Atual onda de suicídios é creditada à falta de acesso a medicamentos de qualidade Foto: PhotoXPress
De acordo com o Ministério da Saúde da Rússia, o número de pacientes com câncer no país vem crescendo, em média, meio milhão por ano. Mas o que mais vem chamando a atenção das autoridades e da própria sociedade é o crescente índice de suicídio entre pacientes oncológicos.
Este assunto foi falado publicamente pela primeira em 2014, após o suicídio do contra-almirante da Marinha aposentado Viatcheslav Apanasenko. Na época, falou-se sobre a falta de medicamentos necessários, e sua esposa garantiu que não havia conseguido receber a medicação a tempo na clínica. Em março do mesmo ano veio a público o suicídio de mais oito doentes com câncer em Moscou.
Um ano depois, a série de suicídios se repete: no início de fevereiro passado, 11 doentes com câncer se suicidaram na capital. “Em Moscou, a situação é um pouco melhor, mas apenas 40% dos moscovitas recebem medicamentos, e esta é a mais elevada taxa do país”, disse à Gazeta Russa a diretora do projeto de ajuda a pacientes oncológicos “Sodeistvie” (Assistência), Olga Goldman.
A atual onda de suicídios é creditada à falta de acesso a medicamentos de qualidade. De acordo com a Comissão Internacional de Controle de Narcóticos, a Rússia ocupa hoje o 38º lugar na Europa no que diz respeito a acesso a medicamentos – essa posição cai para 82a quando realizada uma comparação global.
Segundo os especialistas da área, o sistema tem como objetivo combater a dependência de drogas e, por isso, o processo para obtenção de receitas é extremamente burocratizado. Para os médicos, a infração de qualquer procedimento resulta em responsabilidade criminal.
Mas existem outras dificuldades: apenas 1.600 farmácias russas têm licença para vender substâncias usadas para o tratamento de câncer. Em Moscou há 76, em São Petersburgo, apenas 9, e em algumas regiões do país elas simplesmente não existem.
Psicologia como aliada
Além dos problemas já citados, o investimento do Estado em tratamento de pacientes com câncer é insuficiente. “Há falta de dinheiro e de comunicação entre os servidores públicos”, afirma Nikolai Drónov, presidente da comissão executiva do Movimento Contra o Câncer. “Não há uma abordagem abrangente na luta contra a doença.”
Segundo Drónov, as autoridades federais não focam em questões de âmbito psicológico que poderiam ajudar os pacientes com diagnóstico de câncer. “Essas pessoas precisam do apoio de psicólogos clínicos que as ajudem a combater a doença com bases científicas e métodos clinicamente comprovados”, acrescenta o especialista.
Em entrevista à agência de notícias RIA-Nôvosti, o vice-prefeito de Moscou, Leonid Petchatnikov garantiu que o suicídio entre os pacientes oncológicos não está relacionado com o déficit de medicação, mas a transtornos mentais dos pacientes. “Inauguramos agora uma linha direta de apoio psicológico”, disse.
Nos últimos anos, porém, o apoio psicológico a pacientes com câncer foi praticado basicamente por instituições de caridade. Uma delas é o Projeto Assistência, que há tempos conta com uma linha direta para ajudar os pacientes e seus familiares.
Segundo Goldman, diretora do projeto, em 90% dos casos os doentes oncológicos entram em estado de depressão. “A presença do psicólogo reduz o estresse não só dos pacientes, mas também nos médicos oncologistas que, na falta de especialistas, são obrigados a prestar apoio psicológico aos pacientes”, ressaltou.
Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: