Países se unem no combate a drogas

Em 2013 foram apreendidos na Rússia mais de 600 quilos de cocaína de origem latino-americana Foto: Getty Images/Fotobank

Em 2013 foram apreendidos na Rússia mais de 600 quilos de cocaína de origem latino-americana Foto: Getty Images/Fotobank

Tráfico de cocaína da América Latina à Rússia aumenta ano a ano, mas droga não representa tanta ameaça como heroína.

Em operação conjunta no início de agosto, as polícias de combate ao tráfico de drogas da Rússia e do Uruguai apreenderam mais de 70 quilos de drogas ilícitas, segundo informou o chefe do Serviço Federal de Controle de Drogas russo, Víktor Ivanov. Segundo ele, aumentou nos últimos anos a quantidade de substâncias psicotrópicas vindas da América Latina.

A notícia veio na esteira da prisão, em julho, de um estudante argentino que portava 50 miligramas de maconha durante uma viagem a turismo por São Petersburgo. No país, o porte de drogas mesmo em porções mínimas para consumo próprio é considerado crime. 

Já a quadrilha detida em agosto enviava diariamente da América Latina para a Rússia cerca de 300 quilos de cocaína por meio de São Paulo e Frankfurt. Seu líder era um ex-funcionário do serviço de controle de drogas de São Petersburgo demitido em 2009. No total, cinco pessoas foram indiciadas.

Em 2013 foram apreendidos na Rússia mais de 600 quilos de cocaína de origem latino-americana. O preço da grama pode chegar a quase R$ 350 no país. 

Defesa de fora para dentro

Nos últimos anos, mudou o equilíbrio de poder dos grupos envolvidos na produção e tráfico de drogas na América Latina. Se antes a Colômbia estava no centro das atenções, agora Bolívia e Peru também se destacam. Além disso, apenas 30% da droga destinada ao exterior é interceptada, enquanto os 70%restantes atingem seu destino: Estados Unidos e Europa, incluindo Rússia.

Para melhorar esse quadro, em 2012 o serviço de controle de drogas russo organizou cursos de qualificação das unidades de narcóticos de países como Nicarágua e Peru. No total, foram treinados mais de 230 agentes.
Paralelamente, o serviço russo colabora estreitamente com a polícia de vários países da região. Operações conjuntas são realizadas com Peru, Nicarágua, El Salvador, Honduras, Costa Rica e países do Caribe.

Para Ivanov, a criação de um grupo de trabalho para o combate ao narcotráfico pelos países do Brics é um marco. No âmbito do projeto, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul irão combater a produção de narcóticos no Afeganistão. A eliminação da produção de drogas no Afeganistão e na América do Sul pode derrubar em 50% os lucros gerados com narcóticos no sistema financeiro mundial.

Afeganistão

A principal ameaça na Rússia, porém, não está na cocaína, mas sim a heroína, proveniente sobretudo do Afeganistão. Impedir esse fluxo é uma tarefa muito mais árdua, já que o tráfico de drogas para a Rússia está em expansão.

“Uma imensa quantidade de drogas provenientes do Afeganistão entrou na Rússia durante a guerra no país. Após o início da guerra civil no Afeganistão, no final dos anos 1980, aumentou drasticamente o papel da região como um dos principais produtores e traficantes de drogas. Números da ONU mostram que a produção de ópio e haxixe nas províncias controladas pelo Talibã aumentou mais de 20% nos últimos anos. Especialistas da ONU acreditam que três quartos da droga oriunda do Afeganistão chegam à Rússia e à Europa Ocidental através da Ásia Central”, explica Ivanov. 

“Países como Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Turquemenistão e Tadjiquistão se tornaram pontos de passagem das drogas provenientes do Afeganistão, Paquistão e Malásia para a Rússia e outros países europeus.”

Primeira em heroína

Em 2009 a Rússia passou a ocupar o primeiro lugar no mundo em consumo de heroína. Atualmente, 1,5 milhão de pessoas no país são dependentes de heroína, e todos os anos 250 mil crimes relacionados com a droga são investigados no país. 

No total, a polícia de combate ao tráfico de drogas estima existirem cerca de 8 milhões de usuários de drogas na Rússia. “Um exército de um milhão e meio de usuários de heroína não só consome três milhões de doses da droga diariamente, ou 1 bilhão por ano, como também comete uma infinidade de crimes para consegui-la”, afirma Ivanov.

No ano passado, anunciaram-se planos de unir as forças de países pertencentes à OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva) para buscar e destruir laboratórios e armazéns de produtores de opiáceos no Afeganistão.

Sem tratamento

De acordo com estatísticas oficiais da polícia russa de combate às drogas, até 70 mil pessoas morrem anualmente na Rússia devido ao uso de drogas. Além disso, mais de 12 milhões de russos experimentaram drogas pelo menos uma vez na vida.

O presidente da União Antidroga, Nikita Luchnikov, diz que, apesar dos esforços da polícia especializada, o número de usuários de substâncias psicotrópicas não diminui. 

“Acho que a principal causa foi o aparecimento das drogas farmacêuticas. A obtenção de drogas a partir de substâncias farmacêuticas. é uma maneira mais acessível de adquirir entorpecentes e contribui para o aumento dos usuários. Além disso, agora há uma nova onda de dependência de misturas para fumar”, disse Luchnikov à Gazeta Russa. 

A porta-voz do ministro da Saúde russo, Tatiana Klimenko, disse à Gazeta Russa que é necessário canalizar maiores esforços para o tratamento e regresso à sociedade dos usuários de drogas. 

Com nossa situação demográficanão podemos perder pessoas. Hoje,  5% dos ex-dependentes estão em programas para voltar à sociedade. De acordo com nossas estatísticas, 550 mil pessoas estão inscritas nos centros russos de tratamento de dependência de drogas. Dessas, 350 mil são consideradas doentes. As restantes são usuárias, mas não dependentes. Aqui recebemos todos os que querem recebem ajuda. Mas esses doentes não estão muito ansiosos para obtê-la”, diz.

 

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