Entre aqueles que não são contrários ao retorno da monarquia está um grande número de jovens entre 18 e 24 anos.
Alexander Vilf/RIA NóvostiUma pesquisa feita pelo Centro de Estudos da Opinião Pública da Rússia apontou que pouco mais de um quarto dos russos (28%) são a favor da volta da monarquia, mas porta-vozes do governo russo declararam que a Duma de Estado acredita que qualquer mudança de ordem seria “inconveniente” e que o presidente russo, Vladímir Pútin, também não se mostra otimista com essa ideia.
O mais surpreendente é que, entre aqueles que não se dizem contrários ao retorno do regime monárquico, há um grande número de jovens entre 18 e 24 anos. De acordo com socialistas, residentes de Moscou e São Petersburgo, usuários ativos da internet e apoiadores de partidos parlamentares formam a maioria dos monarquistas, que discutem na internet quem deveria se tornar o próximo tsar.
“Meu pai é um liberal democrata, e minha mãe e meu irmão não acompanham a política. Desde a infância eu me interesso por história e aos poucos fui me tornando um monarquista”, explica o jovem Alik Danielian, de 18 anos. Na rede social VKontakte, a mais popular da Rússia, ele lidera o grupo Enclave da Monarquia, que tem quase 14 mil membros.
Para Danielian, a razão pela qual as gerações mais jovens não são contra a monarquia é “muito simples”: as pessoas mais velhas, com seu modo de pensar comunista obtido por “lavagem cerebral”, estão desaparecendo e estão sendo substituídas por jovens capazes de enxergar os problemas da república moderna.
Participantes da Marcha da Rússia Tsarista, organizada no 400º aniversário da dinastia Romanov, em Moscou. Foto: Alexander Vilf/RIA Nóvosti
“A república não cria pessoas capazes de governar o país, ela cria pessoas que são capazes de vencer eleições, apenas preocupadas em roubar seu pedaço do bolo”, explica Danielian. O jovem está convencido de que seria diferente em uma monarquia, onde uma elite governante seria preparada para governar desde a juventude e estaria menos propensa a se envolver em intrigas para obter o poder, como ocorre hoje.
Segundo o diretor do Centro de Estudos da Opinião Pública da Rússia, Stepan Lvov, o pensamento mais recorrente entre os grupos que defendem a monarquia é que ela traria mais estabilidade ao país. Os grupos discutem se deveria haver uma monarquia absolutista ou uma monarquia parlamentarista, como acontece na Espanha e no Reino Unido. De qualquer modo, os jovens defensores da monarquia acreditam que esse regime não exclui liberdade e democracia.
“Não há mais pessoas na Rússia que viveram durante a monarquia. É por isso que a experiência pessoal não influencia hoje a visão das pessoas. Os mais jovens não possuem uma veia antimonarquista como as gerações anteriores, que aprenderam na escola que a monarquia é algo arcaico, obscurantista e mau. O ensino atual não tem como objetivo formar uma atitude negativa perante a monarquia. É daí que surgem as tendências monarquistas”, explica Lvov.
Existe hoje na Rússia apenas um partido pró-monarquia, o Partido Monarquista da Rússia, que possui 47 filiais regionais. Mas quando os monarquistas aparecem na mídia é em forma de “aldeões idiotas”, famosos por queimar livros de J. K. Rowling e Vladímir Sorôkin, invadir uma parada gay em Moscou, queimar um macaco de brinquedo em um protesto antidarwinista e planejar a compra de três ilhas de Kiribati, no oceano Pacífico, para ressuscitar a monarquia russa (o governo de Kiribati recusou a proposta milionária).
Com base nesses fatos, não é surpresa que a maioria dos russos veja os monarquistas como “performáticos”, afirma o analista político Konstantin Kalatchev.
Por ora, os monarquistas preferem “guardar suas forças e esperar”, define Danielian. Eles acreditam que podem subir ao poder em menos de 10 anos e concentram suas atividades em clubes formados por entre 15 e 30 pessoas, onde organizam debates, palestras e apresentações e discutem ideias de políticos de direita, como Donald Trump e Marine Le Pen, mas “sem fanatismo”. “A ascensão de forças de direita no mundo é vantajosa para nós. Por que não estaríamos felizes?”, resume o jovem.
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