O segredo do sucesso são conhecimentos, livros e uma boa educação Foto: PhotoXPress
Segundo pesquisa realizada por especialistas da Academia Nacional de Economia e Administração Pública, a educação continua a ser realmente um dos fatores mais importantes para o sucesso: no grupo de renda superior, 25% dos entrevistados têm ensino superior. Em comparação, nesse grupo há apenas 9,9% daqueles que não têm sequer o ensino profissional.
Apesar disso, 46,8% dos entrevistados acreditam que a universidade desempenha um papel mais simbólico, enquanto ter bons contatos é mais importante para uma futura promoção. Dependendo da idade, as pessoas avaliam seu potencial de maneira diferente. Na faixa etária de 18 até 29 anos, os otimistas, que acreditam apenas em si e em suas habilidades profissionais, e não em “blat” (palavra russa que se refere à troca de favores), somam 28,6%; na idade a partir de quarenta anos, apenas 15% a 16%.
"Se falamos sobre os negócios na área de construção civil em Moscou, a maioria das pessoas que eu conheço conseguiram crescer por meio de bons contatos sociais. Muito menos devido ao seu zelo, conhecimento ou eficiência", disse Artem Verbitski, assistente do diretor-geral de relações econômicas externas de uma “holding”.
Como observa Verbitski, o ensino superior continua a ser um fator importante, pois sem conhecimentos, representantes de empresas não conseguem conduzir sequer negociações banais. “Mas infelizmente a maioria das pessoas que trabalham na área de construção faz sua carreira através de parentes e bons contatos.”
“Se estamos falando de uma posição que traz dinheiro, qualquer um tenta ocupá-la com algum de seus conhecidos. Funciona o princípio: ‘Eu ajudei você uma vez, você terá que me ajudar também’. Em 99,9% dos casos, a pessoa recomendada de ‘cima’ terá preferência em relação ao especialista qualificado. Eu, pessoalmente, não sei como combater isso", disse o especialista.
“Apostar em contatos pessoais é um antigo problema russo, que se expressa na má execução das leis", assegura Mikhail Chernish, diretor do setor da mobilidade social do Instituto de Sociologia da Academia Nacional de Ciências. Segundo ele, o “blat” esteve presente em todos os regimes, do pré-revolucionário até o socialista. E existe até hoje. Durante os períodos de crise e instabilidade, a situação em que posições são ocupadas por recomendação, chamadas em russo de ‘lugares de pão’, se torna mais triste. Há menos trabalho, cresce o valor de cada posição e começa a luta de ‘recursos’ por posições.”
“Blat” e Rússia
“Uma das razões pelas quais a dependência de contatos pessoais é mais forte do que, por exemplo, nos países europeus desenvolvidos, é o baixo nível de confiança mútua", diz o chefe de laboratórios da Universidade Estatal de Pesquisa da Escola Superior da Economia e do Instituto de Sociologia da Academia das Ciências da Rússia, Vladímir Magun.
Os russos confiam em relativamente poucas pessoas: família, parentes, amigos. A fronteira mais distante são os amigos dos amigos. Em uma sociedade onde não há confiança, as relações pessoais tornam-se um mecanismo universal para receber informações e tomar decisões.
"Mas há uma esfera da vida onde conseguimos desvalorizar o papel de contatos pessoais para acesso a benefícios. Refiro-me à área do comércio, onde o papel dos contatos pessoais na época soviética era imensa. Com a transição para a economia de mercado e do desaparecimento da falta generalizada de bens, todo capital complexo de conexões pessoais desvalorizou-se instantaneamente, dezenas de nomes em nossos cadernos com anotações de ‘sapato’, ‘carne’, ‘peixe’ tornaram-se desnecessários. Todos os clientes, independentemente de suas amizades com vendedores, aparecem agora na mesma situação", diz Magun.
A transição para uma economia de mercado mudou significativamente a situação no país.
Muitos especialistas estrangeiros vêm trabalhar na Rússia. De acordo com Sarah Niara (Estados Unidos), editora-chefe do departamento de mídia internacional de uma “holding” russa, a qualidade mais importante para um estrangeiro que quer ter sucesso na Rússia é calma. O profissionalismo tem e continuará a ter valor. A questão é apenas como você vai mostrá-lo.
"Há muitas características culturais e diferenças na ética empresarial e nas relações interpessoais na Rússia e nos Estados Unidos. No entanto, isso não muda o fato de que o empregador testa seu nível de confiança. E não é garantido que as pessoas ‘recomendadas’ vão mostrar bom resultado", disse a jornalista.
O “blat” só existe na Rússia?
Em qualquer lugar do mundo e em qualquer sociedade os contatos informais têm papel importante, mas em geral eles se estabelecem com procedimentos formalizados, através de outros canais de mobilidade social.
Os especialistas ocidentais têm certeza: tudo se explica por meio das raízes culturais e históricas. Em um estudo recente, "Cultura e Instituições", realizado pelo Bureau Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos, os cientistas concluíram: nos EUA, Canadá, Índia e em alguns outros países acredita-se que o próprio trabalho leva ao sucesso. No entanto, o número desses países não é grande.
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