Segurança dos estudantes é usada como justificativa para proibição de véus muçulmanos Foto: PhotoXPress
A determinação do reitor da Universidade “N. I. Pirogov”, na região central da Rússia, não foi a primeira tentativa das instituições de ensino de levar a questão religiosa para fora de seus limites. O problema veio à tona em 2012, quando a diretora de uma escola no território de Stavropol proibiu a entrada de alunas com véus na sala de aula.
Os pais das meninas recorreram ao tribunal, alegando que as ações da direção da escola contradizem a constituição da Rússia, que estabelece a liberdade de religião. O caso chegou ao Supremo Tribunal da Federação Russa, que considerou legal a proibição de hijabs nas escolas.
O tribunal determinou ainda que todas as alunas cuja entrada na escola a diretora havia proibido poderiam escolher entre aderir ao regime especial de estudos como forma básica de aprendizado – nesse caso, o aluno não precisa frequentar as aulas na instituição de ensino e desenvolve os programas de maneira independente. Outra opção dada foi se transferir para uma escola religiosa.
A discussão sobre o uso do hijab nas instituições de ensino veio com força renovada quando, no início de setembro, o uso de vestimentas religiosas ou nacionais foi proibido por determinação do reitor da Universidade Estatal de Medicina da Rússia “N. I. Pirogov”. A ordem, assinada pelo reitor Andrêi Kamkin, proíbe os estudantes de usar vestimentas que indiquem que a pessoa pertence a uma determinada nacionalidade ou religião.
“Uma coisa é quando se trata de uma escola de ensino básico, de meninas menores de idade que têm permissão de não usar o hijab”, explicou à Gazeta Russa Damir Mukhetdinov, primeiro vice-presidente da Administração Espiritual dos Muçulmanos da parte europeia da Rússia (Dumer, na sigla em russo). “Mas quando uma moça atinge determinada idade, o Islã exige rigorosamente o uso do hijab, para que não cometa um ato repreensível perante a sociedade e perante Deus.”
Em 2013, o uso do hijab foi proibido também na Universidade Estatal de Economia, Estatística e Informática de Moscou. Na ocasião, a gestão da instituição de ensino justificou a medida como necessária para garantir a segurança dos estudantes. Mais tarde, uma iniciativa análoga foi introduzida nas universidades estatais de Volgogrado, Ástrakhan e Rostov.
A introdução de um código próprio de vestuário nas instituições de ensino não contradiz a legislação federal. No entanto, semelhante ao ato normativo interno da Universidade, deve ser adotado levando em consideração a opinião dos alunos.
O diretor do Centro Analítico-Informativo “Sova”, Aleksandr Verkhovski, criticou os parâmetros das medidas e disse à Gazeta Russa que a principal razão para a introdução de iniciativa como essa é o desejo de padronizar todos os alunos. “Mas não está claro o que devem fazer agora as estudantes que professam o islamismo. Quem irá decidir qual lenço é um hijab e qual não é? Afinal, as muçulmanas usam os lenços de maneiras bastante diversas, e as mulheres não muçulmanas também. Isso conduziria à arbitrariedade”, arrematou.
Lição de convivência
Há exemplos de vitória dos estudantes muçulmanos contra as medidas impostas por instituições de ensino superior. Em abril do ano passado, em outra universidade de medicina da capital, a Universidade “Setchenov”, foi proibida, por um decreto do reitor, a realização do Salah(também conhecido como “Namaz”, se refere às cinco orações que todo muçulmano deve realizar diariamente voltado para Meca) no território da Universidade.
A regra causou indignação entre os seguidores do Islã. Porém, com o apoio de alguns professores, os estudantes conseguiram revogar a proibição em um prazo bastante curto. “A quantidade de muçulmanos em nosso país está aumentando a cada ano. Quanto mais rapidamente encontrarmos formas de convivência mútua, melhor será para todos nós”, diz Damir Mukhetdinov, vice-presidente da DUMER.
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