Atualmente, 28% "não têm nenhuma disposição" para assumir as despesas e somente 17% estão dispostos a passar por restrições severas pela situação na Crimeia Foto: ITAR-TASS
De acordo com uma pesquisa feita em agosto pelo Centro Levada, o número de russos felizes com a volta da Crimeia ao território da Rússia diminuiu de 23% para 16% num período de quatro meses, e a quantidade de pessoas que responderam favoravelmente à decisão do governo russo de anexar a península passou para 40%, em comparação com 47% em março passado. O sentimento de justiça e o orgulho pelo país registraram respectivamente 30% e 37% entre os entrevistados, e essas proporções se mantiveram inalteradas desde a primavera (entre o final de março e o final de junho). As emoções negativas (desaprovação, protesto, vergonha) foram citadas por 9% dos entrevistados.
O Centro Levada realizou a pesquisa entre os dias 22 e 25 de agosto em uma amostra representativa de 1.600 pessoas em 134 localidades de 46 regiões. O erro estatístico não excede 3,4%.
A opinião dos entrevistados em relação à reação da Ucrânia à perda da península também mudou, e os russos estão notando uma crescente hostilidade dos vizinhos. Em agosto, apenas 9% disseram que os cidadãos do país vizinho não enfrentam sentimentos negativos em relação à Rússia. No final de março, o número era de 17%, sendo que 23% dos entrevistados acreditam que essa política provocou entre os ucranianos o ódio apenas em relação ao governo russo, enquanto 38% falam de ódio contra toda a Rússia, em comparação com 18% e 24%, respectivamente, em março.
A opinião sobre a quem deve pertencer a Crimeia mudou significativamente, e não foi a favor da Ucrânia. Apenas 4%, contra 14% em março, veem a Crimeia como parte da Ucrânia, e 15%, contra 11% em março, são a favor da independência nacional da península. Outros 73%, contra 64% em março, são favoráveis à integração da Crimeia pela Rússia.
No entanto, desde a primavera diminuiu a disposição dos russos em reduzir sua renda para que o governo possa financiar a adesão da península. Sociólogos comunicaram aos entrevistados que a incorporação da Crimeia exigirá da Rússia um investimento significativo, que afetará o crescimento dos salários e pensões e levará a cortes nos programas sociais e aumento de inflação. Em março, apenas 19% dos entrevistados se recusaram a pagar pelas ações do governo russo. Atualmente, 28% "não têm nenhuma disposição" para assumir as despesas e somente 17% estão dispostos a passar por restrições severas pela situação na Crimeia (eram 26% em março). O numero de entrevistado prontos para assumir apenas algumas despesas manteve-se em 33%, o mesmo de março.
O vice-diretor do Centro Levada, Aleksêi Grajdánkin, considera que a tendência da opinião pública não mudou, e a anexação da Crimeia ainda é vista de maneira bastante positiva. De acordo com o sociólogo, a pesquisa diz mais a respeito da deterioração da relação dos russos com a população da Ucrânia, associada não com a Crimeia, mas com a operação antiterrorista no sudeste do país.
“A alegria por causa da anexação da Crimeia já passou, mas isso não significa que os russos se arrependem”, diz o cientista político Viatcheslav Igrunov. Ele prevê que com a deterioração da situação na região de Donbas, o apoio à decisão de incorporar a Crimeia vai crescer, pois muitas pessoas acreditam que os eventos na península poderiam ter seguido o mesmo rumo que no sudeste ucraniano. Ao mesmo tempo, os investimentos na economia da Crimeia e o restabelecimento de sua infraestrutura fortalecerão uma atitude positiva quanto a essa região como pertencente a um território russo, considera o especialista.
Publicado originalmente pelo RBC
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