Réplica de David instalada para promover "Michelangelo: A Criação"
Peter Kovalev/TASSUma réplica da lendária estátua de David, colocada em frente a uma igreja de São Petersburgo como peça de divulgação de uma mostra dedicada a Michelangelo, foi coberta após reclamações de que o “gigante nu deforma a alma das crianças”.
“Por que colocaram esse cara sem calças no centro de São Petersburgo, perto de uma escola e de uma igreja?”, escreveu um morador local ao Comissário para os Direitos da Criança. Nem mesmo o apoio da escola e da igreja foram suficientes, porém, para deter o cidadão indignado.
Os peterburguenses irão agora decidir o destino da estátua, e os moradores podem enviar ideias sobre como vestir a escultura de maneira mais original. Um protesto, intitulado “Vista David” também já foi organizado.
“Eu acho que um paranja [roupão da Ásia Central para mulheres e meninas] será perfeito”, brincou uma pessoa em uma carta. “Sugiro vestir a estátua como um arlequim, com sinos para um toque kitsch”, disse outra. Cobrir as partes íntimas da estátua com a reclamação impressa, cueca e até traje Jedi estão entre sugestões enviadas por quase 200 pessoas até então.
A maioria das mensagens, porém, pede às autoridades para “não serem influenciadas por cretinismo” e “não deixarem o Golias da intolerância derrota David”.
Esta é, inclusive, a opinião do organizador da exposição, Maksim Volkov. “Mas, caso contrário”, diz ele, “vamos cobrir David artisticamente, para conferir significados novos à obra”.
Brincadeira, pudor e política
A ideia de vestir monumentos na Rússia não é nova. A estátua de Apollo no Teatro Bolshoi, em Moscou, por exemplo, recebeu oficialmente uma folha de figueira em 2011. Em geral, a prática de vestir esculturar faz parte de uma brincadeira, mas também já houve episódios de protestos políticos e outros casos de intolerância.
Este é o caso do monumento ao poeta russo Aleksandr Púchkin no centro de Moscou, que, em 2012, ganhou temporariamente uma balaclava em apoio às Pussy Riot.
“Esses atos têm ressonância e, no nosso caso, é necessário”, diz Vladislav Gultiaev, artista de Krasnoiarsk, na Sibéria, que colocou máscaras de gás em dezenas de esculturas por toda a cidade em junho de 2016, na esperança de chamar a atenção dos moradores locais para a situação ecológica na região.
Púchkin recebeu balaclava em referência à banda punk Pussy Riot, cujas integrantes foram presas após protesto em uma catedral Foto: Tatiana Romanova/RIA Nôvosti
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