Morally damaged racoon
Art-msk(Foto: Art-msk)
“O que você está fazendo? Devolva o sutiã para a atriz!”, ouve-se uma pessoa falando, ao risos, em uma filmagem feita por smartphone. Em uma cama king size, Tomas, o guaxinim, parece determinado a tirar o sutiã de uma jovem nua, que se esforça para pegar o objeto de volta. Esta cena faz parte de um vídeo produzido pela Art-Msk, uma agência de publicidade com sede em Moscou, em agosto de 2016.
O guaxinim havia sido alugado para a empresa pelo zoológico Animals Aren’t Toys (Animais não são brinquedo, em tradução livre), que não sabia exatamente qual seria a proposta dos publicitários. Após descobrirem que o vídeo apresentava uma modelo nua brincando com o animal, a direção do zoológico decidiu processar a agência.
Como tudo começou
De acordo com o site de notícias russo TJournal, o zoológico foi informado de que o guaxinim seria apresentado em um anúncio para uma marca de cobertores e toalhas. Dias depois, o site da Art-Msk publicou algumas fotos do ensaio nas quais a modelo aparece cobrindo os seios com o animal. “A emocionante história de amor de uma garota e um guaxinim chega em breve aos canais de TV federais”, dizia a legenda.
Os administradores da Animals Aren’t Toys exigiram a remoção imediata das fotos do site, mas o pedido foi ignorado pela agência.
(Fonte: YouTube/Art-msk)
Em outubro passado, dois meses após o aluguel, o zoológico entrou com um processo judicial contra a empresa, mas o tribunal não fixou a data para o julgamento do caso. No último dia 14 de março, os proprietários do guaxinim retomaram o processo.
Associações eróticas
Na ação contra a agência, os advogados do zoológico citam a Declaração Universal do Bem-Estar Animal (apesar de este acordo proposto ainda não ter sido adotado pela ONU e, como tal, não ter peso jurídico), segundo a qual os animais são seres com sentimentos e, portanto, seu bem-estar deve ser uma questão digna de respeito.
“E o guaxinim não pode representar a si mesmo”, alega a defesa.
A queixa principal é que “a ré infligiu dano a toda a população de guaxinins”, acrescentando que “a partir de agora, toda pessoa que assistir a esse vídeo ou vir uma dessas fotos associará guaxinins diretamente com as artes eróticas”.
O zoológico não busca recompensa financeira por meio do processo, garantem os advogados. “O objetivo é que as fotos de Tomas sejam deletadas do site da agência.”
Segundo Aleksandr Kulaguin, especialista da organização Tribuna de Proteção dos Animais, a reivindicação do zoológico é a primeira tentativa na história da Rússia de debater judicialmente a angústia emocional causada a um animal. No entanto, ele acredita haver poucas chances de vencer a batalha legal.
“Não existe um sistema coeso de direitos dos animais na Rússia – aliás, no mundo”, disse Kulaguin à Gazeta Russa. “Não há nenhuma maneira de provar que a filmagem com uma mulher nua é prejudicial para os guaxinins.”
Desculpa alternativa
Enquanto o zoológico acusa a agência publicitária de criar uma imagem de mídia negativa para os guaxinins, a Art-Msk afirma ser ela a parte lesada no episódio.
“O vídeo não é erótico, foi concebido para exibição nos canais de TV federais”, disse Valéri Bogatov, diretor do departamento de marketing da empresa, ao site Life.ru.
(Foto: Art-msk)
Segundo Bogatov, a empresa foi prejudicada uma vez que o vídeo jamais foi mostrado ao público. “O cliente que encomendou o comercial estava descontente com a polêmica envolvendo o guaxinim e se recusou a pagar pelo anúncio”, explicou.
O marqueteiro alegou ainda que a modelo também sofreu danos – após algumas tomadas, o guaxinim teria, enfim, roubado e comido o sutiã da modelo. Para Bogatov, a agência poderia agora exigir uma indenização pela lingerie perdida.
O trauma de Tomas
De acordo com os funcionários do zoológico, após a gravação, o guaxinim ficou visivelmente perturbado e mostrava um comportamento incomum: triste, passou o tempo todo na jaula e até atacou outro guaxinim.
“O pior é que começamos a notar que ele vinha tentando pegar nos seios de outros mulheres”, disse o porta-voz do zoológico, Víktor Kiriukhin, ao TJournal.
Passados oito meses, Tomas voltou a demonstrar seu antigo comportamento. “Ele está muito bem agora, é muito enérgico e alegre. No entanto, associar animais a erotismo é extremamente imoral”, acrescentou Kiriukhin.
Jogada de marketing?
Enquanto Tomas retomava sua rotina, e o zoológico dava andamento ao processo contra a Art-Msk, uma nova versão emergiu: o conflito não passaria de uma jogada de marketing cautelosamente projetada para proporcionar lucro a ambas as partes.
O canal de TV russo 360 destaca que, no anúncio publicado em junho de 2016, a agência buscava um guaxinim de zoológico para desenvolver uma “campanha promocional baseada em controvérsia”.
(Foto: Art-msk)
“Você tem um guaxinim? Você quer que o seu zoológico ganhe destaque na mídia? Você gosta de polêmica? Caso sim, entre em contato conosco!”, dizia o anúncio.
Ambos os lados refutaram essa teoria, contudo. Bogatov, da Art-Msk, diz que a controvérsia deveria acontecer após a publicação do comercial e que o drama envolvendo o zoológico atrapalhou o plano original. Já Kiriukhin, do Animals Aren’t Toys, insiste que o zoológico foi ultrajado e jamais teria cooperado com a agência se tivesse ciência da verdadeira natureza do anúncio.
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