Com abrigos lotados, animais já castrados têm sido recolocados nas ruas
Iliiá Pitalev/RIA NôvostiNatália Tchekina, voluntária no abrigo Scherbinka, em Moscou, atende mais um telefonema de moradores do distrito Novye Cheremushki. “Eles não querem deixar um cão congelando na rua, mas não sabem o que fazer com ele”, explica.
Os termômetros lá fora marcam -13ºC, mas, em pouco tempo, Natália chega ao local com sua amiga Evguênia. Elas entram em contato com o serviço municipal, que rapidamente aparece e dá um tranquilizante ao cão para que seja levado ao abrigo.
O cachorro está com fome, assim, quando acordar, não é muito difícil fazê-lo aceitar os biscoitinhos que lhe dão. “Eu tenho certeza que um cão tão bonito em breve encontrará um dono amoroso”, diz Natália. Com um extensa rede de voluntários, ela garante muitas vezes conseguir encontrar um novo lar para os animais abandonados.
Poder do voluntariado
No entanto, esse final feliz nem sempre é o caso.
“Meu trabalho começou há um bom tempo, quando vi um cão na rua com uma ferida na cabeça, e ele se aproximou de mim”, lembra Natália. Comovida, cuidou de Lada (como mais tarde nomeou seu novo amigo), levou o cão para uma clínica veterinária, e pagou por sua estadia e por todo o tratamento médico necessário.
Natália então encontrou um canil onde Lada poderia ficar bem aquecido e alimentado até que encontrasse novos donos. No entanto, como muitas vezes os abrigos não têm mais espaço para novos animais, ela teve de fazer todo o trabalho por conta próprio e achou interessados em adotar Lada pela internet.
“Ela ficou tão gorda”, brinca Natália, mostrando as fotos recentes do cão ao lado de seus novos donos. Pouco a pouco, o ativismo pelos direitos dos animais foi crescendo e, eventualmente, ela criou o site sobaka-ufzao.ru e um grupo nas redes sociais. A equipe, recrutada pessoalmente por Natália, conta hoje com cerca de 60 voluntários.
Alguns ativistas trabalham com redes sociais, fazem acordos com atores e espaços para eventos de caridade, ou buscam potenciais lares para os cães. A maioria, entretanto, transforma-se em guardião de um cão especifico do abrigo – e deve alimentá-lo e passear com ele até que uma casa permanente seja encontrada.
Isso, porém, nem sempre é fácil, porque os cães de rua devem primeiro se acostumar com os seres humanos, e, por vezes, superar traumas passados relacionados a maus-tratos. Mesmo quando um dono é encontrado, o animal não é imediatamente entregue.
Cachorros recolhidos nas ruas recebem comida em abrigo Foto: Divulgação
“Damos um tempo para as pessoas pensarem e conhecerem melhor o animal”, explica Natália. Depois de ter encontrado lar para um cão, os voluntários recolhem outro animal, e o processo toda começa novamente.
Além disso, canis, coletores e tratamento exigem investimento considerável, de modo que os voluntários publicam as fotos de cães no site com suas contas médicas junto e convidam o público a contribuir com as despesas. Mas dar dinheiro não é a única maneira de ajudar. Os interessados podem contribuir usando seu próprio carro para transportar um animal ou fornecendo abrigo provisório.
Caçadores nas ruas
Desde 2008, a cidade de Moscou tem uma política de castração de animais de rua que vivem em abrigos por um período de tempo indefinido.
Esses locais, entretanto, são poucos e geralmente lotados. No Scherbinka, por exemplo, há mais de 2.000 cães. Com gatos, a situação é ainda mais complexa porque os felinos exigem alas especiais com aquecimento.
Além disso, Moscou retomou em 2016 a experiência de soltar cães castrados para que vivam livremente nas ruas. Esses animais podem ser identificados por rótulos amarelos anexados às suas orelhas.
Mas nem todo mundo está feliz com a presente situação, e muitos recorrem a métodos desumanos para se livrar dos animais libertados. Para os autointitulados caçadores de cães, que costumam usar comida envenenada, os animais transmitem doenças transmissíveis e representam perigo para a saúde pública.
“É difícil lutar contra isso”, lamenta Natália. “A legislação referente a maus-tratos dos animais é fraca, e é improvável que eles sejam multados se forem pegos”, completa.
Os voluntários podem apenas compilar listas de pessoas que adotaram um animal, mas não cumpriram com suas obrigações. Seus nomes e números são inseridos em um banco de dados unificado para impedi-los de maltratar outros animais no futuro.
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