Jovens são presos acusados de colocar bandeira da Ucrânia em arranha-céu de Moscou

O Tribunal irá decidir se os roofers estão envolvidos na pintura da estrela ou não Foto: ITAR-TASS

O Tribunal irá decidir se os roofers estão envolvidos na pintura da estrela ou não Foto: ITAR-TASS

Os quatro suspeitos estão sob prisão domiciliar e se forem condenados podem cumprir pena de até 7 anos de detenção.

Na manhã da última quarta-feira (20), quem teve oportunidade de observar o topo de um dos sete "arranha-céus de Stalin” na marginal Kotelnicheskaia (via construída ao longo da margem esquerda do rio Moscou) ficou surpreso ao perceber que alguém havia pintado de azul a parte superior da estrela que coroa o edifício, formando, em conjunto com a estrela amarela, as cores da bandeira ucraniana. Também foi fixado no topo do edifício a própria bandeira da Ucrânia.

O arranha-céu não permaneceu por muito tempo neste estado: logo equipes de resgate removeram a bandeira e pintaram novamente a estrela na cor original. Além disso, um processo criminal por profanação do edifício foi instaurado pela polícia. A punição máxima por acusação de atos de vandalismo é de três anos de detenção.

Os suspeitos foram encontrados quase imediatamente: quatro jovens, entre eles duas moças, que haviam descido do telhado do edifício em paraquedas, sendo detidos logo em seguida. A partir de seus perfis em redes sociais, descobriu-se que os quatro jovens são roofers, ou seja, pessoas que praticam "passeios pelos telhados" em diferentes cidades do mundo. Além disso, eles também são aficionados por esportes radicais, incluindo base jumping (saltos de paraquedas especiais a partir de arranha-céus).

Anteriormente, todos os quatro já haviam sido submetidos à responsabilidade administrativa (tipo de responsabilidade legal que consiste na imposição, por autoridade competente, de uma sanção administrativa à pessoa que cometeu uma infração) por diversas infrações menores relacionadas com seus hobbies.

No dia seguinte após a detenção, o processo criminal ao qual eles foram submetidos foi reclassificado passando da acusação de "vandalismo" para "hooliganismo", de acordo com o qual a pena máxima não é mais de três anos e sim de sete anos de detenção. O endurecimento do processo criminal aconteceu por iniciativa da Procuradoria Geral da Rússia.

Na quinta-feira (21), o Tribunal Distrital de Taganka, em Moscou, acolheu a denúncia sobre os quatro suspeitos detidos e os colocou sob prisão domiciliar até o início do julgamento. Os investigadores haviam solicitado uma medida mais dura, ou seja, queriam que os acusados fossem colocados sob custódia.

Os jovens negam sua culpa. Na quinta-feira (21), antes da reunião do Tribunal Distrital de Taganka, um dos detidos, Aleksandr Pogrebov, declarou a jornalistas que o que aconteceu foi apenas uma coincidência. De acordo com a sua versão, ele e seus amigos não estavam saltando do topo do edifício em questão e sim de um telhado situado bem abaixo, que conseguiram alcançar depois de terem subido de elevador até o último andar do prédio. Ele afirmou que o grupo não fazia a menor ideia de que alguém havia pintado a estrela e fixado uma bandeira ucraniana no local.

Depois de saltar, os quatro jovens começaram a tirar fotos na marginal e foi exatamente nesse momento que foram detidos pelos policiais. Pogrebov disse que se ele e seus amigos fossem os autores dessa ação, é óbvio que não estariam se comportando desta maneira e teriam tentado se esconder.

Vandalismo ou hooliganismo

O Tribunal irá decidir se os roofers estão envolvidos na pintura da estrela ou não, mas muitos representantes da sociedade civil já têm dúvidas em relação ao artigo no qual eles foram enquadrados. A resolução que cita um dos quatro jovens, Aleksêi Chirokojukhov, na qualidade de acusado - cuja foto o seu advogado, Serguêi Badamchin, postou no Twitter -, foi redigida da seguinte maneira: "(os acusados) profanaram o edifício... violaram grosseiramente a ordem pública, expressando uma clara falta de respeito pela sociedade motivada pelo ódio político e ideológico". Tais ações são qualificadas tanto como vandalismo quanto como hooliganismo. "Nem mesmo o investigador dispõe de palavras adequadas", comentou Badamshin no post no Twitter.

Muitos usuários de redes sociais manifestaram indignação pelo fato de que a simples pintura de parte da estrela amarela na cor azul é vista como expressão do "ódio político e ideológico", ou seja, a utilização das cores da bandeira da Ucrânia, por si só, foi motivo para instauração de um processo criminal.

A Gazeta Russa contatou o advogado Evguêni Tchernousov, que anteriormente havia trabalhado na polícia e confirmou que é muito provável que o tribunal irá emitir uma decisão bastante rigoriosa. Tchernousov considera uma possível condenação bastante justa: "Se forem encontradas fortes evidências, por exemplo, conversas telefônicas para preparar a ação, e os réus não se arrependerem do que fizeram, é bem possível que seja pronunciada uma sentença que prevê uma detenção real".

Tchernousov acredita que os responsáveis pelo crime devem ser punidos: "Os moscovitas não aprovam tais ações, especialmente em uma situação política tão tensa. Os culpados devem receber a devida punição".

O defensor dos direitos humanos Lev Ponomarev, líder do movimento "Pelos direitos humanos" está convicto de que o caso tem um componente político e que as relações extremamente tensas entre a Rússia e a Ucrânia terão um impacto sobre o destino daqueles a quem se atribui a pintura da estrela no arranha-céu de Stalin. "Do meu ponto de vista, tal conduta poderia ser considerada como uma contravenção, as pessoas pagariam uma multa e pronto”, disse ele.

“É muito bom que como medida preventiva eles foram submetidos à prisão domiciliar em vez da prisão no centro de detenção. Porque, de acordo com minhas próprias observações, se o acusado já está preso no centro de detenção antes do julgamento, ele permanecerá preso depois dele, é um tipo de sinal para os juízes. Espero que não sejam condenados a um período longo, mas estou praticamente convencido de que devido à situação política eles não vão escapar de uma condenação", concluiu.

 

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