Polícia faz buscas em teatro e casa de diretor anti-Kremlin

Gogol Center, em Moscou, é conhecido por apresentações de cunho “livre e progressista”

Gogol Center, em Moscou, é conhecido por apresentações de cunho “livre e progressista”

Dmítri Serebriakov/TASS
Operação foi deflagrada por suposto caso de corrupção, segundo investigadores. Opositores do governo não descartam motivação política no caso.

O teatro contemporâneo Gogol Center, em Moscou, foi alvo de uma busca na manhã desta terça-feira (23), como parte de uma investigação sobre um suposto caso de corrupção. A polícia também conduziu uma operação na casa do diretor artístico do teatro, Kirill Serebrennikov, conhecido pelas críticas ao governo e à crescente influência da Igreja Ortodoxa Russa.

“Ninguém foi detido ainda, interrogatórios e outras etapas de investigação serão conduzidas”, disse uma fonte da polícia à agência Tass.

Durante a operação, a entrada para o teatro ficou bloqueada, e os atores e funcionários foram impedidos de deixar o prédio e solicitados a desligarem seus celulares. Serebrennikov estava em seu apartamento e não foi capaz de fazer contato com os jornalistas. Sabe-se, no entanto, que o diretor estava acompanhado de seu advogado e foi levado para interrogatório como testemunha.

A porta-voz do Comitê de Investigação, Iúlia Ivanova, afirmou que as buscas se referem a um caso de 2014 envolvendo financiamento estatal para difusão da arte. Cerca de 200 milhões de rublos (US$ 3,5 milhões) teriam sido desviados por “indivíduos ainda não identificados” da liderança da organização sem fins lucrativos Estúdio 7 – grupo criado em 2012 por Serebrennikov para seus cursos de atuação e direção, e depois transferido para o Gogol Center como um de seus residentes.

Segundo Ivanova, a operação também foi realizada em outras localidades.

Fontes anônimas na polícia relataram buscas em pelo menos 15 endereços, incluindo o centro de arte contemporânea Vinzavod (onde o Estúdio 7 encenou seu primeiro espetáculo) e residências de outros membros do teatro e de ex-funcionários da Prefeitura de Moscou que eram então responsáveis pelo repasse de verbas públicas.

Recentemente, o chefe da Secretaria de Cultura de Moscou, Aleksandr Kibovski, afirmou que o Gogol Center acumula quase 80 milhões de rublos (US$ 1,24 milhão) em dívidas. Procurado por jornalistas, Kibovski disse não saber se há conexão com entre essas dívidas e a operação deflagrada nesta terça.

Serebrennikov é conhecido por críticas ao Kremlin (Foto: Alex Yocu/Gogol Center)Serebrennikov é conhecido por críticas ao Kremlin (Foto: Alex Yocu/Gogol Center)

Palco armado

Nos blogs de teatro, o Gogol Center é definido como “o coração do teatro livre e progressista”, o que suscitaria desconfiança entre as autoridades.

Dezenas de figuras da classe artística russa saíram em defesa de Serebrennikov, e a administração do Gogol convocou as pessoas a protestarem em frente ao teatro.

O famoso ator e bailarino russo Mikhail Baryshnikov sugeriu que motivos políticos estariam por trás do que chamou de “repressão” a liberdade. “Um artista do qual a Rússia deve se orgulhar está sendo degradado e humilhado”, disse Baryshnikov.

“Acredito que Kirill, como um artista que critica abertamente muitos aspectos de nossa visa, atraiu a atenção das autoridades”, declarou à rádio Echo Moskvy o diretor de teatro e cinema Vladímir Mirzoev.

O porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, disse que as buscas não têm “nada a ver com política ou arte” e que, portanto, não há motivo para declarações oficiais sobre o assunto.

Em 2016, Kirill Serebrennikov, de 47 anos, recebeu o prêmio Un certain regard no Festival de Cannes pelo filme “O Estudante”. O diretor já participou de diversos protestos contra o governo do presidente Vladímir Pútin e critica a crescente influência da Igreja Ortodoxa Russa.

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