Viajantes na França são avisados para não reagir a pessoas da comunidade LGBT.
ReutersAntes das férias, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia decidiu lembrar aos cidadãos como se comportar no exterior, com novas recomendações. Como não ofender os moradores locais, não ser preso, não ser visto como um “mau russo”, agredido, roubado etc.
Ela inclui regras básicas de comportamento (ser amigável, não quebrar as regras, não andar em áreas perigosas ou abandonadas, não criticar a cozinha local em voz alta etc), assim como recomendações específicas para alguns países. Este ano, em particular, o ministério decidiu mudar a palavra “gay” pela frase “representantes de minorias sexuais”, algo que, mais uma vez, atraiu atenção para a cartilha.
“Não é o melhor lugar” para piadas infames
Há dois tópicos que o ministério destaca com certa urgência: “orientação sexual não-tradicional” e “cor da pele da população local”.
Em países onde haja uma grande população negra as palavras “negão” ou “preto” não devem ser usadas.
Talvez um documento oficial tenha que lidar com este tópico porque muitos russos realmente não conseguem entender porque a palavra “negão” possa ofender. Para muitos é quase o mesmo que dizer “negro” (o ministério não quis comentar, a pedido da Gazeta Russa). A lógica deles é “se uma pessoa branca não se ofende quando é chamada de branca, por que uma pessoa negra considera a palavra negro um insulto?
Muitos russos não conseguem entender porque a palavra “negão” possa ofender. Foto: AFP
Reações às minorias sexuais também demandaram atenção especial. Na Rússia ⅔ da população tem algum tipo de sentimento homofóbico, segundo pesquisas. Por isso o ministério alerta: na Espanha, por exemplo, expressar atitudes negativas em relação a pessoas com orientações sexuais não-tradicionais “não serão compreendidas pelos outros, por isso devem ser evitadas”.
No Canadá, onde casamentos entre pessoas do mesmo sexo foram legalizados há tempos, o documento afirma que há uma certa “fixação” em igualdade dos gêneros.
“Não é o melhor lugar para contar piadinhas de vestiário sobre os ‘não-tradicionalistas’”, diz o caderno.
Em cidades onde haja muitas pessoas de minorias sexuais existe o risco de ser multado, segundo o ministério.
“Não grite com os tailandeses ou bata em crianças na Noruega”
Viajantes na França também são avisados para não reagir a pessoas da comunidade LGBT. Quando visitarem o país, os russos também são recomendados a não chamar o garçom de “garçon”. Melhor usar “Monsieur” ou “Madame”. E é muito recomendado a quem não fala francês a pedir um menu em inglês ou em russo, “uma vez que tentar falar os nomes dos pratos em francês, sem saber a pronúncia, pode levar a conflito”.
O ministério também fala sobre como os canadenses possuem um sentimento de diferenciação dos americanos. O mesmo vale para holandeses e alemães: eles nunca devem ser comparados. Com os dinamarqueses, segundo o ministério, manter a distância é recomendável, evitando questões sobre salário, trabalho ou religião, assim como orientação sexual e origens étnicas. Aparentemente é melhor não perguntar coisas pessoais.
Os viajantes também devem exercer “extrema precaução” quando falarem sobre as relações entre as duas Coreias. Sobre a Noruega, apenas uma recomendação: respeitar a proibição total no país de qualquer forma de violência contra as crianças, “incluindo palmadas, tapas na cabeça ou levantar a voz”, explicam os diplomatas. Isso porque na TV russa a Noruega sempre é mencionada no contexto de suas ações no serviço social para crianças, que é descrito como “um inferno”. Na Rússia as autoridades e a Igreja não consideram palmadas em crianças uma forma de violência.
No Canadá, onde casamentos entre pessoas do mesmo sexo foram legalizados há tempos, o documento afirma que há uma certa “fixação” em igualdade dos gêneros. Foto: AFP
Também foi necessário avisar aos russos para, em nenhuma circunstância, bater na cabeça de um tailandês ou mesmo gritar com ele. Caso contrário “eles vão parar de fazer as coisas para você, mesmo se for o trabalho deles.”
Não ficou claro o porquê do ministério não dar nenhuma recomendação para os EUA. Mas para os que vão para a China vem um conselho: diga imediatamente que é russo, uma vez que, segundo a cartilha, a atitude dos locais em relação à Rússia é positiva.
“Essa brochura foi publicada há muitos anos e tudo que se pode dizer é que é assim que o ministério vê o mundo. O mundo é muito mais vasto, estas recomendações deveriam ter incluído outros aspectos. Durante uma visita os russos recebem orientações sobre as regras locais. Cada país tem suas nuances, mesmo que tenha uma cultura parecida. E as recomendações, como regra, não excluem estes detalhes sobre como lidar com minorias ou quem pode ser chamado de macaco ou não. Em alguns casos estas recomendações são atualizadas de acordo com as recomendações do ministério”, diz Maia Lomidze, presidente da Associação de Operadores de Turismo da Rússia.
Talvez as visões do ministério reflitam alguns incidentes específicos que nós não sabemos. Não sabemos se os russos enfrentam problemas pela falta de conhecimento das peculiaridades sociais e culturais de diferentes países.
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