Russos multiplicam comunidades on-line para compartilhar comida

Proprietários de pequenos comércios tem ajudado a impulsionar movimento por meio de contribuições diárias

Proprietários de pequenos comércios tem ajudado a impulsionar movimento por meio de contribuições diárias

Aleksandra Liogkaia
Moradores de Moscou São Petersburgo e Sibéria lutam contra o desperdício por meio de grupos em redes sociais. Iniciativa tenta fazer a ponte entre empresas e os necessitados.

“Jogar pão fora, mesmo velho, traz conflitos e pobreza”, diz uma antiga superstição russa. Segundo estimativas das Nações Unidas, porém, a cada ano cerca de um terço de todos os alimentos produzidos no mundo (1,3 bilhões de toneladas) acaba indo parar no lixo.

Por que jogamos fora produtos válidos e em perfeito estado para o consumo se eles podem ser úteis para alguém? Um movimento originado na Alemanha, e que recentemente vem se espalhando pela Rússia, pretende justamente coletar os produtos que algumas pessoas não desejam mais consumir e oferecer-lhes gratuitamente a necessitados.

“Somos um projeto estritamente não comercial, até mesmo a troca de alimentos é proibida” explica a peterburguense Aleksandra Liogkaia, de 26 anos. Em dezembro de 2015, Liogkaia fundou uma comunidade chamada “Food for Free” (Comida de Graça) na rede social russa VKontakte, onde desde então mantém um projeto pioneiro na Rússia.

Até o momento, o projeto já conta com mais de 20.000 assinantes, dando origem a comunidades semelhantes em outras regiões do país, como Sibéria, Tatarstão e Carélia.

O sistema de compartilhamento de comida é muito simples. O doador coloca um anúncio na comunidade do VKontakte com o seu endereço e o produto. O primeiro a responder à publicação ganha então o direito de receber o produto doado. “Não há preferências sociais, o que importa é a velocidade”, diz Liogkaia.

O critério objetivo da velocidade foi estabelecido para evitar que os alimentos fossem decididos pelo talento literário das pessoas, segundo os organizadores, alegando que alguns usuários começaram a publicar “histórias demasiadamente sentimentais”.

A iniciativa de Liogkaia é, porém, apenas a ponta do iceberg. O próximo passo é combater o volume excessivo de desperdício de hotéis, restaurantes e fábricas, já que os compartilhadores de alimentos russos ainda têm dificuldade de estabelecer contato com grandes empresas.

O exemplo está partindo de padarias e pequenas lojas em Moscou, São Petersburgo e Krasnodar, já envolvidas no processo. “Em uma loja de Krasnodar, eles ficaram tão animados com a ideia que queriam enviar os seus produtos excedentes a Moscou”, conta a fundadora da comunidade.

Food sharers' ‘trophies.’  Source: Alexandra LyogkayaAlimentos válidos que seriam descartados encontram destino pela internet Foto: Aleksandra Liogkaia

Doadores

Segundo os organizadores da iniciativa na Rússia, é impossível traçar um perfil exato de quem se dispõe a compartilhar alimentos. O movimento envolve de estudantes e aposentados a empresários, que, na maioria das vezes, visam à proteção do meio ambiente e ao uso racional dos recursos. Em algumas cidades, os líderes também promovem o veganismo.

O subgrupo de São Petersburgo também mantém ligações próximas com outras organizações vegetarianas e ecológicas russas, e é também graças a organizações mais consolidadas que o compartilhamento de comida tem aumentado em proporção meteórica no país.

Em alguns lugares, porém, o lado social da questão tem maior peso. “Muitos dos nossos participantes são estudantes, e eles sabem o que significa equilibrar as contas para chegar ao fim do mês”, diz Nadejda Medvedeva, fundadora de uma comunidade com o mesmo propósito em Tomsk, a 2.800 km a leste de Moscou.

Food sharers' ‘trophies.’  Source: Alexandra LyogkayaPerfil dos doares e receptores varia conforme região Foto: Aleksandra Liogkaia

Já em Voronej, a 450 quilômetros ao sul da capital, os excedentes de alimentos são recolhidos por voluntários com a ajuda do Exército da Salvação. Ainda assim, o compartilhamento de alimentos na Rússia tem um longo caminho pela frente: “Muitas pessoas têm medo das opiniões dos outros, que podem presumir que você toma as doações”, diz um ativista de Almetievsk, a quase mil km de Moscou.

“Sem uma promoção séria das comunidades on-line, as pessoas não fazem praticamente nada, elas não querem nem receber comida”, diz Ekaterina Travuchkina, que fundou o movimento em Novosibirsk. Hoje, são inseridos diariamente, pelo menos, uma dúzia de anúncios nas principais comunidades on-line no país.

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