(Foto: Arquivo pessoal)
“Chega um momento em que você quer fazer um balanço da vida. Você tenta entender o que já fez e se dá conta de que sempre teve medo de fazer algo realmente grande”, disse Kharitónov à Gazeta Russa.
“Primeiro as crianças ouvem contos de fadas, alimentam seus sonhos, mas, em seguida, quando chegam à escola, são impostos diversos limites. Ao longo dos anos, vamos nos esquecendo dos nossos sonhos”, continua.
“Eu tinha uma empresa relacionada a exposições. Em determinada época, houve uma crise no setor, e eu, pessoalmente, também estava passando por uma crise. O meu trabalho deixou de ser um aprendizado e tornou-se rotina. Senti que o tempo estava se esgotando e que era hora de empreender algo. Agora ou nunca, disse a mim mesmo.”
(Foto: Arquivo pessoal)
Primeiro veio a ideia de fazer uma viagem curta. Mas, com o mapa em mãos, pensou: “Que diabos! Tenho que fazer algo realmente grande”. E foi então que Oleg começou a esboçar um roteiro no próprio mapa. Na época, os únicos que receberam bem sua proposta foram os filhos.
“Meu filho já era adolescente, naquela idade em que provavelmente queria que eu o deixasse em paz, e minha filha se encantou com a ideia de eu viajar por aí e enviar a ela fotos de borboletas, crocodilos e hipopótamos de vários países do mundo”, conta.
(Foto: Arquivo pessoal)
Preparativos para a viagem
“A verdade é que eu não estava pronto e não dispunha de aparato para realizar uma façanha dessas. Eu não tinha nem carteira para dirigir moto, nem a moto em si. Tirei o documento um mês e meio antes do início da viagem ao redor do mundo”, diz.
(Foto: Arquivo pessoal)
Oleg percebia, porém, as dificuldades que o aguardavam. Seis meses antes de partir, matriculou-se em um curso para aprender a pilotar a moto em condições extremas.
“Uma das razões pelas quais comecei minha jornada é porque queria dar um exemplo aos meus filhos. Se uma pessoa realmente quer algo, basta ir atrás”, afirma Oleg.
(Foto: Arquivo pessoal)
Apesar dos obstáculos, o russo disse jamais ter pensado em abandonar o projeto – nem mesmo quando a crise eclodiu na Rússia e o rublo entrou em colapso. “Lembro que naquela época meus amigos me telefonaram e disseram que eu tinha que voltar, que não poderia seguir adiante com um orçamento tão apertado devido à inflação.”
Segundo seus conhecidos, os seguidores de Oleg entenderiam a razão da desistência, mas nada disso foi capaz de dissuadi-lo. “Alguns diziam que nem tudo é possível e que existem obstáculos instransponíveis. Mas eu sabia que deveria continuar, eu sentia uma enorme responsabilidade pelas pessoas que tinham confiado em mim.”
Mais valem amigos do que dinheiro
A viagem de Oleg está sendo patrocinada pela Federação de Mototurismo da Rússia em parceria com a Sociedade Geográfica Russa.
Além disso, ganhou um telefone via satélite da empresa Morsviazspútnik, o que lhe permite se comunicar com amigos ou pedir socorro em caso de emergência.
(Foto: Arquivo pessoal)
Alguns dos patrocinadores desapareceram após o início da crise, quando Oleg já estava em viagem. “Se não fosse por meus amigos mais próximos, que me ajudam até financeiramente na viagem, eu não poderia continuar em frente”, diz o aventureiro.
“Em sua maioria são pessoas que conheci no caminho; 90% são compatriotas que moram em outros países”, acrescenta. Entre eles há pessoas que Oleg sequer conhece pessoalmente – apenas mantém contato on-line para aprender com suas experiências. “E não são ricos, pelo contrário. Quem que não têm muitas condições ajuda mais.”
Encontro com “pessoas maravilhosas”
Oleg não pretende quebrar recordes ou entrar para o livro “Guinness”. Isso não faz muito sentido para ele – o mais importante é conhecer pessoas.
(Foto: Arquivo pessoal)
“Nem as paisagens nem a natureza se comparam aos encontros com outras pessoas. Pessoas brilhantes que você acaba encontrando no caminho e te transformam, te ensinam alguma coisa, abrem novos horizontes e permitem novas descobertas que passam despercebidas no cotidiano”, descreve o motoqueiro russo.
Oleg não fala qualquer língua estrangeira – nem mesmo inglês –, mas se comunica por gestos. “Quando duas pessoas querem se comunicar, elas se entenderão em qualquer idioma”, diz. “Mas também gosto de desertos, onde é possível ficar em silêncio consigo mesmo. Pode soar estranho, mas lugares turísticos não me atraem.”
(Foto: Arquivo pessoal)
Compatriotas no trajeto
Ao longo do caminho, o viajante russo também cruzou com vários russos. “Estamos espalhados por todo o mundo. Mesmo nos lugares mais remotos da África me deparei com compatriotas. E ao saberem da minha viagem, fui convidado para uma visita.”
Segundo ele, muitos russos também se ofereceram para ajudar na Argentina. “Posso dizer que esse país me acolheu de braços abertos”, conta. Em sua chegada, alguns compatriotas o esperavam “como se eu fosse um messias sobre duas rodas”, descreve, ao falar de sua uma bicicleta adaptada, com um globo e uma bandeira russa.
(Foto: Arquivo pessoal)
Chegada a Buenos Aires
Antes de desembarcar na Argentina, Oleg sabia muito pouco sobre o país: tango, vinho e carne. Mas confessa ter se apaixonado por Buenos Aires. “Tudo aqui é real e cheio de vida. Eu ando pelas ruas e admiro a arquitetura e as pessoas. As pessoas tendem a ser simpáticas e solícitas. Não percebi nenhum olhar atravessado”, diz.
(Foto: Arquivo pessoal)
Dentre todas as cidades pelas quais passou, as duas que causaram melhor impressão em Oleg foram Lisboa e Buenos Aires – e que, segundo ele, têm algo em comum.
“Os países que visitei antes da Argentina, como África do Sul e Namíbia, são bem limpos. Buenos Aires tem imperfeições, como lixo na rua, mas tudo adiciona pontos para a cidade. É um lugar realmente vivo e não esconde nada. Tem personalidade.”
Retorno para casa
(Foto: Arquivo pessoal)
Apesar de estar aproveitando a viagem, Oleg confessa que já sente vontade de voltar para casa. Após a parada em Buenos Aires, o aventureiro seguiu para Ushuaia, no sul da Argentina, onde começará o retorno para Moscou. O objetivo agora é voltar para sua cidade natal antes de 1º de setembro, quando começa o novo ano letivo na Rússia.
“Quero levar minha filha à escola, pois ela entrará no primeiro ano”, diz. Entre seus futuros planos está escrever um livro sobre suas viagens e produzir um documentário com os vídeos feitos durante sua jornada pelo mundo.
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