Números de russos que aderem a tratamento homeopático cresceu 5,6% em um ano
Getty Images“A comunidade acadêmica vê a homeopatia como uma pseudociência”, lê-se em um memorando publicado na segunda (6) pela comissão para combate à pseudociência da Academia Russa de Ciências. “Sua aplicação na medicina é contrária aos objetivos fundamentais do sistema de saúde russo e deve ser combatida pelo Estado”, continua.
Embora não tenha conduzido estudo especial para chegar a tal conclusão, a Academia Russa de Ciências alega ter se baseado em vários trabalhos acadêmicos sobre o tema. O memorando foi assinado por mais de 30 cientistas e médicos.
“Inúmeras tentativas foram feitas para conferir à homeopatia uma base científica, e todos elas se mostraram inúteis”, dizem os autores, antes de acrescentar que “a eficácia da homeopatia não foi comprovada em seus mais de 200 anos de existência”.
O apelo dirigido ao Ministério da Saúde tem por objetivo que as clínicas estatais deixem de fornecer medicamentos homeopáticos e que os clientes de farmácias particulares sejam informados sobre a não comprovação da eficácia de tais drogas.
De acordo com a empresa de análise QuintilesIMS, estima-se que as vendas de medicamentos homeopáticos tenham chegado aos 7,32 bilhões de rublos (US$ 123 milhões) em 2016, o representa um aumento de 5,6% em relação a 2015.
Reação ao obscurantismo
O memorando da comissão da Academia Russa de Ciências é o mais grave ataque à homeopatia na história do país.
“Essa é uma reação ao obscurantismo em geral na medicina e na ciência, porque a homeopatia se enveredou em escolas médicas e em publicações acríticas sobre homeopatia na imprensa oficial do governo”, diz o cardiologista Artemi Okhotin, chefe do departamento de clínica média do Hospital Tarusa.
Alguns médicos já haviam manifestado críticas à homeopatia, mas era necessário agora uma “declaração conjunta e explícita”, explica Okhotin.
Os adeptos da homeopatia, como Mikhail Chkolenko, que é membro da associação profissional de médicos homeopatas da CEI, rejeitaram o memorando. Segundo Chkolenko, citado pelo “Kommersant”, a homeopatia não só funciona, “como foi usada para tratar figuras proeminentes, incluindo o tsar russo Nikolai 1º”.
A Rússia não é, porém, o único país cuja comunidade acadêmica demonstra uma postura cética em relação à homeopatia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertou contra esse tipo de tratamento alternativo em 2009.
Memorando com efeito placebo
O documento da Academia Russa de Ciências não tem vínculo jurídico e serve apenas como recomendação ao Ministério da Saúde e ao Serviço Federal Antimonopólio.
Em resposta, o ministério anunciou que criará um grupo de trabalho composto por cientistas da Academia Russa de Ciências e especialistas em homeopatia para estudar a situação e desenvolver uma política específica para esse tipo de tratamento.
O Serviço Antimonopólio, no entanto, apoiou o memorando, descrevendo-o como “equilibrado e já esperado há muito tempo”.
Apesar de a pasta da Saúde ser susceptível a aceitar as conclusões da Academia Russa de Ciências, é improvável que a homeopatia seja erradicada no país, sugere Okhotin.
“A proibição não tornará os médicos que usam homeopatia mais qualificados, e a sua popularidade entre os pacientes pode até aumentar”, diz o cardiologista. “É por isso que a aceitação do memorando será mais simbólica e mostrará que o Ministério da Saúde está comprometido com o conhecimento científico.”
‘Semelhante cura semelhante’
A homeopatia surgiu no final do século 18, quando o médico alemão Samuel Hahnemann propôs que uma substância que causa uma doença pode, em pequenas doses, ser usada para tratar a mesma doença.
“Semelhante cura semelhante”, disse então o próprio médico ao explicar sua tese. A ideia é que um princípio ativo seja submetido a uma série de processos de diluição até que sua concentração se torne mínima.
Enquanto os defensores da homeopatia acreditam que o medicamento diluído mantém a potência, os opositores estão convencidos de que o tratamento não produz efeitos.
“O principal é não usar remédios homeopáticos para tratar condições graves”, escreveu a jornalista Asia Kazantseva em um artigo sobre homeopatia para a revista “Around the World”. O Conselho Nacional de Homeopatia russo chegou a processar o veículo por difamação, mas perdeu o caso.
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