As minorias étnicas e os perigos que as ameaçam

Historicamente, o modo de vida das nações nativas, pouco numerosas do Norte foi condicionado pela severidade do ambiente circundante Foto: ITAR-TASS

Historicamente, o modo de vida das nações nativas, pouco numerosas do Norte foi condicionado pela severidade do ambiente circundante Foto: ITAR-TASS

Os povos nativos da Sibéria e do Norte e do Extremo-Oriente da Rússia são constituídos por pequenos grupos étnicos, cujo número varia de algumas centenas até algumas dezenas de milhares de pessoas. Desde os tempos antigos, esses povos viviam em meio a condições ambientais adversas, sem alterar o seu modo de vida tradicional. No entanto, hoje, está se tornando cada vez mais difícil para eles viver em harmonia com a natureza: as principais ameaças com que eles se deparam são a degradação do ambiente e a lenta dissolução em outros grupos étnicos.

Da ilha Sakhalin, no Extremo Oriente, até o enclave de Kaliningrado, entre Lituânia e Polônia, o território russo abriga centenas de grupos étnicos, cada um com sua própria língua, tradições e cultura. Entre esses, há cerca de 40 povos qualificados pelo governo na categoria de “pouco numerosos”, que contam com até 50 mil integrantes, e vivem em harmonia com a natureza, mesmo enfrentando as severas condições climáticas do norte do país.

A área que esses habitam é muito ampla. Enquanto os lapões (também conhecidos como sami ou saami) vivem concentrados na Península de Kola, junto à fronteira da Finlândia, os aleútes e os esquimós habitam as fronteiras mais orientais da Rússia, o leste da Península de Tchukotka e a ilha de Wrangel. Os tchuktchi e os esquimós são bastante conhecidos pela Rússia afora, enquanto os nomes de muitos outros soam estranhos para os russos em geral, como é o caso dos nganasans ou nivkhi.

Entrando em extinção

Os povos do Norte também se diferenciam em quantidade. Enquanto os nenets, que se assentam em territórios vastos na costa do Oceano Ártico e na Sibéria, podem se gabar de uma população de quase 45 mil pessoas, de acordo com o censo de 2010, seus parentes afastados enets (ou entsi) são representados por pouco mais de 200 pessoas, das quais poucas dominam a língua original do grupo.

Foto: ITAR-TASS

Historicamente, o modo de vida desses grupos foi condicionado por um ambiente severo. Hoje, esses povos continuam a se ocupar exclusivamente da caça, da pesca e da criação de cães e de renas - essa, geralmente associada ao nomadismo. Mas a urbanização invade as regiões setentrionais do país cada vez mais, e representantes de povos tradicionalmente nômades acabam assimilados nas cidades.

Durante o regime soviético, também ocorreu uma transferência compulsória dos nômades para a vida sedentária. Além disso, a degradação ambiental, combinada com o ativo desenvolvimento da indústria, também tem prejudicado o estilo de vida tradicional dos povos do Norte.

“No contexto do desenvolvimento dos projetos de petróleo e gás, é preciso esclarecer alguns pontos relacionados com a avaliação do impacto da indústria sobre o modo de vida tradicional”, disse à Gazeta Russa Grigóri Ledkov, presidente da Associação das Nações Nativas Pouco Numerosas do Norte, da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia.

Segundo ele, os interesses das grandes empresas que estabeleceram sua produção na Sibéria, no norte e no Extremo Oriente muitas vezes entram em conflito com os dos povos nativos.

O direito de pescar

Para Ledkov, a legislação vigente no país é eficaz em proteger os povos nativos do norte. “Ao contrário da época soviética, hoje ninguém insiste em que os nômades abandonem suas renas e passem a trabalhar em empresas agrícolas, por exemplo”, diz.

Mas ainda há aspectos legais que podem ser aperfeiçoados, como a facilitação do acesso a recursos naturais de caça e pesca. “Além disso, é necessário regulamentar o procedimento de determinação da identidade nacional”, diz, referindo-se à miscigenação de indivíduos de diferentes povos, que pode levar ao desaparecimento de alguns grupos.

Isso aconteceu, por exemplo, com a nação pouco numerosa dos kerek, que foi totalmente assimilada pelos tchuktchi ainda no início do século 20. O apoio e a proteção das tradições e dos costumes únicos dos povos do norte é uma tarefa de importância vital não só para os próprios integrantes desses grupos, mas também para o governo russo.

Futuro otimista 

Já Daria Khaltúrina, socióloga, etnógrafa e professora na Academia Russa de Serviço Público, é bastante otimista quanto às perspectivas para a maioria dos povos do Norte: “Hoje, esses povos apresentam uma taxa de natalidade alta o bastante, por isso não estão ameaçados de extinção. Isso permitirá que sua cultura, extremamente antiga, seja preservada.”

De acordo com ela, porém, há fatores que precisam ser levados em conta na mortalidade desses grupos. “É preciso combater a alta taxa de mortalidade apresentada pelos povos do Norte, especialmente entre os indivíduos do sexo masculino, cuja causa mais frequente de morte é o alcoolismo, e entre os bebês.”

 

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