Sírios encontram respiro na Rússia

Maior parte dos que receberam asilo no país são circassianos sírios, originários do Cáucaso do Norte e expulsos de seu território na guerra russo-caucasiana.

Maior parte dos que receberam asilo no país são circassianos sírios, originários do Cáucaso do Norte e expulsos de seu território na guerra russo-caucasiana.

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Além dos poucos que usam o país como rota para UE, sírios encontram abrigo temporário na Rússia, que lhes concede vistos para estudos e trabalho com relativa facilidade.

Neste ano, mais de 150 refugiados sírios entraram na Noruega por meio da fronteira russa, de acordo com o jornal russo “Vedomosti”. O número é modesto, considerando-se que 500 mil buscaram refúgio na Europa no período, mas ainda assim significativo.

A Rússia ainda é caminho para os sírios, mas especialistas acreditam que tanto o número dos que passam por ali partindo para Europa, como o dos que permanecem no país ainda seja pequeno.

De acordo com documento divulgado pelo Serviço Federal de Migração em 4 de setembro, encontram-se hoje na Rússia cerca de 12 mil cidadãos sírios. Desses, dois mil receberam asilo temporário; 4.691 estão inscritos no registro de migração; 2.666 pediram residência temporária e 2.029 receberam essa.

A maior parte dos receptores de asilo, porém, pertence ao grupo étnico dos circassianos. Originários de região que hoje compõe o Cáucaso do Norte, no sul da Rússia, muitos partiram para a Damasco otomana durante a guerra russo-caucasiana (1763-1864), quando a Turquia os apoiava contra o Império Russo.

Outra grande quantidade de circassianos, de maioria sunita, fugiu para a Síria após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando foram expulsos das 12 vilas fundadas em Israel após dispersão anterior.

De 2011, quando o conflito sírio se iniciou, até 2014, já eram 1.600 os circassianos sírios refugiados na Rússia.

Mas, apesar dos dados oficiais, o número de sírios na Rússia pode ser muito maior: ainda em 2009, o Ministério da Migração da Síria falava em 25 mil cidadãos do país vivendo na Rússia.

“Para os sírios em geral, receber um visto para a Rússia é muito mais fácil e mais barato do que para qualquer país da Europa. Por isso, como vêm com visto, os sírios que vêm para cá não são refugiados formais, parte dos que vieram para o país para trabalhar agora não tem para onde regressar”, explica a defensora dos direitos humanos Svetlana Gannuchkina.

A opinião dela é compartilhada por outros especialistas em migração, que afirmam que muitos sírios fugindo da guerra entram no país com vistos de estudante e de trabalho.

“Conheci no aeroporto um grupo de meninas sírias que tinham vistos de um ano na Rússia. Elas diziam ter vindo aprender russo. Mas me pareceu que elas se agarraram à única oportunidade de fugir da guerra”, disse à Gazeta Russa o jornalista sírio Munzer Hallum, que vive em São Petersburgo.

O aumento do número de estudantes sírios na Universidade Russa de Amizade dos Povos, divulgado pela vice-reitora Olga Andreeva, corrobora a ideia. Se em 2013 eles eram 162, em 2014 subiram para 190 e, para o ano letivo de 2015, que se inicia em setembro, prevê-se que sejam 208.

Segundo Hallum, os sírios que chegam à Rússia se dividem em três categorias: os que estão em trânsito, e cujo objetivo final é a Europa; os universitários, que após os estudos querem permanecer no país; e aqueles que já vivem na Rússia já há muito tempo e que, aproveitando a onda geral, também pretendem partir para um país que lhes dê melhores condições de vida.

“Os refugiados sírios não não querem ficar na Rússia porque aqui não recebem benefícios sociais, habitação ou trabalho. E, claro, também é muito difícil conseguir a residência”, explica Hallum.

O presidente do movimento “Declaração de Damasco no Exterior”, Mahmoud al-Hamza, confirma as dificuldades encontradas pelos sírios no país.

“A Rússia recebe muito poucos refugiados da Síria e também concede pouca ajuda. Durante a adaptação no país, eles passam por procedimentos muito difíceis e precisam pagar propinas. Soube de casos em que, logo na fronteira russa, interrogavam os sírios para saber qual seu ponto de vista político e quais regras islâmicas eles obedeciam. Na Europa, há uma atitude completamente diferente”.

Exceção?

Baseado na Rússia, Hamza afirma que é difícil usar o país como caminho para a Europa. “As pessoas costumavam vir para cá com esse objetivo, mas eram enganadas por falsos atravessadores, que tomavam seu dinheiro e depois desapareciam do mapa”, diz.

Hamza chegou à Rússia em 1974, formou-se em matemática e partiu para países árabes como professor. Quando seu filho estava em idade para ingressar na universidade, mudou-se novamente com ele para Moscou, onde se encontravam quando eclodiu a guerra civil na terra natal.

Escasseando

Gannuchkina, porém, diz ser pouco provável que o número de refugiados sírios oficiais ultrapasse os 10 mil.

“Em 2012, quando a agência para refugiados da ONU se dirigiu aos governos de todos os países-membros da Convenção dos Refugiados para que suspendessem as deportações de sírios, a atitude das autoridades russas foi muito correta, e passou-se até mesmo fazer documentos para eles. Mas, quando enormes quantidades de ucranianos começaram a chegar ao país em 2014, os sírios foram praticamente esquecidos”, conta.

 

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