Desde o início de 2014, 5.848 ucranianos manifestaram o desejo de participar do programa de reassentamento Foto: Reuters
Foto: Mikhail Mordassov
A trégua entre as autoridades de Kiev e a milícia de Donbass não resultou em uma diminuição acentuada do número de refugiados ucranianos na Rússia. Nas regiões que estão acolhendo pessoas, medidas especiais estão sendo tomadas para legalizar a sua situação e ajudá-los a encontrar um emprego. Isso suscita o descontentamento de imigrantes russófonos oriundos de países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes, organização supranacional integrada por repúblicas da antiga URSS), que estão regressando à Rússia e acreditam que a presença dos refugiados está dificultando a tarefa de legalizar o seu status e encontrar um trabalho.
Para acomodar o grande fluxo de ucranianos, estão sendo organizados na Rússia locais para o alojamento temporário de refugiados, e os Centros de Emprego analisam as oportunidades de trabalho nas regiões e fornecem moradias temporárias. No território de Khabarovsk, foi decretada situação de emergência, a fim de permitir que todos os recursos regionais de reserva sejam disponibilizados para a ajuda aos refugiados. A unidade federativa de Rostovskaia, que até agora recebeu o maior fluxo de pessoas vindas da Ucrânia, já acomodou mais de 50 mil imigrantes. De acordo com dados do Serviço Federal de Imigração da Rússia (SFI), desde o início do conflito em Donbass, mais de 150 mil ucranianos entraram e permanecem no território da Federação Russa.
Os ucranianos que chegam à Rússia recebem o status de refugiados ou entram com um pedido de autorização para residência temporária em uma unidade regional do SFI. Os que desejam permanecer na Rússia podem participar do Programa de Reassentamento de Compatriotas que vivem no exterior e obter rapidamente um passaporte russo.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Regional da Rússia, desde o início de 2014, 5.848 ucranianos manifestaram o desejo de participar do programa de reassentamento. Entre eles há tanto refugiados do leste da Ucrânia quanto moradores de regiões do país que não foram afetadas pelo conflito. Após a deterioração da situação política e militar no sudeste da Ucrânia, no final de agosto de 2014, foram introduzidas alterações no programa de reassentamento, com o objetivo de simplificar o procedimento de obtenção de cidadania e emprego para os refugiados ucranianos.
A assessoria de imprensa do Serviço Federal de Imigração confirmou à Gazeta Russa que "os refugiados da Ucrânia que passaram a participar do Programa de Reassentamento de Compatriotas realmente recebem uma ajuda maior. Mas isso não significa, absolutamente, que os direitos dos compatriotas provenientes de outros países estão sendo prejudicados. Cada categoria de cidadãos que chega à Rússia tem o seu próprio conjunto de preferências. A situação que se constituiu na Ucrânia justifica plenamente o fato de o auxílio ser prestado em primeiro lugar a esses refugiados".
Ucranianos têm o direito de aceitar ou de recusar ajuda
O Programa de Reassentamento da Federação Russa é o caminho mais rápido para que os compatriotas que vivem no exterior possam obter um passaporte russo. O processo todo leva em média seis meses, dez vezes mais rápido do que o procedimento habitual de obtenção de cidadania russa, que pode durar até seis anos.
Os refugiados ucranianos que estiverem participando desse processo podem ir para uma das regiões incluídas no programa como unidades de assentamento prioritárias. Um benefício em dinheiro é disponibilizado para que os participantes do programa possam se estabelecer na região. Os participantes têm o direito de recusá-lo e procurar um emprego por conta própria, sendo que na hora de buscar trabalho eles também têm o direito de contar com a ajuda dos Centros de Emprego, onde são constituídos bancos de dados de empregadores dispostos a oferecer trabalho e um banco de dados de profissionais, onde se reúnem informações sobre as qualificações dos imigrantes.
Natália Sokolova, Ministra do Emprego, Trabalho e Imigração da unidade federativa Saratovskaia, disse à Gazeta Russa que "mais de 50% dos cidadãos que vieram da Ucrânia conseguiram empregos através dos Centros Regionais de Emprego”.
De acordo com a opinião de participantes do Programa de Reassentamento provenientes de outros países pós-soviéticos, em função do aumento do número de refugiados ucranianos as autoridades locais estão dando prioridade a eles no processo de obtenção da cidadania e busca de emprego. Os compatriotas de outros países são obrigados a esperar por um prazo mais longo para obter um passaporte russo e encontrar um emprego na região de assentamento.
Konstantin Vinogradov, vice-presidente da Comissão do Trabalho e Emprego do território de Khabarovsk não concorda que na busca pelo emprego a prioridade seja dada aos ucranianos: "Os Centros de Emprego prestam assistência a todos os compatriotas que procuram a sua ajuda, não importa de que país eles vieram. Os refugiados estão chegando à região sem meios de subsistência, por isso tentamos ajudá-los no mais curto prazo”.
"Uma das principais tarefas do Ministério do Trabalho é promover o emprego dos participantes do Programa de Reassentamento, independentemente da sua nacionalidade. Mas, em função da situação que se constituiu na Ucrânia, os empregadores estão dando prioridade à contratação de cidadãos desse país. É justamente lá que grande quantidade de força de trabalho está sendo liberada”, confirma Natália Sokolova.
Durante os três primeiros anos de existência do Programa de Reassentamento de Compatriotas, 150 mil pessoas retornaram à Rússia. Esse número é duas vezes menor do que o previsto, mas o fluxo de refugiados da Ucrânia levou a um aumento de participantes do programa. Na opinião de especialistas, isso pode ajudar o Programa de Reassentamento de Compatriotas a ganhar um novo fôlego e simplificar os procedimentos burocráticos.
Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: