Moscou nunca foi tão europeia

Moscou luta para se desfazer dos piores resquícios do planejamento urbano soviético Foto: Lori / Legion Media

Moscou luta para se desfazer dos piores resquícios do planejamento urbano soviético Foto: Lori / Legion Media

Enquanto tensões políticas aumentam o abismo entre a Rússia e o Ocidente, capital russa vive a fase mais europeia de sua história de 900 anos.

Embora o mundo tenha celebrado o 25º aniversário da queda do Muro de Berlim em novembro passado, pode-se dizer que nenhuma outra grande cidade se transformou mais que Moscou desde então.

Durante a Guerra Fria, a Rússia se manteve alheia às tendências internacionais, e muitos russos tinham um estilo de vida radicalmente diferente de seus vizinhos ocidentais.

Atualmente, a cidade está passando por uma transformação geral sob o comando do prefeito Serguêi Sobiânin e luta para se desfazer dos piores resquícios do planejamento urbano soviético.

“Moscou renasceu em termos de arquitetura, espaços verdes e iluminação”, diz Justin Lifflander, americano que passou 27 anos em Moscou como empresário e editor de economia para o jornal “The Moscow Times”. “Quando me mudei, as ruas eram muito irregulares e quase sem carros”, conta. “A cidade era cinza, assim como seus habitantes.”

Quando ainda era a capital do mundo socialista, a mais importante cidade da Rússia oferecia aos visitantes ocidentais uma paisagem “mais estrangeira”. Para muitos, a primeira impressão que ficava depois do aeroporto era a de ruas largas, com poucos carros e sem publicidade. Hoje, a cidade está se esforçando para eliminar os engarrafamentos quilométricos, e as autoridades propõem medidas para reduzir a poluição visual causada pela publicidade.

Essas mudanças vêm tornando o centro da cidade mais limpo, conveniente e sóbrio – graças à proibição da venda de álcool em público depois das 11 da noite, bem como beber no metrô.

Uma pesquisa realizada pelo banco britânico HSBC recentemente indicou a Rússia como o 17o melhor país para expatriados. Cinco anos antes, a Rússia ficou classificada em 24o entre os 26 países abordados no estudo.

Renascimento do capital

Por toda a cidade, as referências ao passado soviético vêm sendo derrubadas e substituídas por versões modernas. No coração de Moscou, em frente ao Kremlin, estava o colossal Hotel Rossiya. Fundado em 1967, seu tamanho pretendia ostentar o crescente poder soviético.

Hoje, o Rossiya deixou de existir. Em seu lugar está sendo projetado um espaço público por um grupo de empresas lideradas pelo estúdio de design nova-iorquino Diller Scofidio + Renfro, responsável por importantes pontos de Manhattan.

A poucos quilômetros dali encontra-se o parque Górki, com 120 hectares. O socialista “Parque do Povo” entrou em decadência após o colapso do sistema soviético, mas agora o local abriga arte pública e oferece acesso Wi-Fi gratuito. Nos fins de semana, os moscovitas vão ali para jogar tênis de mesa e bocha, bem como fazer aulas de ioga.

Na esteira do colapso da União Soviética, em 1991, a cidade cresceu de um submundo socialista cinzenta para uma metrópole congestionada, cheia de empresários dispostos a reinventar o capitalismo com suas próprias regras. “Depois do falso estilo de vida do sistema soviético – grandes lojas sem mercadorias, pessoas fazendo fila até para comprar limão – essa renovação se aproximou da vida real, do comércio de verdade”, afirma Michele Berdy, tradutora americana que se mudou para Moscou no final dos anos 1980.

Segundo Nikolai Petrov, professor de ciência política da Escola Superior de Economia, depois que Vladímir Pútin assumiu a presidência em 2000, o aumento dos preços globais de petróleo e de gás transformaram Moscou em uma cidade com grande fluxo de dinheiro e crescimento de mercado, acompanhado por um interesse internacional em abrir lojas, empresas e hotéis. “Moscou se tornou, então, uma cidade que nunca para.”

 

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