‘Lei seca’ imposta pelo regime soviético completa 30 anos

Quase 6 milhões de pessoas na URSS participaram das reuniões e se manifestaram a favor da introdução da chamada “Lei Seca” Foto: FotoSoyuz/Vostock-Photo

Quase 6 milhões de pessoas na URSS participaram das reuniões e se manifestaram a favor da introdução da chamada “Lei Seca” Foto: FotoSoyuz/Vostock-Photo

Em maio de 1935, o Soviete Supremo da URSS emitiu o decreto ”Sobre a intensificação da luta contra embriaguez e alcoolismo e a erradicação da fabricação de samogon [vodca artesanal]”. A iniciativa mudou a vida da população soviética uma vez que as autoridades começaram uma ampla campanha antiálcool. Mas a medida crucial para combater o alcoolismo só foi adotada 50 anos depois.

Em 7 de maio de 1985, o Comitê Central do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) adotou uma resolução “Sobre as medidas da superação de embriaguez e alcoolismo”. Na época, a decisão foi publicada em todos os jornais e repetida insistentemente na rádio e na televisão.

“Hoje em dia, quando se tornam cada vez mais evidentes as forças criativas do sistema socialista e as vantagens do estilo de vida soviético, a rigorosa observância dos princípios da moralidade comunista e a eliminação de maus hábitos ganham importância especial. Especialmente a luta conta alcoolismo”, dizia o texto sobre a iniciativa veiculado na imprensa.

Como na época soviética os decretos e resoluções deveriam ser “apoiados por todo o povo”, quase 6 milhões de pessoas participaram das reuniões e se manifestaram a favor da introdução da chamada “Lei Seca”.


Em um dos materiais da campanha antiálcool, porcos "conversam" entre si: "Eles dizem que nós que somos porcos..."

Porém, as autoridades, destinadas a reduzir a produção de bebidas alcoólicas pela metade, não hesitaram em usar as medidas administrativas e até força para fechar as portas de fabricantes e reeducar a população.

Em Moscou, apenas 150 das 1.500 lojas de bebidas alcoólicas permaneceram abertas. A Cristal, uma das maiores produtoras de vodca na época, foi obrigada a se desfazer dos novos equipamentos importados para a fabricação de vodca, enquanto os dois maiores fabricantes de cerveja destruíram as enormes cubas utilizadas na produção da bebida.

Em lugares públicos, a polícia detinha todos os cidadãos embriagados e enviava-os para centros de desintoxicação. A embriaguez era punível com multa de até 100 rublos (o salário médio, na época, era de 150 a 180 rublos), dois meses de trabalho forçado ou pena de até 15 dias na prisão.


"Pare! É o último aviso!", lê-se em pôster de campanha soviética

Paralelamente, as autoridades soviéticas criaram a União da Luta pela Sobriedade, à qual todos os altos funcionários do Kremlin foram obrigados a se associar. Também foi lançada a revista “Sobriedade e cultura”, patrocinada pelo Estado, e todos os filmes e peças de teatro com cenas de consumo de bebidas alcoólicas foram proibidos, incluindo a ópera “Boris Godunov”, de Púchkin, em cartaz no Teatro Bolshoi.

Produção clandestina

Enquanto a população da URSS fingia apoiar a decisão das autoridades, alguns indivíduos começaram a “guerrilhar” contra a campanha antiálcool do governo soviético.


Pôster de campanha soviética expõe alcoolismo como vilão para as crianças

Os taxistas vendiam vodca a preços mais altos, e muitos cidadãos comuns construíam aparelhos para produzir “samogon” (espécie de ‘vodca caseira’, ainda mais forte que a produzida pelos fabricantes da época) a partir de caramelo, molho de tomate, rabanete e até casca de carvalho.

Álcool pela culatra

A campanha antiálcool também teve outros efeitos secundários: levou ao aumento acentuado do número de usuários de drogas e casos de intoxicação e à redução das receitas do Estado. 

Como resultado, as autoridades tiveram que aumentar a produção de bebidas alcoólicas e, em pouco tempo, o número de lojas de bebidas em Moscou acabou duplicando novamente.


"Vençamos o alcoolismo!", lê-se em pôster de campanha soviética

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