Armed Russian soldiers wearing camouflaged uniform negotiate an assault course in the Scout Trail competition in Koltsovo Firing Range, at the 2015 Army Games, an international event organised by the Russian Defence Ministry.
Yevgeny Kurskov / TASSGuimri é um povoado de montanha no distrito de Untsukulski, na República do Daguestão. Desde os anos 1990 se estabeleceram nessa região vários grupos armados ilegais que realizam regularmente operações contraterroristas. Mas, muitas vezes, essas iniciativas não são bem-vistas pelos locais.
A operação especial mais recente foi realizada em junho passado e resultou na morte de dois terroristas por homens das unidades federais. Ao contrário de quando acontecem ações informais, os locais elogiaram a empreitada das forças armadas.
“Eles foram muito profissionais. Pelo visto, tinham informações confiáveis”, diz Saguid, nativo da aldeia que até pouco tempo atrás atuava como ativista social. Saguid parece saber do que fala: ele mesmo foi forçado a mudar de casa para salvar a vida. “Mas é claro que não dá para comparar essa operação especial com aquela de Vremeni [povoado localizado no mesmo distrito de Untsukulski”, acrescenta.
O intervenção no povoado de Vremeni teve início em setembro de 2014 e durou mais de dois meses. Nesse intervalo, embora os homens das forças de segurança tenham eliminado sete supostos terroristas, 16 casas particulares sofreram explosões.
Além disso, os alicerces de edifícios residenciais foram minados em busca de abrigos terroristas, e hoje três prédios estão abandonados com risco de desabamento.
“Por que fizeram isso com a gente? Antes de anunciarem a operação, nunca ninguém tinha disparado nada aqui. Durante dois meses fomos torturados. E agora não nos ajudam com nada”, reclama uma moradora de Vremeni que não quis ser identificada.
Durante a iniciativa, o povoado foi cercado por arame farpado e cada morador com mais de 14 anos de idade passou a ser identificado por um número. “Tiraram as impressões digitais, tomaram amostras de DNA e nos obrigaram a passar em frente a uma câmera de vídeo para gravar o nosso modo de caminhar”, conta a local.
Os aldeões numerados eram, segundo a mulher, usados como escudos humanos e enviados na frente quando havia necessidade de verificar se o edifício estava vazio.
Desculpa sem desculpas
Histórias com grande carga emotiva são ouvidas da boca de diversos moradores locais. Mas o que mais indigna os aldeões é a maneira com que os homens das forças de segurança atuam – quebrando casas, jogando móveis na rua e pichando paredes – sem uma razão concreta.
Em carta enviada ao presidente russo Vladímir Pútin, os moradores da região se queixaram da atuação dos agentes e entraram com um pedido de ajuda do governo federal. Procurada pela Gazeta Russa, a Procuradoria do Daguestão afirmou que o apelo está sendo analisado, mas que ainda não foi tomada qualquer decisão sobre o caso.
Na tentativa de justificar as ações, o órgão declarou que membros de grupos ilegais se escondiam em instalações subterrâneas fortificadas e, devido à ameaça de explosão, os artefatos explosivos foram destruídos “nas casas onde eram guardados, causando também danos nos edifícios adjacentes”.
Os moradores e ativistas não aceitam essas explicações como causa para a destruição de suas casas. “Normalmente, os homens das forças de segurança justificam suas ações dizendo que os artefatos encontrados tiveram que ser explodidos no local. Mas há motivo para duvidar disso em alguns casos”, diz a consultora da ONG International Crisis Group na Rússia, Varvara Pakhomenko.
“Quando as pessoas voltam para casa e veem pichações ofensivas nas paredes, isso mais parece uma operação punitiva do que uma luta com o crime clandestino”, continua.
Além disso, é cada vez mais comum a prática de detenção e revistas de fiéis muçulmanos, especialmente salafistas. “Eles são detidos em lugares públicos, chegam a invadir suas casas”, conta Pakhomenko. “Essa situação provoca muitas vezes irritação e incompreensão por parte da população local.”
Novos inimigos
Dois anos atrás, Pútin assinou uma lei que previa indenizações por danos resultantes de ato terrorista a serem pagas “pela pessoa que comete o ato e também por parentes e outras pessoas cuja vida, saúde e bem estar dependem das ações realizadas”.
Por enquanto é difícil avaliar o efeito dessas medidas, ainda mais considerando a existência de diferentes estimativas.
De acordo com o Gabinete do Procurador-Geral, o número de crimes com caráter terrorista no Daguestão teria subido de 220 em 2011 para 307 nos primeiros cinco meses de 2015.
Já a edição on-line do jornal “Kavkazki Uze”, que se baseia em cálculos próprios, aponta que “no Daguestão, em 2014, o número de vítimas de conflitos armados diminuiu em mais de 50%”. Segundo o veículo, 208 morreram nessas condições em 2014, contra 695 em 2012.
A contradição entre os resultados se deve, segundo os especialistas, às alterações introduzidas ao texto da legislação antiterrorismo.
No ano passado, a lista de crimes que se enquadram na definição de terrorismo foi ampliada e passou a englobar assassinato com motivação política e organização de protestos em massa, por exemplo. A nova redação permite, inclusive, processar uma pessoa por “simpatia, recrutamento ou outro envolvimento” em atividades terroristas.
Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: