Os problemas de adaptação na vida pós-orfanato

Falta de convívio familiar dificulta socialização de crianças e adolescentes Foto: Vladímir Péssnia/RIA Nóvosti

Falta de convívio familiar dificulta socialização de crianças e adolescentes Foto: Vladímir Péssnia/RIA Nóvosti

Voluntários de 2.000 instituições espalhadas pelo país acompanham crianças e adolescentes na tentativa de desempenhar o papel de seus pais. Porém, quando os jovens saem desses orfanatos, a grande maioria enfrenta um problema ainda mais difícil: a socialização.

Na Rússia, mais de 93 mil progenitores por ano veem seus direitos limitados ou perdem a custódia dos filhos. De acordo com o Ministério de Educação e Ciência, há no país cerca de 2.000 orfanatos, com capacidade para 650.000 crianças e adolescentes. Por crescerem em um sistema de educação coletiva, a maior parte deles acaba enfrentando problemas de adaptação à vida em sociedade.

“A vida no seio familiar é que ajuda as crianças a se adaptarem à sociedade”, frisa Elena Alchánskaia, diretora da fundação Voluntários de Ajuda a Órfãos Menores. “Todos os outros mecanismos de ajuda aos órfãos, como idas ao cinema, presentes, aulas de culinária, são muletas não adequadas a todo o mundo.”

Também não há qualquer estatística oficial sobre a socialização dos órfãos no país. Assistentes sociais acompanham os jovens de orfanatos até os 23 anos de idade. “Depois, ninguém sabe se eles se adaptaram ou não à vida. São muitas as probabilidades de que eles virem a ter conflitos com a lei, com o álcool ou com as drogas”, comenta Alchánskaia.

De acordo com a psicóloga Ekaterina Dovgan, do Orfanato n.º 12 de Moscou, o maior problema de que quem cresce em orfanato é o fato dessas crianças e adolescentes não desenvolverem vínculos verticais com adultos. “Vivendo num mundo só de ligações horizontais, confiam apenas nos colegas que ocupam a mesma posição social”, explica. “Quando adultos, poucos são os que conseguem construir uma família verdadeira.”

Em 2010, a Universidade Municipal de Psicologia e Pedagogia de Moscou realizou um estudo com crianças que passaram por orfanatos. Os dados revelaram que um quarto são filhos ou netos de pessoas que também cresceram em instituições do governo. Entre eles, 40% não quer ter filhos, embora um em cada quatro esteja vivendo em uma união estável. Quase 7% dos entrevistados têm filhos, porém, 25% deles não participam da educação das crianças.

Programas de socialização

Elena Alchánskaia salienta que, em sua experiência de trabalho com órfãos, já testemunhou casos de êxito no domínio de adaptação à vida adulta. “Conheço uma moça com um diploma de ensino superior que se está preparando para o vestibular da faculdade de direito. Leva uma vida saudável e se prepara para casar, apesar de os voluntários e assistentes sociais se terem mostrado muito apreensivos quando ela entrou na vida adulta”, conta.

A especialista está convencida de que o sucesso se deve ao fato de ela ter dado entrada no orfanato quando já frequentava a escola primária. “Fica torna mais difícil a socialização quando a criança entra no orfanato durante a primeira infância e lá permanece até aos 18 anos, sem construir relações duradouras com os adultos”, diz Alchánskaia.

Atualmente existem programas que auxiliam os adolescentes dessas instituições no processo de socialização. A fundação Voluntários de Ajuda a Órfãos Menores, por exemplo, está preparando especialistas que terão como função visitar a criança uma vez por semana, conversando com ela durante várias horas.

Há também projetos privados dedicados à socialização de órfãos que seguem o modelo de aldeias infantis. A ideia, que surgiu a partir da organização internacional SOS Kinderdorf, aplica o conceito desenvolvido pelo pedagogo austríaco Hermann Gmeiner após a Segunda Guerra Mundial. Nele, as crianças são educadas como se estivessem no seio da família. Apesar de ser uma iniciativa nova na Rússia, já existem aldeias desse tipo em seis regiões do país.

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