Truques de beleza desde a Rus Kievana

Cosméticos só entraram na vida das russas a partir da década de 1970

Cosméticos só entraram na vida das russas a partir da década de 1970

Vostock-Photo
As mulheres russas sabiam como manter a aparência e se embelezar muito antes de empresas de cosméticos como L’Oréal, Dior e outras chegarem à Rússia pós-URSS. Conheça alguns recursos usados pelas beldades eslavas – da antiga Rus Kievana até o regime soviético – que podem ser úteis ainda nos dias de hoje.

Antiga Rus e Idade Média (séc. 9 ao 16)

Manter uma aparência bonita sempre foi um desafio para os vaidosos, e os cosméticos, é claro, sempre foram a solução. Blush, clara de ovo, antimônio, frutas silvestres, sucos de vegetais, e ervas – todos esses recursos eram amplamente conhecidos na antiga Rus. A expressão russa “sangue com leite” parte de um suposto grau superlativo de beleza feminina: pele literalmente branca e bochechas rosadas.

Suco de pepino ou farinha de trigo, por exemplo, eram utilizados para clarear a pele. Hoje em dia, é possível encontrar muitas receitas para máscaras caseiras com base nesses ingredientes. Além de cosméticos naturais, as mulheres medievais – sobretudo das classes mais altas – também usavam ceruse (tinta branca para o rosto).

“Boiarinia”, de Klavdi Lebedev (Imagem: Klavdi Lebedev)“Boiarinia”, de Klavdi Lebedev (Imagem: Klavdi Lebedev)

Beterraba, suco de frutas vermelhas (cereja, framboesa) e até mesmo lírio-do-vale eram usados para conferir um rubor natural; e a fuligem do forno, ou antimônio, era usada na função de rímel e lápis de sobrancelha.

Os visitantes estrangeiros ressaltavam com frequência o uso indevido de cosméticos entre as mulheres russas na Idade Média. O diplomata inglês Giles Fletcher, que atuou como embaixador na Rússia em 1588, tinha uma explicação para isso: segundo eles, devido ao trabalho árduo e ao calor do forno escaldante, as mulheres envelheciam rapidamente, e, portanto, o clareamento e o rubor eram essenciais.

O antimônio e a ceruse são tóxicos devido ao teor de chumbo, e também porque o rubor artificial continha sulfureto de mercúrio – mesmo em pequena quantidade, essas substâncias são mortais.

Rússia tsarista (do séc. 16 ao 20)

Cosméticos e moda eram certamente diferentes para os vários estratos sociais. O padrão de “pele branca, bochechas rosadas e sobrancelhas negras” permaneceu em voga por um longo período, especialmente entre membros das classes média e alta.

Nos séculos 16 e 17, a palidez aristocrática era a principal tendência de beleza. Quanto mais pálido, mais rico se parecia – porque os corados eram geralmente camponeses que trabalhavam com sol a pino, e os aristocratas de alto escalão e indolentes eram mais propensos a permanecer dentro de casa ou cobertos.

“A família de um comerciante do século 18”, de Andrêi Riabuchkin (Imagem: Andrêi Riabuchkin)“A família de um comerciante do século 18”, de Andrêi Riabuchkin (Imagem: Andrêi Riabuchkin)

As mulheres percebiam que o pó comum não era suficiente para branquear o rosto, e as tintas com traço de chumbo não proporcionavam uma consistência perfeita. Isso resultou no surgimento dos primeiros cremes, feitos de giz esmagado e ceruse misturados com ovo e vinagre, dando à usuária uma pele pálida, lisa e brilhante. Era extremamente seco, e, ao sorrir, havia o risco de abrir rachaduras no rosto.

No século 17, as mulheres criaram o primeiro iluminador, feito de pérolas genuínas dissolvidas em vinagre ou suco de limão, e depois secas até se tornarem um pó.

A odontologia caseira era, porém, a prática mais peculiar em termos de cosméticos russos. Pela tradição, os dentes eram higienizados com casca de árvore, e estrangeiros notavam que algumas mulheres tinham dentes pretos.

O giz podia ser usado como um recursos natural e barato para clarear os dentes,  embora fosse um método lento e pouco eficaz. Em paralelo, uma pasta feita com componentes do mercúrio, também foi ganhando popularidade.

Em até três dias, os dentes ficavam perfeitamente brancos. Mas os efeitos positivos dessa inovação também eram curtos: em alguns meses, a substância tóxica provocava o desgaste excessivo do esmalte dos dentes, fazendo com que estes apodrecessem.

Em todas as épocas, as mulheres se copiaram. A lógica é simples: se uma dama da nobreza tem dentes pretos, então deve estar na moda. Mulheres de estratos sociais mais baixos, em vez de mercúrio, usavam banha de porco com fuligem misturada com cola de peixe. Foi somente Pedro, o Grande que percebeu o perigo da pasta à base de mercúrio e proibiu o uso de elementos da substância na fabricação de cosméticos.

Rússia soviética

O período mais interessante na história da cosmética russa foi durante a União Soviética. Os padrões de beleza mudavam a cada década, e os cosméticos já eram amplamente produzidos no exterior, mas escassos na Rússia.

O uso cosmético “decorativo” era reprovável no início da Rússia soviética pela alusão à vida burguesa. Mas o desejo das mulheres de ficarem bonitas triunfou sobre a ideologia do Estado, e a variedade de produtos de cosméticos e perfumaria cresceu. Em 1925, a lendária fragrância “Krasnaia Moskva” (Moscou Vermelha) foi lançada, e hoje, embora seja difícil encontrá-la, ainda é vendida em algumas lojas.

Reprodução do quadro “Svetlana”, de Ígor Grabar (Foto: RIA Nôvosti)Reprodução do quadro “Svetlana”, de Ígor Grabar (Foto: RIA Nôvosti)

Somente a partir da década de 1970 que cosméticos como rímel, sombra e batom passaram a fazer parte da vida cotidiana das mulheres russas.

As fábricas domésticas produziam rímel em blocos sólidos de corante preto. Para aplicá-los sobre os cílios, era preciso cuspir neles e depois dividir os cílios com uma agulha. O batom também era um produto multifuncional; por exemplo, as mulheres usavam-no não apenas em seus lábios, mas também nas bochechas, como blush.

Hoje em dia, graças à globalização, não há escassez de cosméticos no país.

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