Assim é o lago mais misterioso da remota região russa de Tchukotka

NASA/Getty Images
Sombrio e congelante, lago distante da civilização é fonte de lendas e fauna única. 

“Se alguém tivesse que ser castigado com o desespero do desconhecido e da solidão, um homem que passou toda a sua vida na cidade e merece tal punição deveria ser jogado nas margens do Elguiguítguin [Elgygytgyn]”, escreveu o geólogo Vassíli Beli sobre o lago.

Este lago com o nome quase impronunciável – Elguiguítguin – fica além do Círculo Polar Ártico, no coração de Chukotka, e é um dos lugares mais inacessíveis da região. É também ideal para ficar sozinho, pois fica a 200 km da cidade mais próxima, Pevek.

A maneira mais confortável de chegar a Elguiguítguin é de helicóptero partindo de Anadir, pois não há estrada para o lago. Mas também há outras opções para quem quiser se aventurar na região: quadriciclos a partir de Pevek ou rafting no rio Enmyvaamu-Anadir.

O Elguiguítguin é o lago mais profundo de Tchukotka, com 12 quilômetros de diâmetro e 175 metros de profundidade. Visto do helicóptero, o lago tem forma quase perfeitamente redonda e lembra um olho preto azulado. Mas nem sempre é assim.

Elguiguítguin significa “o lago branco” ou “o lago de gelo derretido” no idioma local, tchukchi. Na maior parte do ano sua superfície fica coberta de gelo, e em alguns anos o gelo não tem tempo de derreter nem mesmo no verão.

As margens do lago são de solo permafrost (permanentemente congelado) e montes. 

O inverno em Tchukotka dura dez meses, com temperaturas variando entre -15°C e -39°C. 

No verão, a temperatura ambiente pode chegar a 34°C, mas ainda assim vê-se uma camada de gelo na superfície. A temperatura da água em Elguiguítguin nunca ultrapassa 3°C.

“Não sei com o que comparar. Talvez, se você derramar uma garrafa de tinta muito grossa em uma folha de papel deslumbrante, fique bem”, descreveu o geólogo Oleg Kuvaiev.

Os moradores locais, porém, o chamam de “um lugar estranho e assustador”, envolto em lendas. Segundo uma delas, nas profundezas do lago vive um monstro antigo, Kalilgu, semelhante a um réptil gigante com uma boca grande – algo como o famoso monstro do Ness, na Escócia. Acredita-se que, às vezes, Kalilgu flutua das profundezas à superfície.

É comum a água do Elguiguítguin se movimentar – daí os moradores os confundem com Kalilgu. Mas, segundo outra versão, é uma possível saída de metano da crosta terrestre.

De qualquer forma, esse lago profundo tem todas as razões para ser objeto de lendas: tem mais de 3,5 milhões de anos. O que o torna único é, antes de tudo, sua origem.

Por muito tempo acreditou-se que Elguiguítguin teria se formado na cratera de um vulcão. Isso chegou a ser confirmado pela análise das rochas, que mostraram sua origem vulcânica. Mas em 2009 uma equipe internacional de cientistas perfurou um buraco de 225 metros de profundidade na base de Elguiguítguin. Lá encontraram uma rocha que só se forma em crateras resultantes do impacto da Terra com um objeto semelhante a um meteorito. Isso pôs fim à controvérsia sobre sua origem: o lago surgiu após a queda de um meteorito.

Também acredita-se que Elguiguítguin nunca congelou por completo. Enquanto a Europa e a América estavam cobertas de gelo há milhões de anos, no território da atual Tchukotka não havia geleiras. Portanto, o lago preservou um ecossistema único, e seu interior é uma fonte de dados sobre a vida de Tchukotka nos últimos 3,5 milhões de anos. Elgygytgyn foi comparado com o Baikal e as geleiras da Groenlândia em importância para a pesquisa.

As águas do lago estão repletas de peixes, razão pela qual atrai fãs de caminhadas e pesca. É também o lar de espécies endêmicas, representantes da flora e fauna encontradas apenas no Elguiguítguin.

Raposas, lobos e ursos vivem nos entornos do lago. Por isso os viajantes geralmente carregam armas de fogo – no caso de um encontro repentino com um predador.

Diz-se também que a viagem a Elguiguítguin não é apenas para os fortes de espírito (é chamado de “o lugar da força” e “o olho da Terra”), mas também para pessoas com boa saúde, para aguentar as variações. O clima na região é bastante instável: no verão, a temperatura e a pressão atmosférica podem mudar várias vezes ao longo de um único dia.

VEJA TAMBÉM: Fenômenos espetaculares que podem ser vistos nos céus da Rússia

Caros leitores e leitoras,

Nosso site e nossas contas nas redes sociais estão sob ameaça de restrição ou banimento, devido às atuais circunstâncias. Portanto, para acompanhar o nosso conteúdo mais recente, basta fazer o seguinte:
Inscreva-se em nosso canal no Telegram t.me/russiabeyond_br

Assine a nossa newsletter semanal

Ative as notificações push, quando solicitado(a), em nosso site

Instale um provedor de VPN em seu computador e/ou smartphone para ter acesso ao nosso site, caso esteja bloqueado em seu país.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies