A revolução das bicicletas

Alguns russos já vão trabalhardiariamente de bicicleta,mesmo no inverno.

Alguns russos já vão trabalhardiariamente de bicicleta,mesmo no inverno.

Reuters
Número de bicicletas em Moscou aumentou de 1.500, em 2014, para pelo menos dois milhões, em 2015, de acordo com a prefeitura.

Para quem vive um inverno em que os termômetros ultrapassam os 25 graus positivos, pode parecer difícil de acreditar, mas a gélida Moscou, assim como São Paulo, começa a viver a revolução do cicloativismo.

US$ 9,4 mi

foram investidos na construção de ciclovias desde 2011 em Moscou. Até 2016, 90 km de vias serão recapeadas e ganharão ciclovias.

Um dos indícios dessa tendência é que a demanda por bicicletas na capital russa aumentou drasticamente nos últimos cinco anos. Hoje, Moscou conta com 150 pontos de aluguel, que deverão chegar a 300 até o final do ano.

Além das agências de aluguel, a cidade tem 755 estacionamentos para bicicletas, e ciclovias começam a aparecer em alguns bairros.

“Pedalo há mais de três anos”, conta a engenheira balística Anna Konstantínova. “Tenho uma bicicleta com várias marchas e um cesto na frente para colocar minhas coisas. Para percorrer a distância de 5,5 quilômetros da minha casa até o trabalho, eu costumava gastar 40 minutos. Agora, com a bicicleta, preciso de apenas 25 minutos. Por isso, passei a ir de bicicleta para o trabalho mesmo durante o inverno.”

200 km

de ciclovias já foram criadas na capital russa, mas grandes distâncias entre centro e bairros são difíceis com proibição no metrô.

Ela explica que pedala seguindo estritamente as regras de trânsito, ou seja, mantendo-se na pista da direita, e nunca a mais de um metro de distância da calçada. Segundo Anna, os carros mal estacionados dificultam a vida dos ciclistas na cidade, já que atrapalham sua passagem. Outro fator que poderia ser melhorado é a quantidade de estacionamentos para ciclistas, que ainda é pequena.

“Por causa disso, temos que acorrentar nossas bicicletas a cercas e postes, o que ainda incomoda os pedestres”, diz.

Segundo Konstantin Trofímenko, pesquisador sênior do Instituto de Política de Transportes da Escola Superior de Economia, os meios de transporte não motorizados ganham popularidade não só na capital, mas em São Petersburgo e na Rússia Central e Sibéria.

“Quem adere são principalmente jovens e pessoas que se importam com o meio ambiente e um estilo de vida saudável”, diz o especialista.

Proibição no metrô

A editora literária moscovita Oksana Agápova vai de patinete ao trabalho. Mas isso só acontece entre maio e setembro. “Quando a neve derrete, chego ao trabalho em um terço do tempo habitual: no inverno, levo 15 minutos a pé de casa até a estação de metrô, mas de patinete só preciso de 5”, conta.

“Os engarrafamentos e os estacionamentos pagos tornam insustentável o uso de carro. Por isso, para mim, esse é o melhor meio de transporte. No momento, ele supera até a bicicleta, porque é proibido entrar com ela no metrô”, explica.

Segundo o criador do movimento em prol dos direitos dos transeuntes “União dos Pedestres”, Vladímir Sokolov, quando uma pessoa anda de patinete, ela ainda é considerada pedestre, por isso pode se deslocar pela calçada, o que torna esse meio mais seguro do que a bicicleta.

“Os ciclistas têm que ir pela rua ou ciclovia, se houver. Mas as ruas russas geralmente não são seguras. Os carros passam voando, a 80 quilômetros por hora, e ainda há poucas ciclovias”, explica.

"Quem adere são principalmente jovens e pessoas que se importam com o meio ambiente e um estilo de vida saudável”, diz o especialista. Foto: Vladímir Astapkovitch / RIA Nóvosti

Para Sokolov, um passo importante para que o movimento dos ciclistas possa se difundir na Rússia é a redução da velocidade máxima permitida em vias urbanas para 40 a 50 quilômetros por hora.

Além disso, enquanto a bicicleta goza de popularidade em países asiáticos devido ao custo e, em países europeus, devido à facilidade, já que o trabalho e áreas de lazer ficam a distâncias geralmente inferiores a cinco quilômetros, na Rússia, a proibição de bicicletas no metrô ainda cria empecilho.

A projeção soviética das cidades russas acaba tornando muito grande a distância entre o trabalho e as áreas de lazer e os bairros residenciais. “Percorrer de 10 a 20 quilômetros de bicicleta para ir dos bairros ao centro ainda é pesado, por isso as pessoas raramente usam a bicicleta como seu principal meio de transporte”, explica Trofímenko.

Status x sustentabilidade

A urbanista Rada Konstantínova é cética quanto à possibilidade de que a bicicleta substitua os automóveis. Segundo ela, se a bicicleta conseguir desiludir 5% dos motoristas quanto à eficácia de seus automóveis até 2045 será uma vitória.

“A maioria dos russos hoje tem medo de andar de bicicleta porque os carros passam a altíssimas velocidades, e muitos também ficam incomodados por ter que respirar a poluição dos carros, que não faz nada bem à saúde”, explica.

O clima seria outra barreira. “Esses transportes alternativos na Rússia só são viáveis durante o calor. Não podemos esquecer que o inverno russo é tão frio e tem tanta neve que a única coisa que as pessoas querem é 
sair correndo para o metrô e para seus carros para não congelar o nariz”, diz Konstantínova.

Mas um fator pouco citado no atraso da ciclorrevolução no país é a ostentação do carro como símbolo de status. E, em uma cidade que reúne o maior número de bilionários do mundo, após décadas de privações, exibir um automóvel ainda é importante para muitas pessoas.

 

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