competição do berro não for suficiente para resolver quaisquer conflitos, os machos podem então travar chifres em uma briga, e o vencedor fica com o harém inteiro. No passado, um macho poderia ter cerca de 15-20 fêmeas, mas, devido à caça furtiva, o número de machos diminuiu e agora a proporção é de cerca de 30 fêmeas para cada macho.

Durante a época de acasalamento, alguns machos ficam tão ocupados que sobra pouco tempo para comer, fazendo com que fiquem fracos. Isso é perigoso porque os torna presas fáceis para os lobos das estepes – seu único inimigo na natureza.

“É como se ele se sacrificasse para que os lobos não tocassem nas fêmeas grávidas, para que as novas gerações sobrevivam”, explica Tatiana.

Aliás, saigas bebês começam a correr apenas algumas horas após o nascimento.

  1. Evitam humanos

Saigas são animais tímidos. Têm medo de pessoas e mantêm distância. É por isso que na Reserva Natural da Terra Negra, eles podem ser observados apenas de um abrigo especial.

“Para ver saigas, recomendamos vir quando o clima estiver quente, quando todos eles saem para beber e você pode vê-los literalmente à distância de um braço”, diz Tatiana.

No inverno, os saigas se camuflam. Sua pelagem muda de cor de preto para branco, tornando-os muito mais difíceis de enxergar na neve. Também são vistos com muito menos frequência em rebanhos.

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