As origens do palácio russo feito de terra (FOTOS)

Vadim Razumov
Construído com técnica já esquecida, edifício ‘orgânico’ guarda inúmeras lendas e foi, a certa altura, lar da Ordem de Malta.

A origem do Palácio do Priorado, no povoado de Gatchina, perto de São Petersburgo, está ligada à história da Ordem de Malta – uma das ordens cavalheirescas mais antigas da Igreja Católica Romana e que sofreu perseguição após a Revolução Francesa. Paulo 1º era patrono dos Cavaleiros de Malta, e por isso foi procurado.

O imperador concordou em ajudar e, em janeiro de 1797, assinou uma convenção sobre o “Grande Priorado” da Ordem de Malta, a ser criado no território da Rússia. Em novembro de 1798, Paulo 1º recebeu o título de Grão-Mestre da Ordem.

O imperador entregou o Palácio Vorontsov, em São Petersburgo, à liderança da Ordem de Malta e decidiu construir uma residência de verão para o Príncipe Conde, prior da Ordem, em Gatchina, onde o próprio Paulo 1º já tinha um palácio.

O Príncipe Conde jamais viajou a Petersburgo, mas, até a construção ser concluída, Paulo 1º, como Grão-Mestre, já era um dos líderes da Ordem de Malta. Esses acontecimentos deram origem à lenda de que existe uma passagem subterrânea que liga o Palácio Gatchina ao Palácio do Priorado.

O Palácio do Priorado (antigo Palácio Vorontsov) foi projetado pelo arquiteto e engenheiro Nikolai Lvov, que supervisionou a construção. Lvov foi o autor de várias igrejas e mansões neoclássicas em São Petersburgo, Moscou, Torjok e arredores.

Para construir o palácio, Lvov desenvolveu uma nova tecnologia e usou o solo como material. Antes, terra prensada era usada para fortificações, mas Lvov criou uma tecnologia que possibilitava erguer um castelo inteiro de terra – e em terrenos pantanosos.

O Palácio do Priorado é o único edifício de terra sobrevivente na Rússia, embora Paulo 1º apoiasse as experiências do engenheiro e tivesse emitido um decreto estabelecendo uma faculdade de construção com terra prensada em 1797.

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O filho de Paulo 1º, o imperador Aleksandr 1º, transferiu o palácio para o tesouro do Estado. Por um curto período, abrigou uma igreja luterana. No entanto, na maioria das vezes, o edifício permaneceu praticamente sem uso.

Um século depois, o palácio foi modernizado: contava agora com sistemas de abastecimento de água e esgoto e foi adequado para uso durante todo o ano. Acabou sendo convertido em aposentos para cortesãos.

No início do século 20, o Palácio do Priorado foi transformado em um espaço de arte e abrigou exposições diversas.

Durante a Primeira Guerra Mundial, funcionou como hospital militar aqui e, durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas tentaram explodi-lo.

Porém, a técnica de construção de Lvov mostrou ser de tão alta qualidade que as paredes do palácio resistiram à explosão, danificando somente parte do telhado. O palácio só veio a ser restaurado nos anos 1980.

O Palácio do Priorado e o parque ao redor sempre atraíram artistas. Existem inúmeras paisagens, desenhos e gravuras representando este lugar. A Galeria Tretyakov, em Moscou, por exemplo, possui uma paisagem de Andrêi Martinov com o lago em primeiro plano e o palácio, ao fundo.

Representações do palácio também podem ser encontradas nos documentos de Taras Chevtchenko e Vassíli Jukóvski. No século 20, o Palácio do Priorado e o parque circundante inspiraram os artistas simbolistas e do “Mir Iskusstva” (Mundo da Arte) Nikolai Lansere, Mstislav Dobujinski e Alexandre Benois.

O Palácio do Priorado recebeu o status de museu apenas em 2002. Desde 2004, o espaço recebe exposições. A capela do palácio possui excelente acústica e também é usada como sala de concertos. Quando o palácio foi aberto aos visitantes, nasceu uma lenda contemporânea: dizem que no dia da abertura, um de seus relógios do século 18, que havia parado nos anos de abandono, começou a tilintar novamente.

Paulo 1º com símbolos maçônicos. Palácio ao fundo

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