Animais exóticos se tornam cada vez mais populares na Rússia

Pessoas que compram uma suricata ou  uma raposa nem sempre sabem o que lhes espera e muitas vezes têm que procurar um novo lar para esses bichos Foto: Vitáli Ankov/RIA Nóvosti

Pessoas que compram uma suricata ou uma raposa nem sempre sabem o que lhes espera e muitas vezes têm que procurar um novo lar para esses bichos Foto: Vitáli Ankov/RIA Nóvosti

Suricatas e guaxinins estão entre as espécies criadas por russos em suas casas, mas muitos acabam devolvidos.

Animais exóticos estão se tornando cada vez mais populares entre os moradores urbanos da Rússia. Na verdade, as pessoas que compram uma suricata ou  uma raposa nem sempre sabem o que lhes espera e muitas vezes têm que procurar um novo lar para esses bichos. Ativistas dos direitos dos animais acreditam que manter essas espécies em cativeiro é errado; já seus donos afirmam que com qualquer animal se pode encontrar uma linguagem comum.

Suricatas

Aliona mora numa cidade do norte, em Tiumen (2.120 km de Moscou). Quando era criança, ela ficou fascinada por um documentário sobre as suricatas. Mais tarde, quando soube que elas podem ser compradas e mantidas em apartamentos, ter uma suricata virou seu o sonho. "Nos artigos, os donos desses animais diziam que era um animal muito bonito e fácil de ser domesticado. Eu encontrei um viveiro, paguei e comecei a esperar até o animal chegar."

Foto: arquivo pessoal

A suricata chegou na cidade do norte da Rússia já adulta, com cerca de nove meses da idade e  sem nenhum tipo de treinamento. "Eu tive sorte de não estar trabalhando naquele momento, assim podia ficar com ela o dia todo. Ela mordia dolorosamente, se recusava  a ir ao banheiro na bandeja apropriada e depois começou a sentir que chegou a hora de se reproduzir. E onde na Sibéria eu podia encontrar um parceiro para ela?”, lembra Aliona. “E assim ela se levantava na janela e olhando para a neve da Sibéria gritava estridentemente durante todo o dia. Mais tarde, quando eu consegui encontrar uma linguagem comum com o bicho, eu tive que mudar de apartamento e foi encontrado um novo lar para minha suricata. Eu não sei por que as pessoas domesticam esses animais, se não fosse o sonho da minha infância, eu não me atreveria. Eu acho que para uma suricata é muito melhor o deserto nativo do que um apartamento na cidade", conclui.

Criadora de animais exóticos há cinco anos, Rina pensa de forma diferente. Além de uma suricata, em sua casa moram guaxinins, gatos, servais (tipo de felino) e raposas do deserto. Quando em sua casa no subúrbio houver um  viveiro, ela pretende domesticar um casal de pumas. “As pessoas sempre estão interessados em algo especial, e quando se oferecem animais exóticos que podem ser segurados na mão, isso se torna a opção preferida. Mas nessa situação é importante que a pessoa não apenas venda o bicho, mas também ensine a conviver com ele”, avalia.

Ela adquiriu a suricata que não quis ficar na cidade siberiana e conseguiu estabelecer contato com ela. "Suricatas são criaturas com seu próprio caráter. Elas não podem acostumar-se com o vaso sanitário como gatos ou andar na rua como cães.  Eu desenvolvi meus próprios métodos e os ensino a quem vendo bichos. Muitas vezes as pessoas compram esses animais e não têm ideia de como cuidar deles e como os alimentar”, explica a criadora. “Mas se fizerem tudo correto, esses animais ficam muito leais e carinhosos, como se fossem pequenas pessoinhas. O animal que chegou de Tiumen não demorou muito para acostumar-se às regras da nova casa, porque teve companhia de 15 outras suricatas e rapidamente adotou seus hábitos." Rina tem certeza de que apenas as suricatas recém nascidas podem ser vendidas, caso contrário é muito difícil educá-las.

Rina mora em Saratov (846 km de Moscou), e a paixão inesperada por criar animais raros surgiu quando ela se mudou para um apartamento grande. "Temos um apartamento de aproximadamente 200 metros quadrados e para mim os animais são um hobby e um trabalho", diz. Alguns de seus animais já foram enviados para novos proprietários em Moscou, São Petersburgo e Krasnoiarsk.

Guaxinins

Há alguns anos na Rússia, estava na moda criar guaxinins. Egor e Anton compraram seu bicho numa fazenda de peles, onde os animais são criados para a produção de peles para roupas.  Eles obtiveram os documentos (iguais aos de um cão de porte médio) e vacinas numa clínica veterinária. "Nós amávamos o nosso animal, ele era muito mais interessante do que um cão ou gato. As visitas gostavam de vir para brincar com ele. Quando estávamos andando com ele na rua, as crianças imediatamente se reuniam em torno de nós”, diz Anton.

“O animal trouxe não só alegria, mas também perdas financeiras. Uma vez, o guaxinim se fechou no banheiro e ligou a água. Enquanto ele se banhava, a água vazou nos apartamentos dos vizinhos dos andares de baixo. Tivemos que quebrar a porta para tirar o animal do banheiro e depois pagar a obra dos apartamentos dos vizinhos”, recorda. O guaxinim viveu com os jovens durante dois anos, depois começou o período de sua puberdade e o bicho se tornou muito agressivo, mordia e nem a focinheira ajudava. Por isso, os jovens não tiveram outra opção que devolver o bicho para a mesma fazenda.

Zoológicos de contato e criações em shoppings

A presidente do centro de direitos dos animais Vita, Irina Novojílova, observa que na Rússia está realmente na moda criar animais exóticos em casa, o que nem sempre é legítimo e seguro, tanto para os animais quanto para seus donos. “Não há estatística geral nesse setor, mas com base na minha experiência, posso dizer que os bichos exóticos são muito populares. Ultimamente, os pequenos  zoológicos privados ficaram muito populares, seus proprietários querem demonstrar sua riqueza dessa forma. Surgiram zoológicos em shoppings e em casas de luxo, onde não se cumprem as condições de bem-estar dos animais”, diz Novojílova.

"Há um problema com os fotógrafos que usam animais exóticos para sessões. Há alguns dias, fotógrafos de rua que levaram um crocodilo e uma jiboia para atrair clientes foram denunciados. Estes casos acontecem em toda Moscou. Agora está na moda ter os animais nos restaurantes”, acrescenta. “Há muitos lugares onde se pode alugar um animal. Começaram a abrir zoológicos de contato, onde se pode dar carinho ao animal e alimentá-lo na mão."

A ativista acredita que essa situação surgiu por causa da falta de leis adequadas. “Há 14 anos, os deputados consideraram criar uma lei sobre os animais mantidos em cativeiro, que no final não foi aprovada. Há vários atos legais separados e portanto é difícil que sejam aplicados. As normas para zoológicos também já estão obsoletas”, lamenta.

 

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