Número de pobres no país volta a crescer, após anos de retração Foto: Reuters
De acordo com um relatório do Serviço Federal de Estatística (Rosstat), 16 milhões de pessoas ou 11% da população russa estava abaixo da linha de pobreza em 2014. No entanto, especialistas sugerem que os dados oficiais são subestimados e que uma a cada cinco pessoas poderá cruzar a linha da pobreza ao longo deste ano.
“Pelas avaliações alternativas, de 25 a 40% dos cidadãos se consideravam pobres há um ano. É claro que 40% é um exagero, mas 30% é um número bastante plausível”, disse à Gazeta Russa Elena Kisseleva, especialista do Instituto de Pesquisa Estratégica Integrada.
Para medir o nível de empobrecimento da população, os analistas comparam o rendimento dos cidadãos com o salário mínimo, que é visto como o valor mínimo necessário para garantir a subsistência. Hoje, esse mínimo é de 8 mil rublos por mês (US$150) por pessoa.
“Desde 2000 até pouco tempo atrás, a quantidade de pobres no país vinha diminuindo. Mesmo durante a última crise [em 2008], o número de pobres não havia aumentado significativamente”, disse Kisseleva. “Mas agora tudo irá mudar.”
Os salários e rendimentos estão diminuindo, assim como o número de empréstimos quitados no prazo estabelecido. “Cresce o número de pessoas que contraem um segundo ou até um terceiro empréstimo para pagar os anteriores”, acrescentou a especialista.
O diretor do Instituto de Política Social da Escola Superior de Economia, Serguêi Smirnov, concorda que as pessoas estão empobrecendo mais rapidamente do que sugere o Rosstat. “Em um ano que o país está sob sanções, só a cesta básica encareceu, em média, 20%”, afirma.
Novos pobres
Ao contrário do que se pensa, a pobreza russa não tem relação direta com o índice de desemprego no país. “O problema é que um número significativo de pessoas possui remuneração próxima ao salário mínimo ou um pouco maior do que ele”, explicou Kisseleva. De acordo com as estatísticas oficiais, esse grupo corresponde a 13% dos trabalhadores.
Segundo Leonti Bizov, pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Academia de Ciências Russa, hoje é impossível viver na Rússia apenas com aposentadoria ou salário mínimo. “Esse é um fator muito importante do qual fugíamos há 15 anos, depois da falência de 1998, e ao qual voltamos novamente”, diz o sociólogo.
“O que mudou durante a crise é o fato de que agora não são apenas as pessoas com problemas sociais que estão integrando a classe dos chamados pobres”, continua Bizov. “É difícil abandonar aquilo que era acessível antes, por isso, as pessoas sentem-se consideravelmente mais pobres, mesmo que não seja bem assim.”
O relatório anual da chefe da comissão para a promoção da sociedade civil na Rússia, Ella Pamfilova, apresenta uma estatística ainda mais alarmante: 47% dos cidadãos, de acordo com dados da Fundação Opinião Pública, classificam a si mesmos como “trabalhadores pobres”.
Socorro às famílias
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Proteção Social da Rússia, as aposentadorias foram recentemente reajustadas em 11,4%, as pensões sociais, em 10,3%, e os subsídios para as famílias com crianças, em 5,5%.
“Mas as aposentadorias são reajustadas independentemente da crise. Prova disso é que em fevereiro elas foram reajustadas em um por cento abaixo da taxa de inflação registrada pelo Rosstat”, destacam representantes da pasta.
No último dia 23 de maio, o presidente russo Vladímir Pútin também autorizou a utilização do capital maternidade (subsídio pago pelo nascimento do segundo filho) para o pagamento de entrada na aquisição de um imóvel hipotecado.
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