Petição on-line contra monumento reuniu mais de 80,5 mil assinaturas
Vladímir Astapkovitch/RIA NôvostiA instalação de um monumento ao grão-duque Vladímir, que introduziu o cristianismo ao Principado de Kiev (precursor da Rússia) em 988, será inaugurado na Praça Borovítskaia, ao lado do Kremlin, nesta sexta-feira (4), em meio a inúmeras polêmicas.
A instalação da nova estátua, com quase 17 de metros de altura, tornou-se, desde a primeira proposta, motivo de protestos e discussões acaloradas.
Entre os opositores, uma das principais críticas foi a falta de expressividade de Vladímir, o Grande para Moscou, já que a primeira menção conhecida à cidade remonta ao ano de 1147, isto é, um século após a morte do grão-duque.
Historiadores também ressaltam a crueldade de Vladímir, que, ao subjugar a cidade de Polotsk, no ano de 980, estuprou a filha do príncipe local, Rogneda, e, em seguida, a obrigou se tornar sua esposa. Vladímir também matou o pai e dois irmãos dela com as próprias mãos.
Os críticos do projeto salientam ainda o aspecto político da instalação do monumento, que pode ser associado ao presidente russo Vladímir Pútin. Segundo o jornalista Oleg Káchin, por exemplo, o monumento poderia ser visto como “um tributo ao seu influente xará”.
Além disso, na versão original, a escultura iria superar em altura o monumento de 20 metros erguido em Kiev também em homenagem a Vladímir. Em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, isso demonstra, segundo os observadores, um possível gesto político.
Petição on-line
A ideia de instalar a estátua partiu da Sociedade Histórico-Militar (RVIO, na sigla em russo), que atua sob o comando do ministro da Cultura russo Vladímir Medínski. A ideia era inaugurá-la na celebração do milênio da morte do grão-duque, em 4 de novembro de 2015.
No entanto, o concurso para selecionar a concepção do futuro símbolo aconteceu apenas no ano passado. O monumento originalmente aprovado, com 24 metros de altura, foi apresentado pelo escultor russo Salavat Scherbakov e pelo arquiteto Vassíli Danílov.
Dos 24 originais, estátua terá apenas 16,8 metros Foto: Vladímir Smirnov/TASS
A RVIO pretendia instalá-lo ao lado da Universidade de Moscou, na área da reserva natural Vorobióvi Góri (Colinas dos Pardais, em russo). Porém, devido à probabilidade de deslizamento, não foi permitido que a escultura de 300 toneladas fosse colocada às margens do Rio Moscou .
Uma petição contra a instalação do monumento foi elaborada por moscovitas e ativistas da proteção do patrimônio histórico, reunindo mais de 80,5 mil assinaturas.
Em decorrência disso, a prefeitura propôs uma votação on-line para selecionar o local dentre uma série de opções no centro da cidade: a marginal Moskvoretskaia e as praças Lubiánskaia e Borovítskaia. A última alternativa venceu e foi também aprovada pela Comissão sobre Arte Monumental da Duma de Moscou (Câmara Municipal de Moscou).
Os ativistas alegam, porém, que a área no cruzamento das ruas Mokhovaia e Známenka, onde será erigida a estátua de Vladímir, está incluída na zona de proteção do Kremlin de Moscou e qualquer nova construção é proibida.
Alerta da Unesco
No início deste ano, a Unesco (braço da ONU para cultura e educação) alertou as autoridades russas que, em caso de recusa das consultorias sobre construção de paisagem histórica e a não conformidade com os requisitos da Convenção relativa à proteção do patrimônio, o Kremlin de Moscou poderia perder o status de monumento de importância mundial.
Os autores do monumento concordaram em reduzir suas dimensões: o príncipe tem agora 12,2 metros de altura, e todo o monumento, incluindo a cruz, não excederá 16,8 metros.
Integrantes da Arkhnadzor, uma associação de cidadãos que contribui para a preservação dos monumentos históricos e paisagens de Moscou, avaliam como mínima a probabilidade de o Kremlin perder o status de Patrimônio Mundial da Unesco.
“Todas as prescrições da Unesco dirigidas às autoridades de Moscou foram de natureza oral – na verdade, elas não estão registradas em nenhum lugar e não implicam em qualquer obrigação da parte daqueles que irão instalar esse monumento. Portanto, simplesmente não existe qualquer fundamento formal para aplicação de sanções pela Unesco”, diz Rustam Rakhmatúllin, coordenador do movimento social Arkhnadzor.
A Rússia deverá enviar, até 1º de dezembro, um relatório ao Centro do Patrimônio Mundial da Unesco apresentando os resultados da instalação do monumento em homenagem ao príncipe Vladímir.
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