Mulheres são impedidas de exercer profissões na Rússia

No Exército russo, por exemplo, mulheres não podem ser tanquistas

No Exército russo, por exemplo, mulheres não podem ser tanquistas

Photoxpress
Oficialmente, mais de 450 postos são vetados ao sexo feminino no país, mas a lista pode ter ainda mais cargos.

De acordo com a Constituição e o Código de Trabalho da Rússia, homens e mulheres têm direitos iguais e devem receber remuneração igual por trabalhos equiparáveis. Mas, de acordo com dados da  Organização Internacional do Trabalho, elas recebem um salário 63% menor que o deles e, em ambientes competitivos, os empregadores dão preferência ao sexo masculino.

Nocivas e perigosas

Em 2000 o governo russo emitiu uma lista de profissões cujo acesso é vetado às mulheres. São trabalhos considerados "pesados" e sob condições "nocivas" ou "perigosas". A lista é composta por 456 profissões.

"O governo está certo em se preocupar com a saúde das mulheres e não permitir que elas se envolvam em trabalhos que implicam riscos", diz a presidente do movimento "Unidade Feminina", Vera Plotnikova.

As russas não podem, por exemplo, exercer a função de maquinistas ferroviárias, caminhoneiras, tratoristas, mergulhadoras, paraquedistas, bombeiras, carregadoras de bagagem, mecânicas de aviação, técnicas montadoras, trabalhadoras em matadouros, manipuladoras de couro, madeireiras, entre outros. Também escalando os rankings do Exército é difícil para as mulheres, mas nota-se alguma melhora nos últimos anos.

"Anteriormente, por exemplo, não se aceitavam mulheres na polícia de fronteiras ou na aviação. Agora, o caminho está aberto para elas e em muitos corpos de cadetes as meninas já são aceitas, o que significa que não existe um dogma, que as coisas podem mudar e que talvez amanhã as mulheres já possam conduzir tanques", diz Plotnikova.

Em muitos países do mundo, a situação é similar - se não nas leis, pelo menos na prática. Nos EUA, por exemplo, quase 99% dos pedreiros, mecânicos de ônibus e caminhões, montadores de linhas elétricas e linhas de alta tensão, assim como reparadores de eletrodomésticos, são homens.

Sem chefas

Além da lista de profissões proibidas oficialmente, existe outra, não oficial, de cargos que têm acesso quase impossível às mulheres. A Rússia ainda não teve, por exemplo, nenhuma mulher presidente ou premiê. Até o momento, de um total de 22 ministros federais, apenas uma é mulher. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a porcentagem de mulheres na Duma (câmara dos deputados da Rússia) é de apenas 7,7%.

"É a teoria posta na prática do ‘quanto mais poder, menos mulheres’. Mas o respeito pela igualdade de gênero joga apenas em benefício da sociedade. Se pelo menos 30% dos postos de chefia fossem ocupados por mulheres, a política ganharia uma orientação mais social,  aumentam os gastos para atender às necessidades sociais, já que os homens gastam mais com a Defesa", diz a presidente da União Social-Democrata das Mulheres da Rússia, Marina Milovanova.

Segundo um estudo da Deloitte Touche Tohmatsu, a proporção de mulheres nos conselhos de administração de empresas públicas russas está, neste ano, em 5,7%, enquanto, na Noruega, em 36,7% e, na França, em 29,9%. Nas empresas russas pesquisadas não havia nenhuma mulher nos conselhos presidenciais, enquanto na Itália, país que se gaba de ter o maior número de mulheres nesses postos, elas representaram 22,2% do total nacional.

"O efeito do ‘teto de vidro’ é real. As mulheres chegam até certo ponto, ocupam posições de liderança de nível mediano, mas sua passagem para o topo da chefia é muito rara. Na Europa, luta-se com essa desigualdade com sistemas de cotas em posições de liderança para as mulheres. Somos a favor a essa estratégia, que, por enquanto, ainda não existe na Rússia", diz Milovanova.

Um estudo do VTsIOM (Centro Russo de Opinião Pública), realizado também em 2015, revelou que 19% dos russos acreditam que os homens têm mais direito à atividade profissional que a mulher; 20%, que os homens têm mais direito a ter salários correspondentes ao cargo; e 19% que os homens têm mais direitos às atividades sociais e políticas. Segundo sociólogos,são justamente os estereótipos que impedem a superação da desigualdade de gênero na Rússia.

 

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